(ilustração de Luís Silva)
A ti "Vó Lena". A quem devo muito mais do que
posso aqui expressar.
Hoje sinto-me como nesses domingos em que os meus pais me
iam buscar a tua casa. Triste, por te deixar a dizeres-me adeus à entrada do
pátio, enquanto eu, vazio, à espera do próximo fim-de-semana, me agarrava ao
pára-brisas traseiro do Fiat 127 do meu pai, e te via cada vez mais longe.
Ficava a certeza que no final da semana voltaria a ti e ao avô, ao pátio da
minha infância, à casa dos meus avós, onde sempre serei eu.
Hoje sei que não voltarei no próximo fim-de-semana.
O meu avô ensinou-me de menino
A subir às árvores a pulso, de que é feito um ninho.
Sem me esquecer que o olhar chega, sempre,
Sempre, primeiro, que todos os gestos,
Letrando, assim, o analfabeto saber do destino.
A minha avó ensinou-me de menino
A abrir livros avulso, pintados, aos quadradinhos,
Sem me esquecer as poucas sílabas (e escudos)
Que a custo juntava e a mão, que sempre, me dava
Tinham, têm, terão mais bem-querer que qualquer verso.
Os meus avós ensinaram-me a ser menino.
A sentir minha sua casa, no pátio a descansar
Em vizinhança, no portado do meu ser a sonhar,
Sem nunca esquecer que o cheiro da infância,
Respira, por aí, até que deus queira.
Coria, Valencia de Alcántara, Cáceres e Badajoz. (28/IV/13)