Sempre me bati para que os portugueses não tenham o típico discurso do país pobre e subdesenvolvido que não pode contribuir com nada mais, a não ser futebol, fado e Fátima, para o mundo e, muito menos, que possa influenciar a sua vizinha aqui na península. Efectivamente, Portugal é um país médio (a vários níveis e dependendo do ponto de comparação) que tem a mania colectiva que é pequeno. Porém, a pequenez não é nada mais que uma atitude.
Pouco se sabe acerca do sistema educativo espanhol em Portugal. Muitos pensam que é muito mais avançado que o português, que os profissionais estão melhor preparados e que quem trabalha no sistema possui “uma galinha de ovos de ouro” que trocou há menos de uma década as pesetas pelo euro. Enfim, esta é a opinião de muitos e, por cá, muitas vezes opinião é sinónimo de exactidão científica.
Vamos lá tentar “esmiuçar” (como está na moda!) um pouco do sistema educativo espanhol:
1º- É tutelado pelo Ministério da Educação Espanhol, mas administrado nas regiões autónomas pelas “consejerías de educación”. Logo, o sistema está descentralizado.
2º- Para ingressar na profissão docente não há as típicas listas como em Portugal, existe sim um concurso de oposição, com várias fases e com um tribunal que permite, em teoria, o ingresso dos melhores profissionais no sistema.
3º- Em inicio de carreira um profissional em Espanha aufere um ordenado superior, mas no final da carreira são os portugueses que se encontram no topo da tabela.
4º- O ensino obrigatório são 10 anos e, de momento, até aos 16 anos, podendo-se aprovar um aluno por imperativo legal, esquecendo o expediente académico.
5º- Em Espanha, não existe a especialização docente dos cursos via ensino como existe nas universidades portuguesas. Para tentar “opositar” ou fazer parte da lista de “interinos” (para preencher as vagas existentes nos sistema educativo), basta fazer o “CAP”, uma espécie de Certificado de Aptidão Pedagógica (mas sem curso de formação de formadores) que se pode obter com uma assinatura sem nunca ter pisado o chão de uma sala de aula.
As elações que daqui podemos tirar são variadas mas eu retenho apenas uma. Os sistemas não são perfeitos e há vantagens e desvantagens de um lado e outro da fronteira. E, para quem trabalha na educação, não há relvas mais verdes no quintal de ninguém.
Mas desengane-se quem pensa que Portugal não exporta tendências educativas (para além de profissionais muito bem preparados cientifica e pedagogicamente, algo que nunca nos lembramos)!
Hoje, o ministro da educação espanhol, Ángel Gabilondo, referiu numa entrevista que se deve começar a pensar ampliar a educação obrigatória até aos 18 anos. Para consolidar a sua sugestão, recorreu ao exemplo do seu vizinho Portugal.
Pessoalmente, sou totalmente contra a ampliação da escolaridade obrigatória. O que está por detrás são unicamente cifras, números, percentagens, que tem por base relatórios PISA ou da OCDE. Aumentar os anos de estudo não é sinónimo de maior democratização do ensino, muito menos de igualdade de oportunidades, embora aparente que assim o é.
O facilitismo e a ausência de mérito no ensino em Portugal e em Espanha são evidentes, sendo muitíssimos os problemas que daí advêm. Se queremos facilitar um direito estatal, de cidadania, temos de responsabilizar, e tendo em conta que esse não é o caminho seguido, simplesmente oponho-me. Oponho-me a que a instituição escola seja cada vez mais um armazém de seres humanos “obrigados por lei”, onde o querer aprender está há muito olvidado. Será que o querer aprender, o ensino não obrigatório, é um inconveniente para um governo? Não queria entrar nessas teorias da conspiração “holliwoodescas”, mas a sociedade sempre tendeu mais para a criação de guetos do que para premiar o mérito de quem quer buscar conhecimento.
Com isto não quero ser um arauto da desgraça e espero que todas estas novas reformas sejam bastante positivas nos dois países, mas não deixo de me perguntar: como conseguiremos ensinar e educar para a adversidade, quando tudo, aparentemente, é rápido, fácil e grátis?