domingo, maio 31, 2020

«La vida erizada de instantes.» Francisco Umbral

«A vida arrepiada de instantes», leio numas páginas do velho Paco que não conheci assim há tanto tempo. E o arrepio veio de dentro, do quarto onde dormem, e estendeu-se descalço no chão da sala a brincar. 
As instantâneas que vou revelando aqui amarelecerão e só algumas serão emolduradas, mas o arrepio vai por aqui ficando. É sincero, agradecido e frágil. 

Happy 90th Birthday Mr. Eastwood

sábado, maio 30, 2020

Criaram-nos tanto...

Criaram-nos tanto a necessidade de eco, de fazermos projectar a nossa voz, que não nos apercebemos de, simplesmente, nos quererem ensurdecer.

Apuntes de: "La desaparición de los rituales" (Byung-Chul Han)

La repetición como reconocimiento es por tanto una forma de cierre. Pasado y futuro se fusionan en un presente vivo. En cuanto forma de cierre, la repetición genera duración e intensidad. Se encarga de que el tiempo se demore.  (…)
A la caza de nuevos estímulos, excitaciones y vivencias, hoy perdemos la capacidad de repetición. A dispositivos neoliberales tales como la autenticidad, la innovación o la creatividad les es inherente forzarnos permanentemente a lo nuevo. pp. 20-21

Solo un demorarse contemplativo es capaz de clausurar. Cerrar los ojos es un símbolo de clausura contemplativa. La enorme afluencia de imágenes e informaciones hace posible cerrar los ojos. (…)
El imperativo neoliberal de optimización y rendimiento no permite finalizar nada. Hace que todo sea provisional e inacabado. Nada es definitivo ni concluyente. (…)
El aprendizaje vitalicio no permite finalizar los estudios. No es otra cosa que un producir vitalicio. pp. 41-42     

Hoy se moraliza a diestro y siniestro y sin parar, pero al mismo tiempo la sociedad se está embruteciendo. Desaparecen los gestos de cortesía. El culto a la autenticidad los desprecia. Los modales pulcros son cada vez más inusuales. También en este sentido somos hostiles a formas. Al parecer la moral no excluye el embrutecimiento de la sociedad. La moral carece de forma. La interioridad moral se las arregla sin formas. Incluso se podría decir que cuanto más moralizante es una sociedad, más descortés se vuelve. Frente a esta moral amorfa hay que defender una ética de las bellas formas. p. 90.

Byung-Chul Han, La desaparición de los rituales, Barcelona, Herder, 2020.

Byung-Chul Han

quarta-feira, maio 27, 2020

«La memoria me trae y me lleva...» - Francisco Umbral

La memoria me trae y me lleva sobre este asunto interesante: el distanciamiento entre Ramón y el 27, que no es cosa de la guerra sino muy anterior. Casi todos tenían una intoxicación de greguerías. Véase Pasión de la tierra de Vicente Aleixandre, allí donde dice que las viejas respiran por los encajes. Nunca negaron a Ramón pero eran escuelas literarias y sociales completamente distintas. Ramón aún creía en la bohemia romanticoide y sabatina, que cultivó toda la vida. Los del 27 eran unos señoritos universitarios que vestían como diplomáticos y habían heredado el purismo y el ascetismo de Juan Ramón Jiménez.

Francisco Umbral, Días felices en Argüelles, Barcelona, Planeta, 2005, p.182.

«Decía Eugenio d'Ors...» - Francisco Umbral

Decía Eugenio d'Ors que la primera condición para ser orador era una cierta garantía de que uno va a ser escuchado. Por eso me gusta la columna, porque nadie me interrumpe y soy escuchado por alguien, por mí mismo, hasta el final.

Cf. Francisco Umbral, Días felices en Argüelles, Barcelona, Planeta, 2005, p. 63.

segunda-feira, maio 25, 2020

Mais uma Jennifer



A atriz Jennifer Lawrence, retratada por Mark Selliger.








José Carrilho Videira

Fotografia de PLC


José Carrilho Videira (Marvão, 6 de Novembro de 1845 — Santo Antonio das Areias, Marvão, 25 de Agosto de 1905) foi um intelectual, escritor, editor e político ligado ao movimento republicano dos finais do século XIX. O seu nome é designado como proprietário e colaborador da Revista de Estudos Livres (1883-1886). O seu nome também consta da lista de colaboradores da publicação Livre Exame  (1885-1886).

Faleceu numa habitação na aldeia de Santo António das Areias, concelho de Marvão. Teve uma livraria na cidade de Lisboa e foi um intelectual, escritor, editor e político ligado ao movimento republicano dos finais do século XIX.

(Wikipédia)



sábado, maio 23, 2020

Barbara Kruger «Un cadáver no es un cliente»

Barbara Kruger interveio na imprensa dos EUA com um anúncio que duvido trazer qualquer tipo de reflexão para a administração do sr. do penteado laranja.
«Um cadáver não é um cliente» parece ser uma verdade tipo soco no estômago e talvez o seja para qualquer pessoa cuja visão do mundo não se remeta apenas para a matéria. 
Confesso que a mim apenas me fez cócegas na barriga, pois ultimamente o estômago parece estar treinado para encaixar verdades ainda mais desagradáveis do que esta. O calo ajuda-te a sobreviver, deixa-te a pele mais dura e áspera ao toque, mas não impede que envelheças e te isoles. Lá por dentro há uma tristeza assumida, porém, não quero isolar-me mais e ver como, em nome de materiais não essências, me querem afastar do que não traz lhes lucro mas para mim é essencial.
A activista de 75 anos esquece que também há um mercado para os cadáveres, mas é como o das bananas, perecedoiro. O cadáver é o derradeiro consumidor em alguns casos. Lembro-me que a minha avó Rita tinha a obsessão da roupa e do dinheiro para o funeral. Teve o fato para o caixão anos a fio pendurado no armário de contraplacado do divã. Morreu bastante mais tarde e não o levou vestido. Também não foi ela quem pagou o funeral. 
A morte é o negócio dos «Sete Palmos de Terra», brilhante série, da qual fui cliente antes do bombardeamento de séries e plataformas inesgotáveis. Cadáveres em potência somos todos, agora resta saber qual vai ser a nossa última compra. Sei que não me preocuparei com a roupa nem com o caixão para a cova porque alguém antes se preocupou por mim. Hoje entendo, perfeitamente, a minha avó Rita.
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«España es un país tan desmemoriado que hasta los que se dicen partidarios de la memoria histórica contribuyen con su sectarismo a la gran amnesia general.» Antonio Muñoz Molina

«España es un país tan desmemoriado que hasta los que se dicen partidarios de la memoria histórica contribuyen con su sectarismo a la gran amnesia general.» Antonio Muñoz Molina, «Gente que he conocido», El País (Babelia), 23/V/2020, p.15

sexta-feira, maio 22, 2020

Martin...

El día cae... como un paracaidista...

O lirismo do alfabeto...

Li, num livro com que o Pedro me enriqueceu a biblioteca, algo sobre «o lirismo do alfabeto». Continuei a leitura até ser interrompido por as brincadeiras iletradas do meu filho mais novo. Cada gargalhada distraía-me do capítulo para me mostrar que me estava a exigir mais esforço do que prazer.
Fechei-o e fiquei a olhar para eles (o outro já se juntara entretanto) e não encontrei qualquer tipo de lirismo no meu alfabeto. Talvez porque a essência não precisa de letras e todos somos expostos ao lirismo antes de qualquer grafema... 

Ai, que inveja!!!





Duas fotografias de Armando Teixeira Soares Filho, lá para os lados de Belém do Pará. A primeira, tirada na Ilha do Mosqueiro e a segunda, na Ilha dos Papagaios.



terça-feira, maio 19, 2020

Vingança retroactiva...

Cada vez me convenço mais que a memória histórica é necessária, e não vivesse eu a dois passos de uma vala comum da Guerra Civil. Contudo, cabe a quem quer fazer perdurar a honradez dessa memória impedir que se enverede por vinganças retroactivas.  

«Los silencios del escritor» - Miguel Delibes

"Hasta que no hayas amado a un animal, parte de tu alma permanecerá dormida."



"Hasta que no hayas amado a un animal, parte de tu alma permanecerá dormida."

Con estas palabras acompaña María Isabel su fotografía, realizada en Campanario, Badajoz. La niña se llama Gloria y el perro, Homer.




El mastín extremeño (San Vicente de Alcántara - Foto de Instagram)

domingo, maio 17, 2020

O ego do génio...

O ego do génio artístico diz:
«Um artista excessivamente humilde sempre será um mau artista.»
Tem 29 anos, é músico (o género não interessa) e «arrasa nas plataformas».
Na entrevista supõe-se milionário e afirma viver o confinamento como um «monge do século XVI», apesar de ter wifi em casa.
Remata com génio e menos ego:
«Não é a minha época mais zen».
É interessante ver este tipo de genialidade artística, principalmente quando diz que se não «fosse feliz, seria culpa sua e teria que fazer algo». 
O ego do génio é solitário e ainda mais o deste privilegiado em tantos dons, cujo lema, até há bem pouco, era: «foder e enfardar droga». 


Capital ético...

Estará o capitalismo disposto a aceitar esta divisa? Ou preferirá a selvajaria... 
¿Estará el capitalismo dispuesto a aceptar esta divisa? O preferirá la salvajería...

Todos no mesmo tandem...


La sinceridad de los nueve

Desde la ducha me dice:
- Yo todos los días en cama me remango el pito para que no se me pegue, no solo en la ducha.
Le contesto que lo hacía muy bien, que la higiene es fundamental, y me dejo reír, pensando en que pronto llegará la pubertad.
No hace falta esta sinceridad en el futuro. Espero que todo siga su rumbo natural de descubiertas y eso incluí su cuerpo. Deseo también que la sinceridad que les intentamos enseñar, desde la infancia, privilegie siempre la privacidad, la intimidad, algo que no predomina en esta sociedad de hipersexualidad...

«El español va o ha ido al café huyendo de un hogar poco acogedor, por lo general, y buscando la realización verbal de sus frustraciones vitales.» - Francisco Umbral

El español va o ha ido al café huyendo de un hogar poco acogedor, por lo general, y buscando la realización verbal de sus frustraciones vitales.  Todo el mundo es autoridad o la tiene en el café. El café es la conversación y la teoría que no compromete a nada.  Vale empezar un tratado de filosofía verbal o de derecho político, delante de los contertulios, e interrumpirlo para siempre, dejarlo en el aire cuando uno se ha cansado del tema o se le ha hecho hora de irse. Los cafés no han muerto, porque los ha restablecido la cafetería. Los cafés se han puesto en pie, en todo caso, y ahora la función del café la suple el cóctel de cada tarde, donde también el español vive en público, vive por los demás y para los demás, entre los demás, como ha sido siempre su vocación.
El español es torero no porque estemos en tierra de toros bravos ni porque lo lleve en el alma, como creen los turistas, sino que es torero porque necesita en torno la circunferencia de paisanos, «el valle de caras», que dijo un poeta, para sentirse seguro y triunfador.
Ser eminentemente social y eminentemente triunfal, el español es coro, en el café, del éxito verbal de los demás, a condición de que los demás lo sean del suyo.
El español necesita vivir en multitud, en olor de multitud, aunque sea olor de café, no porque sea extravertido, sino porque es introvertido hacia afuera, ya que lo que el español lleva siempre al café, o a la tertulia, a la reunión, al cóctel, no son banalidades, como el francés o el inglés, sino cuestiones tremendas: la guerra, la honra, el alma, la muerte.  O cuestiones tremendizadas, como los toros.
Y si no, ahí está ese español tipo, don Miguel de Unamuno, debatiendo en el café nada menos que la inmortalidad de su alma.  El español no va al café a solazarse, como el inglés al club, sino a jugarse la vida, la inmortalidad o el triunfo de su torero.

Francisco Umbral, Ramón y las vanguardias, Madrid, Espasa-Calpe, 1978, pp.171-172

Herberto Helder - Aos amigos


AOS AMIGOS

Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
-Temos um talento doloroso e obscuro.
Construímos um lugar de silêncio.
De paixão.

Herberto Helder



Arte Xávega, fotografia de António Tedim






André Dahmer










Beto - Água






sábado, maio 16, 2020

«Un diario es...» - Andrés Trapiello

«Un diario es como una huella digital. Todas se parecen y todas son diferentes.»

Andrés Trapiello, «Temporada de diarios», Babelia, El País, 16/X/2020

Em tempos de imobilidade muitos apercebem-se...

Em tempos de imobilidade, muitos apercebem-se que viajar e viver intensamente não têm porque estar relacionados.

En tiempos de inmovilidad, muchos se dan cuenta que viajar y vivir intensamente no tienen que estar relacionados. 

Os tipos duros andam de bicicleta (Jason Statham)

D. Miguel... Delibes

Miguel Delibes por los campos de Castilla... 

sexta-feira, maio 15, 2020

Depois de confinado...

Depois de confinado, qualquer olhar perde horizonte e adapta-se miope do mundo mais além. Se alguma coisa se compensou, só se verá na atenção com que se focará no que tem mais perto, no mundinho que o rodeia.
Cada vez vez vejo pior ao longe e sinto que o meu olhar confinado não se sente bem com o que vê ao perto.

quinta-feira, maio 14, 2020

«Folclore» de João Abel Manta, datado de 1976-77.

O director do SPN, António Ferro, vestido de minhota exibindo quadro de Amadeo de Souza-Cardoso. 
Desenho «Folclore» de João Abel Manta, datado de 1976-77.

domingo, maio 10, 2020

Nota de Hiperión...

Entre noticias de desconfinamiento, recuerdo el lamento de Hiperión: «¿Por qué se nos ha excluido del prodigioso ciclo de la naturaleza?».
Entre notícias de desconfinamento, lembro o lamento de Hiperion: «Porque é que nos excluíram do prodigioso ciclo da natureza?».

Um desenho de Almada Negreiros











sexta-feira, maio 08, 2020

Sublinho uma frase de outro...

Sublinho uma frase de outro e sei que é minha. Habitamos nessa dimensão da literatura e esquecemo-nos que aí estamos, tão preocupados com um lugar, com uma voz, uma identidade.

«Ceifeiro» - Dórdio Gomes

O pintor Dórdio Gomes ofereceu esta tela «Ceifeiro» a Miguel Torga depois de ler o capítulo que este dedicou ao Alentejo no seu livro Portugal (1950)

quinta-feira, maio 07, 2020

«La Bicicleta del Apocalipsis» - Ilustración de David Carnerero (22/IV/2020)

«El Niño del Clavel de Abril» - Ilustración de David Carnerero (25/IV/2020)

Estou perante...

Estou perante uma das pessoas mais inteligentes que conheci nos últimos tempos. É um ser humano discreto e amável. Vê-se que prefere ouvir a falar. Provoca-me admiração e receio. Receio de promover um diálogo e que a circunstância o leve a calar-se para ouvir as coisas nada inteligentes que me apetecem lhe dizer. 
O sublime também existe nestas conversas sem filosofia. Olhamo-nos com cordialidade e interesse um pelo outro. Rimo-nos, mas não falamos mais que as imprescindíveis palavras, indo cada um à sua vida. 
Penso, será que se riria como eu, quando oiço os meus filhos às gargalhadas com as suas ventosidades? Acho que sim.
Noutra ocasião perderei o medo e perguntar-lhe-ei se continua apaixonado pelas suas rosas. 

quarta-feira, maio 06, 2020

El árbol del amor...

A árvore do amor
cresce ao acaso, mas
abdica da clorofila para 
ter nos seus ramos
todas as cores do arco-íris.