terça-feira, junho 28, 2022
O velho mercenário do bairro suicidou-se.
domingo, junho 26, 2022
sábado, junho 25, 2022
Uma força da natureza com um coração de ouro
quarta-feira, junho 22, 2022
domingo, junho 19, 2022
Equilíbrio/Equilibrio Cronológico
sexta-feira, junho 17, 2022
Emérito/Emérita
quarta-feira, junho 15, 2022
"as circunstâncias podem muito mais do que a nossa vontade" - José Saramago
domingo, junho 12, 2022
A leitora tatuou...
sábado, junho 11, 2022
Crónica: "Ensaio sobre a (minha) fronteira" de Luis Leal (in "Mais Alentejo" nº160, p. 91)
Sempre que leio o “i” de fronteira em português parece-me que foi delineado pela identidade lusa para delimitar-se da invasiva “frontera” de Castela. Note-se que isto não tem nada de teoria, é pura mania e cada um tem as suas, como o facto de ao ter nascido em solo alentejano nunca ter sido propício a semivogais e, desde tenra idade, acostumar-me a abdicar do “i” na “mantêga”, no “lête” e no “quêjo”, o que conscientemente me afastava de algum exagero arrogante de semivogais e do centralismo impositivo de Lisboa e inconsciente me acercava à agrestia da minha paisagem e à que seria a minha “frontera”.
Não nasci na fronteira – apesar de haver quem considere Portugal raiano, ou seja, uma nação toda ela limítrofe –. Há quem veja as circunstâncias de nascer na fronteira como uma oportunidade, houve mesmo uma época em que o julgava assim, no entanto a convicção foi substituída pelas incertezas e isso leva-me a indagação: é a fronteira um lugar ou um “não-lugar” como diria o Marc Augê? Poderá alguma vez ser pátria, dado que é filha de pais separados e, em tantos casos, de pais incógnitos? Pode a fronteira advir de geração espontânea? Eis as minhas reticências quando Glória Anzaldúa enunciava a fronteira “como o único ponto da terra que contém todos os lugares do mundo”. Entendo o seu humanismo, sinto o seu lirismo, porém, para quem, como eu, não se considera um cidadão do mundo (longe está a cidadania como apanágio planetário) impõe-se o fracasso que pode ser morrer na fronteira, esse território de todos, portanto de ninguém.
Até Março de 2020, “vivia a fronteira”, essas passagens constantes e viagens no tempo graças ao diferente fuso horário entre Espanha e Portugal, com um certo idealismo a acompanhar o meu habitat raiano. Instaurado o confinamento em Espanha (possivelmente o mais restrito de toda a Europa), instaurado o medo da primeira onda de Covid em Portugal, fui obstruído e não pude prosseguir nessa perspectiva, porventura ingénua, iniciada com o Tratado de Schengen, e comecei a “pensar a fronteira”, confrontando-me com a sua dimensão contraditória, dado que esse lugar-limite é extraordinariamente ambíguo, pois tanto demarca um início como um final. Refletir sobre a fronteira (uso o singular num sentido de pluralidade) depois dos meses negros, do trauma e da vulnerabilidade a que fomos expostos há dois anos, tem sido catártico e ajuda-me a procurar esse desígnio de lugar no mundo mais além dos versos de Jorge Drexler “yo no sé de donde soy, mi casa está en la frontera” e, efectivamente, “las fronteras se mueven como las banderas”. Uma bandeira a apropriar-se de um lugar remete-me para o egocentrismo, para um etnocentrismo colonizador – passível de encontrarmos até na superfície lunar –, e para a imperiosa realidade que um lugar-limite abre e fecha e tanto se pode converter em lugar de salvação como em lugar a evitar por temor.
Adolfo García Ortega, através do apócrifo filósofo japonês Hiroshi Kindaichi, propõe uma hermenêutica da fronteira como um lugar onde ir para saciar a curiosidade (ao lê-lo lembrei-me das “casas da dúvida” – virtuosa definição – disseminadas raia fora), como um lugar proibido e imaginário, um lugar que tanto atrai como repele, indo ainda mais longe, ao enfatizar a fronteira como “um ponto de conexão estimulante”, pelo simples facto de a nossa presença ali ser um acerto ou um erro, porém algo decisivo de se saber. Como todas, a minha existência é circunstancial e permeável à incerteza. Não sei se foi um acerto ou um erro encerrar tantas vezes a fronteira terrestre luso-espanhola durante estes anos pandémicos. Intuo algumas coisas, contudo, mantenho a convicção que a ausência de fronteiras iguala as pessoas e, por outra parte, impô-las, mais do que demarcar espaços, identifica as elites, revela os seus interesses.
É difícil ser fronteiriço, exige disciplina, obriga a um equilíbrio atento, o único que permite oscilar de um extremo ao outro sem agredir, sem destabilizar, preservando uma identidade harmoniosa. Com Kindaichi medito e, como ele, atento na “transparência uma fronteira” pela qual se facilita a perspectiva. Lamento, mas neste tempo de escrita a minha fronteira não é tão diáfana como outrora, admito mesmo alguma falta de nitidez.
"Entre duas terras"/Entre dos tierras" - Luis Leal (Fontañera/Galegos) |
Crónica: "Ensaio sobre a (minha) fronteira" de Luis Leal (in "Mais Alentejo" nº160, p. 91)
Este “Ensaio sobre a (minha) fronteira”, talvez por cansaço temático ou alguma crise de identidade derivada de “fartura fronteiriça”, após 7 anos, marca o fim da rubrica “Entre Duas Terras”. É bastante pessoal e necessitava ser partilhado. Porém, o meu caríssimo director António Sancho permite-me enveredar por os meus “Trabalhos&Paixões” (clara homenagem ao Fernando Assis Pacheco) nas páginas da “Mais Alentejo” nº161, já nos sítios do costume, onde continuaremos a encontrar-nos sem qualquer preocupação aduaneira.
Este “Ensayo sobre a (mi) frontera”, tal vez por cansancio temático o alguna crisis de identidad derivada de “hartura fronteriza”, pasados 7 años, marca el fin de la rúbrica “Entre Dos Tierras”. Es bastante personal y necesitaba ser compartido. Sin embargo, mi estimado director António Sancho me permite seguir con mis “Trabajos&Pasiones” (claro homenaje a Fernando Assis Pacheco) en las páginas de “Mais Alentejo” nº161, ya en los locales habituales, donde seguiremos encontrándonos sin cualquier preocupación aduanera.
sexta-feira, junho 10, 2022
Nos dice: "Odio al Principito".
quarta-feira, junho 08, 2022
Carlos Drummond de Andrade - Estrambote
ESTRAMBOTE
Tenho saudade de mim mesmo,
saudade sob aparência de remorso,
de tanto que não fui, a sós, a esmo,
e de minha alta ausência em meu redor.
Tenho horror, tenho pena de mim mesmo
e tenho muitos outros sentimentos
violentos. Mas se esquivam no inventário,
e meu amor é triste como é vário,
e sendo vário é um só. Tenho carinho
por toda perda minha na corrente
que de mortos a vivos me carreia
e a mortos restitui o que era deles
mas em mim se guardava. A estrela-d’alva
penetra longamente seu espinho
(e cinco espinhos são) na minha mão.
Carlos Drummond de Andrade