Nos últimos anos temos descoberto alguns dos caminhos jacobeos ao longo desta península que tem mais elementos que nos unem, do que aqueles que nos separam. Amanhã, dois colaboradores dos "Senderos" (o Gonçalo e o Luís) vão partir numa aventura a duas rodas pelo caminho português do interior, partindo de Castelo Branco, esperando desfrutar do caminho apenas fazendo-o. Esperamos partir dessas terras "Albicastrenses" com um espírito de viajante que encontra sempre algo seu por onde passa. Partamos então e fiquemos com um poema (um vez mais cortesia cultural do nosso amigo Pedro) sobre o que é isto de rumar a algum sítio. Se somos romeiros, peregrinos, viajantes ou turistas, é-nos completamente indiferente, o que interessa é que nos descobriremos em cada pedalada e em cada lufada de ar quente. Eis o poema:
ROMERO SOLO
Ser en la vida romero, romero sólo que cruza siempre por caminos nuevos. Ser en la vida romero, sin más oficio, sin otro nombre y sin pueblo. Ser en la vida romero, romero..., sólo romero. Que no hagan callo las cosas ni en el alma ni en el cuerpo, pasar por todo una vez, una vez sólo y ligero, ligero, siempre ligero.
Que no se acostumbre el pie a pisar el mismo suelo, ni el tablado de la farsa, ni la losa de los templos para que nunca recemos como el sacristán los rezos, ni como el cómico viejo digamos los versos. La mano ociosa es quien tiene más fino el tacto en los dedos, decía el príncipe Hamlet, viendo cómo cavaba una fosa y cantaba al mismo tiempo un sepulturero. No sabiendo los oficios los haremos con respeto. Para enterrar a los muertos como debemos cualquiera sirve, cualquiera... menos un sepulturero. Un día todos sabemos hacer justicia. Tan bien como el rey hebreo la hizo Sancho el escudero y el villano Pedro Crespo.
Que no hagan callo las cosas ni en el alma ni en el cuerpo. Pasar por todo una vez, una vez sólo y ligero, ligero, siempre ligero.
Sensibles a todo viento y bajo todos los cielos, poetas, nunca cantemos la vida de un mismo pueblo ni la flor de un solo huerto. Que sean todos los pueblos y todos los huertos nuestros.
De su libro Versos y oraciones del caminante (1920)
Sobre León Felipe (Tábara, Zamora, 1884-México D.F., 1968)
Já inventam dias para tudo, ora é o dia dos namorados (um americanada típica do consumismo do capitalismo selvagem de balões e idiotices em forma de coração...), o dia do pai, da mãe, do animal, do pão, do periquito da Amazónia, etc... até que chegamos ao dia de hoje, 26 de Julho, o dia dos avós. Não deveria haver necessidade para que se instituíssem dias para que nos recordemos do que ser que seja, mas já que somos capazes do pior e, também, do melhor, o ser humano honra o seu passado (às vezes a vegetar num banco qualquer à espera do fim) sem esquecer que pode fazer uns trocos à conta disso. Vamos esquecer esse lado mais comercial destas efemérides e aproveitemos para lembrar estes que também fazem parte do que somos (nem que seja de maneira meramente genética)... Por acaso até tive acesso a uma foto do meu avô Ventura, o primeiro ferroviário a contar da direita à janela da carruagem, que tantos comboios fez chegar ao seu destino, fazendo jus ao seu labor de agulheiro. Eu era o seu "pinguim" e pouco privei com ele, mas deixou-me uma grande herança... o orgulho do Caminho de Ferro!!!
As minhas primeiras experiências fotográficas foram sempre com compactas, dado que não tinha acesso, melhor dito, possibilidades para investir nas reflex, pouco democráticas, da época. Esta Chinon, marca japonesa análoga à Pentax, com mais de 25 anos, foi o aparelho eleito para tentar, em vão, fazer as primeiras composições e fotografias com história (Pisões, S. Cucufate, Alqueva, etc, que tão longínquos pareciam então!) e hoje, após vários anos de serviço da minha mãe, reformou-se e juntou-se à colecção das "deusas imortalizadoras de momentos" que tenho vindo a juntar nos últimos anos. Agora, a descansar.
Poder-se-ia dizer que são os "Pinto a Pedais", não seria totalmente incorrecto, no entanto, acabado de chegar da Burinhosa e do "VII Encontro Nacional de Bicicletas Antigas", apenas tenho em mente uma música do Cat Stevens, que, sem me dar conta, faz parte da banda sonora da minha vida (a k7 original do meu pai a tocar no velhinho auto-rádio do 127...), e que durante muito tempo ouvi sem prestar a devida atenção. Hoje, junto ao Atlântico, pedalámos e parecia que os acordes e os versos do Cat Stevens se reproduziam da cadência das nossas correntes que nunca se partiram, apesar da ferrugem dos nossos fieis corcéis... Ao fim de três décadas consegui entender esta canção... com a diferença que eu não sou nenhum jovem russo a querer abandonar a quinta e aderir à revolução de Outubro. Quem pode censurar as palavras de um pai, quando não são mal intencionadas?
Father It's not time to make a change, Just relax, take it easy. You're still young, that's your fault, There's so much you have to know. Find a girl, settle down, If you want you can marry. Look at me, I am old, but I'm happy.
I was once like you are now, and I know that it's not easy, To be calm when you've found something going on. But take your time, think a lot, Why, think of everything you've got. For you will still be here tomorrow, but your dreams may not.
Son How can I try to explain, when I do he turns away again. It's always been the same, same old story. From the moment I could talk I was ordered to listen. Now there's a way and I know that I have to go away. I know I have to go.
Father It's not time to make a change, Just sit down, take it slowly. You're still young, that's your fault, There's so much you have to go through. Find a girl, settle down, if you want you can marry. Look at me, I am old, but I'm happy. (Son-- Away Away Away, I know I have to Make this decision alone - no) Son All the times that I cried, keeping all the things I knew inside, It's hard, but it's harder to ignore it. If they were right, I'd agree, but it's them They know not me. Now there's a way and I know that I have to go away. I know I have to go. (Father-- Stay Stay Stay, Why must you go and make this decision alone?)
Ia publicar um outro poema de Alexandre O'Neill intitulado Guiché/2, mas procurando-o no livro, dei com este, e ciente do amor que muita da gente que lê este blogue sente pelas bicicletas...
ELOGIO BARROCO DA BICICLETA
Redescubro, contigo, o pedalar eufórico
pelo caminho que a seu tempo se desdobra,
reolhando os beirais – eu que era um teórico
do ar livre – e revendo o passarame à obra.
Avivento, contigo, o coração, já lânguido
das quatro soníferas redondas almofadas
sobre as quais me etangui e bocejei, num trânsito
de corpos em corrida, mas de almas paradas.
Ó ágil e frágil bicicleta andarilha,
ó tubular engonço, ó vaca e andorinha,
ó menina travessa da escola fugida,
ó possuída brincadeira, ó querida filha,
dá-me as asas – trrim! trrim! – pra que eu possa traçar
Trata-se de um livro divertido e despretensioso que adapta "à pressa" obras da literatura universal para o mundo da BD. O autor compilou 90 obras literárias e resumiu-as em escassas quatros vinhetas, ou seja, Henrik Lange sintetiza o enredo (vertiginosamente) de obras como "Romeu e Julieta" de Shakespeare, "Crime e Castigo" de Dostoievski, "A Odisseia" de Homero, "Festim Nu" de William Burroughs, "Pela Estrada Fora" de Jack Kerouac, "Dom Quixote" de Cervantes, "Cem anos de Solidão" de Gabriel Garcia Márquez (imaginem só!) entre muitas adaptações livres de muitos outros livros famosos. Adoro a adaptação de "First Blood"... Só falta a boca ao lado em John Rambo! Lê-se como e onde queiramos, à presa, devagar, na casa de banho, na praia, encima do colchão... mas o mais importante é que se trata de um livro despretensioso e divertido. Para quem tem tarefas docentes (no âmbito da literatura), não é um mau recurso como oportunidade pedagógica Até os professores de religião o podem utilizar pois tem a bíblia em quatro vinhetas!
A imagem frenética que o apresentador João Baião nos deixou de tempos em que era a figura principal de um tal “Big Show Sic” ainda me estranha quando o vejo ao leme de um programa de entretenimento da televisão pública, mas é com agrado que constato que as relações transfronteiriças até já têm destaque no entretenimento da RTP, como foi o caso do programa “Verão Total”, emitido, no passado dia 20, em directo da cidade capital da região autónoma da Extremadura, Mérida.
Assistir a esta emissão desde a antiga capital da Lusitânia, fez-me reflectir sobre a vários aspectos comuns que temos de um lado e outro do Guadiana.
Curiosamente, tanto o Alentejo, como a Extremadura espanhola, são duas das maiores regiões, em termos territoriais, dos respectivos países e sem grande expressão nível populacional. Este último fator vota ambas regiões a um estatuto de interioridade atestado pelos fechos sucessivos de várias instituições com destaque para escolas e centros de saúde. Estas medidas são tomadas tendo em conta factores economicistas que têm afastado população do Alentejo e da Extremadura para outras áreas urbanas, tal como para fora de Portugal e Espanha.
Por outro lado, também de um ponto de vista economicista, é entre estas duas regiões, quase sem expressão a nível de deputados nas respectivas assembleias nacionais, que encontramos o único fenómeno de “eurocidade” que Portugal pode mencionar a nível internacional. Refiro-me a um espaço económico, social (e até quase físico) que partilham as cidades de Elvas e Badajoz. Este conceito está muito em voga, e já podemos encontrar a presença desta “eurocidade” na internet, com especial destaque para o Facebook.
Inevitavelmente, o nosso país apenas tem o Atlântico e a sua vizinha Espanha, daí que o melhor é o pragmatismo e que desfrutemos do melhor que daí pode advir. Tal não é sinónimo de perda de soberania, nem submissões políticas, ao invés (e a nossa situação geográfica bem o justifica), cooperação que nos permita progredir e dinamizar estas duas regiões vizinhas. Foi disso um claro exemplo a presença do vice-presidente da CME em Mérida e o interesse do Alcaide emeritense em participar e alojar a equipa de João Baião na “Plaza Mayor” da capital extremenha.
É em épocas de crise que descobrimos novos rumos e investimos no que outrora passou desapercebido, e, neste aspecto, o Alentejo, apesar de não ter uma estrutura política autónoma como a vizinha Extremadura, pode aprender com alguns bons exemplos, neste caso ao nível dos media. Refiro-me ao Canal Extremadura TV e Rádio, que como serviço público local promovem e ajudam a dinamizar a região.
Nada mais pertinente numa época em que o líder do PSD discute a privatização da RTP, daí que talvez seja interessante reflectir sobre o que é o serviço público de informação, para que serve e como poderá, e deverá, ser isento.
Pessoalmente, caso a situação económica o permitisse (quer a nível público ou privado), a existência de um canal de difusão em sinal aberto de televisão e, mesmo, rádio, isto é, uma espécie de “Alentejo TV”, seria uma mais-valia para a região e acredito que tivesse viabilidade económica e audiências que a justificassem, se é que isso deverá ser determinante num serviço deste tipo. Não nos esqueçamos que com o advento da internet a televisão a que estávamos habituados já não é a mesma, sendo os seus conteúdos fundamentais, a dita televisão “a la carte”.
No entanto, este não é um tema novo e não tem pretensões regionalistas (para isso já temos a tentativa de criação de um partido político no norte de Portugal e a protagonismo mediático do ex-presidente do F.C. Barcelona, Joan Laporta, para a criação de uma nação Catalã), daí que, sempre que posso, assisto às emissões do Canal Extremadura e tento saber um pouco mais do que se passa aqui ao lado. O que é irónico é que, na sua grelha de programação diária, também fico a par do que se passa em Portugal, com destaque, para o que se passa ao lado, no vizinho Alentejo.
Datado de 1963, este álbum de John Coltrane foi gravado no Birdland Club num época socialmente "quente" de uns EUA segregacionistas e com preconceitos raciais. Um bom exemplo do que ocorria neste período é a faixa 4, "Alabama", um tributo a quatro crianças mortas numa igreja batista (não me esqueci do novo acordo ortográfico) num ataque bombista reivindicado pelos "Supremacistas Brancos". História à parte, destaco as faixas 1, 5 e 6 que me agradam bastante bastante ao ouvido, sem querer cair em apreciações jazzísticas que me seriam ridículas... o melhor é comentar que sabe!
Quando penso nesta obra (já aqui mencionada) de Clint Eastwood, “Gran Torino”, vêm-me sempre à cabeça estas palavras que compõem um belo verso cantado por Jamie Cullum, e da autoria do próprio Eastwood, para a respectiva banda sonora: “The world is nothing more than all the tiny things you left behind…”.
Creio que intelectualizar demasiado a vida tira-lhe exactamente essas “pequenas coisas” tal como a magia, ou mesmo nostalgia, que muitos de nós vamos encontrando neste peculiar mundo dos clássicos. E é isso mesmo que a personagem Walt Kowalski é, interpretada magistralmente por o célebre actor de “Dirty Harry”, um homem comum, veterano da Guerra da Coreia e jubilado de uma antiga linha de montagem da mais conhecida marca de automóveis estado-unidenses, a Ford.
O “Gran Torino” de 1972 é o elemento basilar deste filme, não pela sua estética, nem pela sua história no seio do mundo automóvel, mas pela sua enorme carga simbólica inerente à vida de um homem cheio de preconceitos, tradicional, cuja personalidade o remete para a solidão num antigo bairro da classe operária de Detroit, agora degradado e maioritariamente habitado por imigrantes do Sudeste Asiático.
As imperfeições de Kowalski não o impedem de tentar manobrar a vida, tal como o volante do seu “Gran Torino”, e de auxiliar um jovem asiático a crescer num mundo onde um gangue local semeia violência, intimidação e medo. A experiente presença de Kowalski junto ao adolescente Tao, apesar de socialmente e politicamente incorrecta, repleta de estereótipos e lugares comuns, revela-se de extrema grandeza de valores e moral num mundo degradado e segregado onde poucos têm hipóteses de sair.
E onde está o elemento clássico de quatro rodas do filme? Como pode ter um filme o nome de um carro e tratar de temas que pouco ou nada têm que ver com cárteres, pistões e segmentos? É simples após a visualização do filme, e talvez mesmo extrapolável ao nosso universo dos clássicos aqui por Portugal e pela Europa. Em “Gran Torino” existe uma clara referência a um certo tipo de masculinidade reflectida na cultura automobilística norte-americana, da qual a personagem de Eastwood é emblemática.
Mais do que um carro, o “Gran Torino” simboliza um extraordinário laço que uniu o destino de um homem a uma máquina, desde aquele famigerado dia em que Walt Kowalksi lhe colocou um braço da direcção em plena linha de montagem.
Mas como diz o célebre provérbio, “uma imagem vale mais que mil palavras”, e nada como ver o filme e desfrutar da realização de Eastwood. Acredito que consigam sentir o mesmo prazer que Walt demonstra no grande ecrã, num belo pôr-do-sol sentado na sua alpendorada, acompanhado por uma solitária lata de cerveja, a reconfortante cadela “labradora” Daisy, vislumbrando ternamente à entrada da sua garagem que a sua história pessoal apenas é o que viu, o que fez e o que será, agarrando-se à presença de um Ford “Gran Torino” de 1972.
Redigido para a revista "Topos&Clássicos (não sei se foi publicado)
La esposa de un hombre estaba muy enferma. En su lecho de muerte le dice, "¡Te amo demasiado!, no quiero dejarte, y no quiero que me traiciones. Promete que no verás otras mujeres cuando yo muera o volveré para rondarte. Durante varios meses después de su muerte el marido evitó a otras mujeres, pero conoció a alguien y se enamoró. En la noche que se comprometieron, el fantasma de su difunta esposa se le apareció. Ella lo acusó de no cumplir con la promesa, y volvió todas las noches para atormentarlo. El fantasma le recordaba todo lo que habían pasado él y su prometida ese día, hasta el punto de repetir, palabra por palabra, las conversaciones que habían tenido. Esto lo trastornó tanto que no pudo dormir nada. Desesperado buscó el consejo de un maestro Zen que vivía cerca del pueblo. "Este fantasma es muy listo", dijo el maestro luego de oír la historia del hombre. "¡Lo es!", contestó el hombre. "Recuerda cada detalle de lo que dije e hice. ¡Lo sabe todo!" El maestro sonrió. "Deberías admirar a un fantasma así, pero yo te diré que hacer la próxima vez que aparezca." Esa noche el fantasma regresó. El hombre hizo exactamente lo que le había dicho el maestro. "Eres un fantasma muy sabio", dijo, "Sabes que no te puedo esconder nada. Si puedes responderme una pregunta, romperé el compromiso y permaneceré soltero por el resto de mi vida". "Haz la pregunta", contestó el fantasma. El hombre sacó un puñado de frijoles de una gran mochila que estaba en el piso, "Dime exactamente cuantos frijoles tengo en mi mano". En ese momento el fantasma desapareció y no volvió nunca más.