quarta-feira, julho 31, 2019
terça-feira, julho 30, 2019
"Em Silêncio" - Thomas Merton (1915-1968)
"Em Silêncio" - Thomas Merton (1915-1968)
Não te
mexas,
ouve as
pedras do muro.
Fica em
silêncio, estão
a dizer o
teu
nome.
Ouve
a vida dos
muros.
Quem és
tu?
Quem
és? De
quem
és
silêncio?
Quem (não
fales)
és tu (tal
como não falam
estas
pedras). Não
penses no
que és,
menos ainda
no que algum dia pudesses ser.
Em vez
disso,
sê o que
és (mas quem?), sê
o
impensável
que não
conheces.
Ah,
cultiva a quietude, enquanto
ainda
estás vivo,
e vivem
todas as coisas ao teu redor,
falando-lhe
(não as oiço)
ao teu
próprio ser,
falando
pela boca do Desconhecido
que está
em ti e nas próprias coisas.
“Serei,
como elas,
o meu
próprio silêncio:
e em
verdade isso é difícil. O mundo
inteiro
está secretamente em chamas. As pedras
ardem,
inclusive as pedras
me abrasam.
Como pode um homem
permanecer calmo
a ouvir
todas as coisas a arder? Como se pode
atrever a
sentar-se
ao seu lado, quando
todo o seu
silêncio
é fogo?”.
(Versão de Luis Leal)
Thomas Merton (1915-1968) |
Oh!
segunda-feira, julho 29, 2019
domingo, julho 28, 2019
sábado, julho 27, 2019
«Do I contradict myself?»
«Do I contradict myself? Do I contradict myself? Very well then I contradict myself, I am large, I contain multitudes.» Eis a imagem que tenho da poética de Walt Whitman. Pessoa encontrou no nova-iorquino uma irmandade que se desdobrou em heteronímia e que marcou a modernidade. Olho-os e o espectro é imenso, genial, brilhante. Porém, a minha visão do mundo cada vez mais sofre com o excesso de luz, tem dificuldade em focar-se em tantas imagens, em tantos pontos de merecida atenção.
Ser tudo e toda a gente, ser ou conter multidões já não é para mim (se é que alguma vez o foi e hoje o posso contradizer).
Estar entre magotes de gente leva-me à perdição do eu. Ser uma multidão é a minha impossibilidade de ser sequer uma tentativa de encontrar um qualquer eu.
sexta-feira, julho 26, 2019
quinta-feira, julho 25, 2019
quarta-feira, julho 24, 2019
Crónica: "Iberismos" de Luis Leal (in "Mais Alentejo" nº149, p.52)
Pensei: “Os Filhos de Oliveira
Martins” até era um bom título para esta crónica, faço um jogo de palavras
entre o legado do escritor e uma das suas mais célebres obras “Os Filhos de D.
João I”... Depressa me apercebi que
poderia induzir o meu caríssimo leitor em erro e remetê-lo para essa realidade
portuguesa (e espanhola também!) de um apelido valer bastante mais do que um
curriculum de excelência.
Contudo, não é sobre endogamia
sistémica que para aqui chamo o apelido Oliveira Martins. Há outros bem mais
sonantes que os do senhor Joaquim Pedro, o que não impede de estarmos perante uma
das figuras-chave da historiografia portuguesa e do iberismo de toda a
Península.
E, já que estamos a falar de
iberismo, remeto-vos, grosso modo, para três tipos: o iberismo económico (de
livre passagem aduaneira, tipo o “Zollverein” alemão); o político (monárquico,
com fusão das coroas, ou republicano, a tender para o federalismo); e o
cultural, que encontramos associado a Oliveira Martins. Isto, logicamente, se abdicarmos
do prefixo “anti” antes de iberismo, esquecendo antagonismos quezilentos.
Com apenas 25 anos, Oliveira
Martins, devido à falência da empresa em que trabalhava, ruma a Espanha para
exercer funções de administrador da portuguesa “Companhia de Minas de Santa Eufémia”,
em Córdova. Aí, a sua experiência vital de quatro anos converter-se-á nessa
aventura intelectual, de 1879, intitulada “História da Civilização Ibérica”, cuja
essência encontramos condensada neste fragmento:
“Se a geografia é a nosso ver
uma causa das graves diferenças que, segundo as regiões, distinguiram os
espanhóis na história e os distinguem ainda hoje, mantendo visíveis caracteres
etnológicos nem sempre fáceis de determinar nas suas afinidades, essa causa não
basta para que, acima de tais diferenças, a história nos não mostre a
existência de um pensamento ou génio peninsular, carácter fundamental da raça,
fisionomia moral comum a todas as populações de Espanha; pensamento ou génio
principalmente afirmado, de um lado no entusiasmo religioso que pomos nas
coisas da vida, do outro no heroísmo pessoal com que as realizamos. Daqui
provém o facto de uma civilização particular, original e nobre”.
Identificados os fragmentos da
Península Ibérica, reconhecidas as brechas, o autor concilia num iberismo que
une, mas não uniformiza. É nesta união cultural que reside o seu “génio peninsular”,
cujo entusiamo e atrevimento nos levou além de Finisterra. Este iberismo não
invalida a integridade territorial e a separação política das nações ibéricas,
sendo Portugal paradigmático. A autonomia lusa reside na vontade política de
independência e não em supostas diferenças raciais com os restantes povos ibéricos.
Apesar de Oliveira Martins jamais
preconizar futuras uniões políticas, nunca deixou de interrogar o porquê da
inviável união ibérica, questionando o tradicional nacionalismo português como
superação do espírito anexionista de Castela.
Há anos, num casamento, alguém, ao
aperceber-se da minha vida se haver encaminhado para Espanha, me chamou
traidor. A piada travestia desdém e desconsideração. O meu desprezo costuma
imperar, mas a agressividade de outrem atacou afectos indefesos além da
fronteira e ecoou, sem sabê-lo, na vida futura dos meus filhos, hoje, tão
espanhóis como portugueses. A réplica fez-se com poucas sílabas de boa gíria
náutica...
Sei que, nesse momento, o meu
iberismo se fez consciente. Também eu, com pouco mais de 25 anos, tal como
Oliveira Martins, vi o meu advir da vida, de ter nascido numa cidade à medida
do homem, que não nos esconde o que somos. Évora é lusitana, latina, árabe e
cristã e fez de mim um rafeiro alentejano, cioso do seu território, da sua intra-história,
porém, cujo rosnar protector da singularidade peninsular em nada se distingue
de um “mastín” espanhol, de um “can de palleiro” galego, de um “euskal artzain
txakurra” e de um “gos d'atura català", vasconço e catalão,
respectivamente. Fiéis às cicatrizes da Ibéria, e aos sonhos imprecisos de qualquer
rebanho/nação, guardamos uma civilização!
"Iberismos" de Luis Leal |
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