domingo, março 30, 2014
quinta-feira, março 27, 2014
Diário I: A minha aparição, nesta linha onde o Bexiguinhas matou aquela galinha.
“E, todavia como é difícil explicar-me! Há no homem o dom perverso da banalização. Estamos condenados a pensar com palavras, a sentir com palavras, se queremos pelo menos que os outros sintam connosco. Mas as palavras são pedras.”
Vergílio Ferreira, Aparição
Sento-me aqui nesta linha e recordo.
(Uma linha de pouco serve
Se se sentencia tudo pela mesma bitola)
Pé ante pé, na ferrugem do carril
Da largura da minha sola de sapato
Como percorri gerações de caminhos
De ferro por onde já poucas vezes passam
Comboios, automotoras, dresines.
Gente.
Todas as infâncias têm um descampado.
Algumas têm uma linha.
O meu passado escampado
Tem uma cabana,
A morte num cão, uma campa
Florida, rendida à inocência de dois irmãos e uma
vizinha.
Tem uma raposa morta,
Uma salta-pocinhas escalpada
Da curiosidade esfolada à putrefacção.
Tem cardos. Tem fardos na paisagem seca da eira.
Mas tem pistas, montes, barrancos de bmx,
(Identificadas com esponjas no volante, cobertas com napa
agarradas ao velcro)
Território ocupado pela gaiatagem do bairro que tanto
Atraiu outros ao seu território, atraiu a passar a linha.
As batalhas fronteiriças resolviam-se à pedrada,
A munição mais à mão de semear
Imperfeita como paralelos mas ótima para arremessar.
Não participei nestas épicas batalhas de joelheiras nas
calças sem marca de ganga.
Não tinha idade, nem cabedal de fisga, para me alistar.
A salvo, pela linha, não fugi para casa, fiquei a observar
Camaradas a apedrejar pelo que era seu,
Sustido por carris aparafusados a travessas secas,
Manchadas a óleo
Das engrenagens do comboio.
Para que esta crónica seja digna
Encontrar-lhe-emos um prego,
Com um número qualquer
De dois algarismos.
Do maquinista que percorre a linha nasceu este cronista.
Montado no seu cavalo de ferro
Trazia para casa o bom cheiro
Que leva o que leva o viajante.
O cheiro do maquinista que, como aqui escrevo, conquista
O direito a apear-nos sãos e salvos, mais ricos.
O descampado não tinha trabalhos de casa. Já tinham que
estar feitos e sem nenhum trauma.
Tinha a odisseia da feia vegetação e do entulho ilegal
que todos entulhávamos e com o qual coexistíamos. Era esse o ambiente dos
guardiães da linha.
Esta não seria a mesma sem um quarteto fantástico, como o
que lia em bandas desenhadas brasileiras, mas americanas, com as minhas ilusões
de heroísmo.
Eu. Um amigalhaço de bombeiros. Amigalhaço (amizade forte
como o aço).
Com o Carlos. O melhor amigo que o Karate Kid podia ter.
E dois gémeos. Diferentemente iguais. Arqui-inimigos de
primária sem os quais o meu heroísmo de bd não podia viver.
Como havia tanto amor em não suportar essas almas.
O Nuno Gémeo era para sempre o meu colega de carteira e
certeiro com o seu sorriso que melhor me faz. (desculpa a camisa rasgada na
emboscada na entrada da casa, dos prédios da caixa, da avó do Caíta)
O Luís Gémeo, irrequieto e desperto, colecionador de
sacos de plástico de giz. (a professora ficou espantada depois de dizer:
- tragam todo o giz que tiverem em casa!
E aí a deixaste plantada, com a sinceridade de criança
num saco de plástico cheio de cal branca com o qual escreveste esse episódio)
Lembras-te quando sacaste o corta-unhas (com capa grilos)
ao Carlos? Que violência tão descarada! Como a espessura da tua juba, louca,
adjectivo da pluralidade da nossa puerilidade.
A linha do nosso descampado unia todos. Une. Mesmo a
linha ténue da memória. Da estação até Mora, Estremoz, Portalegre, ou até qualquer um de
nós. Apeava e albergava um Carlos, um Luís, dois gémeos. Traçava a boa saúde de
um bairro e parecia-nos, diante dos olhos, nos delinear a infância,
dando-nos, ao mesmo tempo, hora a hora, um comboio para sair.
Eu saí. Apanhei o Lusitânia.
Mas continuo convosco sentado naqueles montes de torrões.
Naquela terra.
A contarmos vagões.
Um. Dois. Três com a sigla da CP.
À frente conduz o meu pai. Esperamo-lo no descampado.
Olha pá, o Sr. Pinto acenou-nos descansado.
Tem a certeza que já fizemos o ditado
Porque esse era o nosso TPC.quarta-feira, março 26, 2014
ABRIL por Luis Leal (artigo para "Moñino Times", 2014)
No es
la primera vez que escribo sobre abril. Ni la segunda, y no me parece que vaya
a ser la última. No escribo sobre el cuarto mes del año, ni de su perspectiva
en el calendario, de cómo puede tener aguas mil o primaverales sonrisas
abiertas por días soleados. Eso tiene que ver con milenios de herencia climatológica
y no se puede confundir con este Abril de la “ternura de los cuarenta” o,
teniendo en cuenta la coyuntura actual, el Abril de la crisis de los cuarenta,
como le venden la moto, sin que le haga falta probar que mantiene su espíritu original.
Seguro
que, los más atentos, o los que conozcan un poco del siglo XX portugués, sabéis
que escribo sobre “otro” Abril, que me atrevo a escribir con mayúscula, quizás
más lírico que primaveral, un Abril florido por la libertad agarrada, con el
puño cerrado, a un clavel. Eso se pasó hace precisamente cuatro décadas, en el
25, ese clavel salió a la calle y acabó con una de las dictaduras más largas
del último siglo.
Portugal,
este país aquí al lado, este hermano de raya recortada de 1234 km dibujada a lo
largo de ocho siglos, es evidentemente pequeño y residual para la economía mundial.
Se caracteriza por PIBs y presupuestos generales raros, rectangulares (como la forma
geográfica que adoptó como su frontera, la más antigua de Europa), con crisis anacrónicas
que insisten en seguir en el orden del día (al mismo tiempo tan útiles para
justificar desigualdades que se perpetúan en su DNA sociocultural), pero a esto
se junta un efecto antiinflamatorio y baños de iodo en un atlántico paliativo
vigilado por Fátima, la virgen vigilante de la playa.
Si
hablamos en estos términos tan de moda de macroeconomías (léxico de microespíritus y empatías
deficitarias), potencias, tipo G7 (una menos, porque estamos enfadados con la
Federación Rusa), el país vecino no se impone. La única G que conoce es de la
ametralladora G3, recuerdo del estrés postraumático del Ultramar, herida
abierta obligada, infectada, o, en buen día, en un ambiente de optimismo que no
abunda hoy en día en el seno de Troikas, FMIs o austeridades, le podrá recordar
que esa misma arma fue callada por claveles rojos, sin ideología pero de
esperanza.
Es en
este ámbito que Portugal se puede imponer. Con su cultura, su historia real, no
solamente trágica, para justificar un “fado” patrimonio intangible de la
humanidad, el lirismo es igual de intangible y su insolvencia mata tanto como
la escasez de pan.
Hace
cuarenta años, este pequeño país amordazado devolvió la esperanza de libertad a
una península sumergida, aislada, por dos regímenes cómplices, pero,
convenientemente, de espaldas.
Hace
cuarenta años, en una mañana fría de abril, según los versos de Pedro Ayres de Magalhães, “un gesto puro coincidió con la
multitud que todo esperaba y descubrió que la razón de un pueblo entero lleva tiempo
a construirse”.
Hace
cuarenta años, quien vivió Abril, se acostaba con la sensación que había
cambiado el mundo. La historia hoy nos dice que sí. Es verdad. La gente ya podía
ver en los cines la violencia “for the sake of violence” de “La Naranja
Mecánica”, el erotismo de mantequilla de “El Último Tango en París” y, también,
el sentido común de Burt Lancaster en “El Gatopardo”.
Se pasaron
cuarenta años. El gesto puro creció y una multitud centrífuga le apartó de su
esencia. Es decir, emigró. La esperanza se fue con el huracán Maddof (de los
mercados), pero en facebook dijeron que algunos pelos se quedaron en los árboles.
Pronto se esperan más tweets.
Sin
embargo, yo sigo aquí, delante del ordenador, seguro que escribo sobre un Abril
portugués, pero con la sensación que, si TVE me llamara, sería capaz de hacer una
transición democrática para un episodio de “Cuéntame”, hacer el puente con la
realidad de la simpática familia Alcántara.
quinta-feira, março 20, 2014
segunda-feira, março 17, 2014
El reloj de la biblioteca
En
la pared de la biblioteca,
Las
agujas del reloj se vuelven atrás.
El
defectuoso mecanismo,
[Crónico],
Me
obliga a aceptar,
[Colgado],
Que el
pasado
Es evidente
delante de nuestros ojos.
Todo
este tictac,
Viajero
en el tiempo,
Me
despierta,
Como
una aguja que me pincha,
Con
el dolor
De no
poder volver atrás.
Abrazar
tu olor.
Pero,
lo peor,
Es que
este reloj
No tiene
futuro.
Ni
esperanza de arreglo.
Pues
no merece la pena
Invertir
tiempo en el tiempo.
Definição de lirismo
Li-ris-mo:
(substantivo masculino)
Hipotecar-se para que a sua poesia possa publicar-se.sexta-feira, março 14, 2014
Dois cacófatos numa quadra brasileira
quinta-feira, março 13, 2014
domingo, março 09, 2014
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