terça-feira, junho 30, 2020

Ana Sofia Paiva a cantar e a tocar adufe com crianças



Há quase três anos vimos Ana Sofia Paiva aqui. Hoje, canta e toca adufe com  crianças. E voltará para nos contar uma bonita história.


(Há mais seis vídeos em Contanário - Contos e formas de contar)



sexta-feira, junho 26, 2020

Ciclistas em Heraklion (Stefanos Spyridakis)

Glam bicyclist

Startled bicyclist


Fotografias de Stefanos Spyridakis em Heraklion, Creta, Ελλάδα




segunda-feira, junho 22, 2020

Pé-de-moleque (Chico Ferreira)


Fotografia e palavras de Chico Ferreira: Pé-de-moleque "(Huuuumm. A simplicidade da infância. Sabores à céu aberto, tão distante de um shopping..)"

Eu só conhecia a palavra das canções brasileiras e sabia que era um doce, mais nada. Eis uma bela fotografia e a ajuda do dicionário Priberam para acompanhar.

pé de mo·le·que
[Culinária] Doce de consistência sólida, feito com amendoim torrado e açúcar ou rapadura.
[Brasil: Nordeste] [Culinária] Bolo feito com mandioca, fubá, coco e açúcar.





segunda-feira, junho 15, 2020

Tudo numa semana (Luísa Ducla Soares)



TUDO NUMA SEMANA

Segunda-feira nasci,
na terça fui para a escola,
na quarta estava casado,
na quinta toquei viola,

na sexta tive três filhos,
no sábado envelheci,
no domingo veio a morte,
dei-lhe um estalo, estou aqui.

Luísa Ducla Soares



sábado, junho 13, 2020

Três medidas de tempo

Três medidas de tempo. Uma abandonou a pobreza da terra de origem para prosperar num vale que não a esquecerá. Outra, frugal como os pássaros, foi leal aos passos por esses campos fora, sempre acompanhada pela navalha na algibeira. E a mais recente, numa guerra longínqua, camuflada de pátria e sem qualquer razão de ser, pulsou  num jovem com pouco mais de dezoito anos que sobreviveu para ser pai.  
Quando meço o meu tempo, estar ciente do de quem me precedeu, ajuda-me. Ainda mais se essas pessoas me confiaram os tesouros com que mediram o seu tempo.

De 13 de junho a 13 de junho


Um poema que foi mal lido (“Assim sem a máscara.” por “Assim sou a máscara.”) durante muito tempo para este 13 de junho de 2020.


Depus a máscara e vi-me ao espelho...
Era a criança de há quantos anos...
Não tinha mudado nada...

É essa a vantagem de saber tirar a máscara.
É-se sempre a criança,
O passado que fica,
A criança.

Depus a máscara e tornei a pô-la.
Assim é melhor,
Assim sou a máscara.

E volto à normalidade como a um terminus de linha.

11/8/1934

Fernando Pessoa / Álvaro de Campos


Poesia (Álvaro de Campos). Edição de Teresa Rita Lopes. Assírio & Alvim, Lisboa, 2002.



quarta-feira, junho 10, 2020

"Sie entfernen uns, oder?"



They will remove us, right?
Nothing lasts forever!


Street Art by NEA. Hamburg

Fotografia de michael_hamburg69


terça-feira, junho 09, 2020

Sempre me tocava com o indicador no peito...

Sempre me tocava com o indicador no peito e me dizia ali era um sítio especial. Sentia umas ligeiras cócegas a acabarem num abraço e num beijo que foi ficando cada vez mais alto.
Quando me lembro de tudo o que nos quis  ensinar, sobressai o tanto que gostava de estar comigo, de, como dizia, passar tempo connosco.
Um dia, quando na televisão passava um filme da Segunda Guerra Mundial em que se queimavam livros, disse-me que não eram os livros que estavam a arder, sim a liberdade. Usou o indicador e apontou para outro sítio com tristeza. 
Não apontava por apontar. Se o fazia era como nos dizia, para nos lembrar a beleza assinalada e não para acusar. Preocupava-se com a brutalidade dos tempos e foi tão imperfeito quanto os dias que viveu. Mas o seu dedo continua a apontar para esse sítio especial e faz cócegas à ausência, como um membro amputado que já não existe e ainda se vai sentido. 

Um pastor transmontano acompanhado pelo seu mastim... (Um recorte de jornal do qual não retirei os créditos fotográficos...)


sábado, junho 06, 2020

Estou sentado no chão da varanda...

Estou sentado no chão da varanda da casa que alugámos para passar fim-de-semana. Dá para uma estrada nacional que percorri centenas de vezes há menos de dez anos, sem a minha imaginação sequer conceber que um dia, um qualquer fim-de-semana duma era que me nego a pronunciar, eu estaria sentado no chão de uma varanda à sombra duma árvore e duma pérgola a necessitar um tratamento na madeira.
Estou aqui, sem imaginação e a ouvir as pessoas, de novo, a confraternizarem na esplanada. 
Aqui, a natureza vive a meias com a pequena zona industrial do «pueblo». Os pássaros cantam nos ramos enquanto a rebarbadora corta o metal, o carro muda óleo e filtros e as crianças andam de bicicleta. Gosto de estar aqui e, apesar da pérgola estar a necessitar de bondex, os nós das travessas são agradáveis ao toque e agradecidos à vista.
Amanhã é dia de voltar para casa. Voltarei a contemplar a estrada que fez de mim quem sou? Não sei. 
Apenas sei que quando comecei a escrever esta nota era outra pergunta que me afligia:
Serei capaz de viver à margem da actualidade? 



«Quercus Suber» y Castillo de Luna

«Quercus Suber» y Castillo de Luna (Alburquerque). Patrimonios de la raya.
«Sí, [este] es un paisaje hecho de tiempo, donde puede percibirse el poderoso latir de la historia, y algo del eco de otras historias más humildes que se perdieron y que ya nadie, nunca, contará.» Luis Landero (El balcón en invierno, p. 50)

sexta-feira, junho 05, 2020

Tandem Bicycle



State Library of Victoria, Melbourne.




Fernanda de Castro - A velha



A VELHA

A Velha tinha uma saia
de remendos de vida remendada
e um lenço branco de cabelos brancos
na cabeça cansada.

A Velha tinha uma cara
de fomes e de penas amassada,
e um corpo todo aos nós de árvore seca,
de planta mal regada.

A Velha tinha um olhar
de estrela morta, de luz apagada,
e duas mãos de terra por lavrar,
de cortiça queimada.

A Velha tinha uma voz
de fio de água, de fonte calada,
e uma boca sem dentes e sem lábios,
de estátua mutilada.

A Velha tinha uma alma
de farrapos de vida alinhavada.
A Velha tinha uma alma
e não tinha mais nada.

Fernanda de Castro




segunda-feira, junho 01, 2020

Exaustos-e-correndo-e-dopados



Artigo de há quatro anos, mas acho que vale a pena ler.

Exaustos-e-correndo-e-dopados

Na sociedade do desempenho, conseguimos a façanha de abrigar o senhor e o escravo no mesmo corpo

ELIANE BRUM
4 JUL 2016

Nos achamos tão livres como donos de tablets e celulares, vamos a qualquer lugar na internet, lutamos pelas causas mesmo de países do outro lado do planeta, participamos de protestos globais e mal percebemos que criamos uma pós-submissão. Ou um tipo mais perigoso e insidioso de submissão. Temos nos esforçado livremente e com grande afinco para alcançar a meta de trabalhar 24X7. Vinte e quatro horas por sete dias da semana. Nenhum capitalista havia sonhado tanto. O chefe nos alcança em qualquer lugar, a qualquer hora. O expediente nunca mais acaba. Já não há espaço de trabalho e espaço de lazer, não há nem mesmo casa. Tudo se confunde. A internet foi usada para borrar as fronteiras também do mundo interno, que agora é um fora. Estamos sempre, de algum modo, trabalhando, fazendo networking, debatendo (ou brigando), intervindo, tentando não perder nada, principalmente a notícia ordinária. Consumimo-nos animadamente, ao ritmo de emoticons. E, assim, perdemos só a alma. E alcançamos uma façanha inédita: ser senhor e escravo ao mesmo tempo.

(Artigo completo em El País - Brasil)


Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Coluna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos, e do romance Uma Duas. Site: desacontecimentos.com






Las paralelas...

El paralelismo tiene siempre alguna intersección. ¿No los ves mirándose de reojo?

A propósito de greguerías...

«Lo malo de las greguerías es que todas pagan royalties a Ramón» - Andrés Trapiello

Ramón Goméz de la Serna y las banderas



Las banderas en piedra blanca que rematan los arcos y los monumentos son banderas de paz, porque la piedra no puede admitir nacionalismos en su pura esencia eterna. 

Ramón Goméz de la Serna

Publicada en la revista Blanco y Negro el 14 de julio de 1935)


(Pintura de Frederick Edwin Church, Partenón, 1871)