terça-feira, dezembro 30, 2014

El poema nace

El poema nace del esfuerzo
de obturar el inconcreto,
de la necesidad de hacer de la nada
verbo cubierto con nitrato de plata.

VI Nenhuma dor é tão grave (Samuel Chamorro)

Nenhuma dor é tão grave
nenhuma morte tão última

que não possam moderar-se
diante dos olhos de um estranho.

Claves para hacer negocios con Portugal (Colaboración en el libro)

Termino 2014 con la enorme sensación de gratitud… Ya en lo que respeta al colectivo, como decía Vasco Graça Moura, le falta al mundo contemporáneo algo de poesía… Espero que 2015 nos traigan unos cuantos versos de esperanza. 
Os dejo mi última colaboración en la guía “Claves para hacer negocios con Portugal” en la compañía de buenos amigos como Antonio Sáez Delgado y José Ignacio Martín, donde divagamos sobre “La imagen del otro”, “Historia de Portugal”, “Patrimonio portugués”, “Literatura portuguesa” y “Figuras claves de Portugal”. Os recomiendo los “Falsos Amigos” de mí amigo José. 
(Un especial agradecimiento a todos los que están por detrás de mis textos, sabéis que sois y siempre seréis mi intertexto…) 

Termino 2014 com a enorme sensação de gratidão… Já no que diz respeito ao colectivo, como dizia o ilustre Vasco Graça Moura, falta ao mundo contemporâneo poesia… Espero que 2015 nos traga uns quantos versos de esperança. 
Deixo-vos a minha última colaboração no guia “Claves para hacer negocios con Portugal” na companhia de bons amigos como Antonio Sáez Delgado y José Ignacio Martín, onde podemos divagar sobre “A imagem do outro”, “História de Portugal”, “Património português”, “Literatura portuguesa” e “Figuras chave de Portugal”. Recomendo-vos os “Falsos Amigos” do meu amigo José. (Um especial agradecimento a todos los que estão por trás dos meus textos, sabem que são e sempre serão o meu intertexto…)





Dias sós / Días solos

Dias sós.
Embaciado o espelho ausente de reflexo das manhãs infantis,
Num grito desperto pelo espreitar sincero do sol num fio de persiana.

Manhã lenta de café
Desenhado com tons de leite
E a rádio sintonizada num programa feito pelos teus próprios dedos.


Días solos.
Empañado el espejo ausente de reflejo de las mañanas infantiles,
En un grito despierto por el acechar sincero del sol en un hilo de  persiana.

Mañana lenta de café
Dibujado con tonos de leche
Y la radio sintonizada en un programa hecho por tus propios dedos.

segunda-feira, dezembro 22, 2014

O centro da distância (Ángel Campos Pámpano)

O centro da distância (Ángel Campos Pámpano)

Abre os olhos
a um só acorde, a um ritmo
em si mesmo.
Requere um homem novo
esta luz que desponta.

Razão de ti
vão dando as tuas palavras
mais pobres, boca
nua que conhece
a melhor luz do dia.

Rosa de nevoeiro
sumida no silêncio
fundo do ar
Reconheço no teu nome
esta luz que declina.

Do seu livro “Siquiera este refugio” (“Ao menos este refugio”), 1993.

Tradução: Luis Leal

Algures no Alentejo



Se calhar está na hora de cortar o cabelo, ou fazer a barba...

domingo, dezembro 21, 2014

a la hora de poner la mesa, éramos cinco

a la hora de poner la mesa, éramos cinco:
mi padre, mi madre, mis hermanas
y yo. después, mi hermana mayor
se casó. después, mi hermana pequeña
se casó. después, mi padre murió. hoy,
a la hora de poner la mesa, somos cinco,
menos mi hermana mayor que está
en su casa, menos mi hermana pequeña
que está en su casa, menos mi padre,
menos mi madre viuda. cada uno
de ellos es una lugar vacío en esta mesa donde
como solo. pero van a estar siempre aquí.
a la hora de poner la mesa, seremos siempre cinco.
mientras uno de nosotros esté vivo, seremos
siempre cinco.

José Luís Peixoto (trad. Luis Leal)

sexta-feira, dezembro 19, 2014

Não voltarei a ser jovem (Jaime Gil de Biedma)


No volveré a ser joven

Que la vida iba en serio
uno lo empieza a comprender más tarde.
como todos los jóvenes, yo vine
a llevarme la vida por delante.

Dejar huella quería
y marcharme entre aplausos.
envejecer, morir, eran tan sólo
las dimensiones del teatro.

Pero ha pasado el tiempo
y la verdad desagradable asoma:
envejecer, morir,
es el único argumento de la obra.

quinta-feira, dezembro 18, 2014

Próximo do que importa (Ángel Campos Pámpano)

O céu da tarde ainda é um incêndio, uma pedra queimada que lentamente envelhece. O ar é limpo e baixo como um novo prazer que tu desconhecias. Alvoroça-se o silêncio. Melodia de asas entre as folhas vivas. Escondido na tela, assusta-te um pássaro, um pássaro impossível, negado para o voo, um desejo ilusório enredado entre os ramos, emaranhado na paisagem; um pássaro apanhado ao que lhe nega o poder de ascender, o de ausentar-se. 

Tradução: Luis Leal




quarta-feira, dezembro 17, 2014

Alba (Ezra Pound)

As cool as the pale wet leaves
of lily-of-the-valley
She lay beside me in the dawn.

“Fria como as pálidas folhas molhadas
dos lírios do vale
Ela dorme a meu lado na madrugada”.

quinta-feira, dezembro 11, 2014

sublinhado

aprende-se a sublinhar, a anotar, a apontar num livro, porque já se viu alguma vez uma palavra, verbo, frase acariciada pela tolerância do lápis ou sentenciada pela ponta ajuizada duma esferográfica.

de ciências (ou meio físico talvez) da 3º classe, herdado de irmão de segunda mão. estava no armário da gaveta de quinquilharias úteis do meu avô joão. esse e um livro para traçar letras, analfabetizadas pelas circunstâncias, que não se sabem ler mas esperançadas de ser a chave de uma porta qualquer ou ferramentas para operar longe do mundo operário. estes eram os únicos livros que a casa dos meus avós possuía.

eram escassas as letras no pátio do carvalho nº5 e o carteiro, à exceção da contas com números para pagar, também não nos letrava. a vida levava-se com a razão do pão nosso de cada dia, de estantes vazias, limpas de pó, cheias de afectos visíveis e invisíveis, com cúmplices passos xadrez, de chão branco e castanho, numa cozinha de bancos duros e conversa suave.

o cheiro frio matinal livre do peso dos cobertores que pesavam em temperatura mas que me guardavam os sonhos de menino. o couro cabeludo fresco no áspero verão de sabão azul com o aroma do banho de mangueira, o final de tarde duma infância loira penteada com a mão firme em doçura de helena, que deixara tróia para ser minha avó e leal como todos nós.

com meu avô páris e sua helena, o azul dos meus olhos mergulhou pela primeira vez no atlântico. os meus progenitores estavam ocupados a construir um reino que afinal se vendeu antes de afundar-se.

nas margens em branco das páginas do livro de ciências (ou meio físico talvez), amarelecidas pelas passagens das estações com paragens pontuais de poucos dedos, estava um itálico pueril de “importante”. provável apontamento futurista de tio para sobrinho. um de vários para rios de portugal, linhas de norte a sul da cp e a constituição de uma planta que só fazia a fotossíntese para louvar  deus e, eventualmente, se salazar deixasse.

esse livro morreu nas minhas mãos. matei-lhe a genealogia na minha idade média adolescente. abriu-me as portas do renascimento mas ainda bem que não me viu piegas como os românticos. ficou no coração, ajudou a cabeça a ser humana e ajudou a pagar a alimentação do estômago para que chegasse à modernidade tão desassossegada por um passado com tão poucas letras…

mas tão, tão sublinhado.

XI/MMXIV

quarta-feira, dezembro 10, 2014

Bom dia às comunidades portuguesas (um cumprimento matinal da Nicola)

A Nicola saúda as comunidades portuguesas ao longo desse mundo fora adocicando a saudade no seu café… Sem dúvida um sabor de Portugal e uma simpática maneira de fazer publicidade. Não é a “mística do instante” dos pacotes de açúcar da Delta mas faz boa companhia.

sexta-feira, dezembro 05, 2014

“Convívio” de Nuno Júdice.

Folhas soltas de final de outono. Avizinha-se o inverno.

Universalizar o cante (Janita Salomé)

“ «Embriagai-vos! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embriagai-vos!» Será que o cante alentejano inspirou Charles Baudelaire neste fervor poético? Se não vejamos (ou bebamos) o vinho vivo da amizade, solidariedade, comunhão de vozes e espíritos ou a poesia e virtuosismo do cante, condimentos essenciais presentes na majestade, solenidade e densidades geradas quando as vozes e o seu soar e sentir mais profundo se abraçam.”
Janita Salomé

quinta-feira, dezembro 04, 2014

“Palavrões” de Paulo Condessa

Leitura, quase instantânea, de “Palavrões” de Paulo Condessa. E não é que é a p*** da vida…

O outono de uma infância em ruínas

O outono de uma infância em ruínas
Não alberga espontaneamente gargalhadas de criança.
Espera o pôr-do-sol que se derruba em silêncio…

Vou-me embora p’ra Lisboa

Vou-me embora p’ra Lisboa 




(Cancioneiro Popular Alentejano 
- Grupo de Cantares de Évora)

Alentejo terra do pão
Onde eu tenho a residência
Acabou-se a azeitona
Meu trabalho fez ausência

Vou-me embora p’ra Lisboa
Porque a vida cá é má
À procura de coisa boa
Procuro não encontro cá

Quando eu entrei no comboio
Que assoprava pela linha
Às vezes penso comigo, e digo
Não sei que sorte é a minha

Quando eu cheguei ao Barreiro
Montei-me no barco que passa o Tejo
Chora por mim, que eu choro por ti
Já deixei o Alentejo

Chora por mim, que eu choro por ti
Já deixei o Alentejo

Somos Cante (Somos Património Imaterial da Humanidade)

Somos Cante
(Ao Alentejo, ao seu Cante, à minha gente)
"Somos sangue.
Somos terra.
Somos quente suor.
Somos um rosto de frente.

O sangue torna-se terra,
O suor absorve o lenço
A cara dá-se pelos avós
E a voz torna-se cante.

Eu que nasci no Alentejo
Serei chão
Quando a seca me chegar às veias.

A alma
Essa, pelas veredas,
Além, à sombra,
Caminhará de braço dado
E passo lento,
Sincopado pelo coração
Que nos late à capela.
Comunga-se com água a ferver
Coentros, poejos e alho
E esperamos que o paraíso tenha taberna".



sábado, novembro 22, 2014

TRANSCRIPCIÓN DE LA PRESENTACIÓN DE LA TRADUCCIÓN DE ANTONIO SÁEZ DELGADO DEL “LIBRO DEL DESASOSIEGO” DE FERNANDO PESSOA

Librería Colón (Badajoz) a 21 de noviembre de 2014


«Quisiera empezar esta presentación hablando sobre el autor del “Libro del Desasosiego”, Fernando Pessoa. Hablar de Pessoa es como hablar de un “baúl” vivo, desordenadamente brillante en su descomunal obra, publicada o inédita, que me deslumbra por su misantropía como también por su fuerte personalidad poliédrica y filosófica.

La fascinación por su obra ya es muy antigua, desde los tiempos de mi juventud, de mis clases de lengua portuguesa en el instituto en que me di cuenta que Pessoa no inventaba personajes, él criaba escritores y poetas completos, siendo esta una manera, como el propio afirmaba, “de sentir el mundo de manera más completa”.

Tuvo una vida discreta como ciudadano, pero para la historia de la literatura se desdobló en varios heterónimos (según el editor del actual “Libro del Desasosiego”, Jerónimo Pizarro, 136) que lo ascendieron al panteón de los más brillantes e importantes del modernismo del siglo XX y de toda la literatura mundial.  

Su juventud en Sudáfrica, su pasado anglófono, su bilingüismo (evidente en heterónimos de lengua inglesa como Alexander Search) o incluso multilingüismo (pues parece que Pessoa se atrevía también a escribir en francés), marcan una transición en el paradigma cultural y literario portugués tan cercano al canon de las letras francófonas  y lo abre al universo literario de Shakespeare.  

Hablar de sus más importantes heterónimos como el anti-metafísico Alberto Caeiro (que preconizaba que “pensar es estar enfermo de los ojos”), el latinista Ricardo Reis o ingeniero decadente Álvaro de Campos, es ver universos literarios en la figura de Pessoa.

La filosofía epicureísta del maestro Caeiro, soportada por la perfección moral e intelectual de Reis, es un contrapunto al decadentismo de Campos, tan visible en el poema “Opiário” dedicado al poeta portugués Mário de Sá Carneiro, del cual os leo la estrofa que podía perfectamente pertenecer a Bernardo Soares, a quién Pessoa adjudicó parte de su “Libro del Desasosiego”:

“Por eso yo tomo opio. Es un remedio
Soy un convaleciente del Momento.
Vivo en la planta baja del pensamiento
Y ver pasar la vida me hace tedio”.

Como sabemos, Bernardo Soares es, dentro de la ficción del libro que hoy presentamos, un simple ayudante de guarda libros en la ciudad de Lisboa, pero Pessoa lo define como una personalidad no distinta de la suya, “pero una simple mutilación de ella”. Se trataría del propio Pessoa restando el raciocinio y afectividad.

Introducido el poeta nos vamos al “Libro del desasosiego”. Para mí, (y creo que para los que son sensibles a estos temas de la literatura y de la poética) a nivel intelectual hay un antes y un después de haber leído el “Libro del Desasosiego”.

Se trata de una obra maestra póstuma, guardada en un sobre lleno de cientos de fragmentos que oscilan entre el diario íntimo, la prosa poética y la narrativa, textos estos que nadie sabrá si Pessoa tenía o no ganas de organizar. Este sobre ocultó durante 47 años el “Libro del Desasosiego”, curiosamente los mismos años que vivió Pessoa.

Este libro, que cuenta ya con innumerables versiones en portugués, y con cuatro traducciones en español es la prueba evidente que una prosaica cirrosis no impide un genio de la literatura de seguir creando. Como dice mi amigo Antonio, efectivamente Pessoa “es el único escritor muerto que publica más que escritores vivos; un milagro, un emblema de la modernidad”.

Esta nueva edición, de Jerónimo Pizarro, reconocido estudioso pessoano, vuelve al sobre, a la fuente de textos, creando un nuevo corpus y una nueva organización de la obra. Pizarro entra de esta manera en la historia del “Libro del desasosiego” que es también la historia de sus versiones y ediciones.

Pizarro se aleja de versiones anteriores al establecer una datación posible o aproximada de todos los fragmentos que constituyen su edición. Con un corpus de 445 fragmentos (número bastante inferior al encontrado en otras versiones), se incide en una lectura histórica con una supuesta evolución cronológica donde encontramos la progresión de sus dos semiheterónimos: el tantas veces olvidado Vicente Guedes y Bernardo Soares que es una apropiación tardía de la biografía de Guedes.  

Tenemos entonces dos heterónimos y una obra más corta, dividida en dos fases de escritura;
la centrada entre 1913 y 1920 de Guedes y una segunda, entre 1929 y 1934 protagonizada por Soares.

Partimos de una lectura más clara, más simbolista decadente, asociada a la figura de Vicente Guedes, y llegamos a una segunda parte, a un Bernardo Soares más sobrio, perplejo ante la condición humana, una personificación del tedio y la inacción, siendo, al mismo tiempo, un retrato de la ciudad de Lisboa. Pessoa y Lisboa son una rima perfecta, pero al contrario de Pizarro no creo que Pessoa sea Lisboa, puesto que el genio supera la capital.

Tuve la suerte de cruzarme con varias de las ediciones anteriores, sentí sus estados de alma, sus fragmentos indecisos, intenté ver sus enfoques y recorridos en todas las direcciones, y me alegro mucho que ahora Antonio Sáez, con esta traducción, sea también parte de la historia “desassossegada” de este libro.

Ahora me toca hablar de Antonio Sáez. Esta es, sin duda, la tarea más difícil porque Pessoa no fue maestro mío y Antonio lo fue y sigue siendo.

Ahora sería el momento en que yo alabaría su brillante currículum docente, sus artículos, su trabajo de traducción o su obra como poeta y escritor reconocida por el prestigioso premio Eduardo Lourenço. Creo que no hace falta. Todos los que estamos aquí conocemos la obra de Antonio o si no, disculpadme amigos, lo tenéis en internet. 

Prefiero volver atrás en el tiempo, hace 15 años, cuando conocí a Antonio, todavía con pelo y un poquito más gordito. En la Universidad de Évora, cuyo escudo preconiza el “honesto estudio”, tuve muchos profesores pero pocos maestros. No es por estar aquí hoy que puedo afirmar que Antonio fue uno de ellos. Preguntad a la mayoría de los alumnos de mi promoción.

En sus clases Antonio me dio más que Español I y II o Literatura Comparada. Yo, como estantería bastante vacía que era entonces, empecé a llenarme con sus sugerencias de libros y letras que hoy tengo tatuadas más allá de la epidermis. Pero también me presentó a Pepa y a su novio marino, personajes famosos de sus dictados inventados sobre la marcha.

Antonio me dio más que El Quijote de Cervantes.  Me montó en el  Seat 600 del Monseñor Quijote que me llevó, junto al alcalde Sancho, por esos campos de la Mancha (con unas paraditas para comer un trocito de queso manchego y una copita de Rioja).
Antonio, sin darse cuenta, me dijo que Machado también se crió en un patio como yo.

Antonio me dio “Instantes” de generosidad, como el que me está dando ahora al invitarme como amigo a presentar su traducción, “Instantes” que me acompañan en una fotocopia cutre (como todas las fotocopias que nos daba, sí, Antonio no es perfecto) de un poema de Jorge Luis Borges, que al final todavía no sé si es verdaderamente suyo…

Me gustaría terminar como empieza ese supuesto poema de Borges:
“Si pudiera vivir nuevamente mi vida
En la próxima trataría de volver a ser alumno de Antonio”.».

  


   




 


  



sábado, novembro 08, 2014

Catão (Eugénio Lisboa)



CATÃO

A pátria é triste. Sofro. Estou calmo.
Único honesto, entre deshonestos, clarividente,
entre os cegos, a indignação há muito acalmo.
Estou só. Sofro quando alguém sente.
A honestidade – que solidão! A coragem cansa.
Em breve, cadáver que a outros mortos fala,
penso em Atenas, plena de alegria mansa,
e no coração afogo palavras que o pudor cala.
Estou cansado de prever o negro acontecer.
Algo nasce. Algo morre. Com quem perde, estou.
Honestidade é pátria de quem outra não sabe ter.
Ao abismo das causas perdidas, quieto, vou.
Melhor do que ocupar-me da minha pobre vida,
agora que os pássaros a cantar começam,
na espada pego, com mão há pouco ferida
– o vento rasgo. Percebo que meus pés tropeçam.

Eugénio Lisboa


Lourenço Marques, 7.2.75




quinta-feira, novembro 06, 2014

Retrato

Hay un refrán portugués que dice: "mejor parecer que ser". En este retracto parece que me tomo bastante en serio, algo que intento no hacer, excepto con las cosas que me enamoran y con las cuales me comprometo. Y eso lo consiguió mi amigo Jose Manuel Méndez Sierra con su mirada y "click" artístico oportuno. 
Ahora ya puedo figurar en la contraportada de algún libro o revista con pinta de qué puedo decir o escribir algo con interés... A él (y a su esposa Ino) un fuerte abrazo y muchas gracias ("o meu muito obrigado!"). P.D. José, esperemos que puedas fotografiar esta cara dentro de veinte o treinta años arrugada por las risas que nos producen nuestras conversaciones de sofá (patrocinadas por un café cuyo nombre no quiero acordarme).

quarta-feira, outubro 29, 2014

O calão das trincheiras


Por estes e outros motivos é que sou um defensor acérrimo do calão e do seu estudo histórico e linguístico (e o vou dizendo quer para manter a sua história ou libertar a frustração do meu espírito). 
Eu, cuja pinta de “bife” não delata as minhas origens, finalmente entendo de onde vem este termo (nada a ver com o mundo dos talhos e magarefes) e outros que são uma constante no léxico português e com os quais podemos honrar os nossos avós (os meus bisavôs Leopoldo e Umbelino) que combateram na 1ª Guerra Mundial. Recordemos também que os que de lá vieram, meio loucos, “esgazeados” como ficaram baptizados, vítimas de gazes (como o mostarda), com a sua miséria pessoal enriqueceram o vocabulário e o imaginário cultural do povo português.
No centenário da 1ª Guerra Mundial, “Guerra de França” como dizia a sabedoria empírica, alheia a terminologias históricas, da minha avó Helena, continuar a entender o seu calão é uma boa homenagem aos que por lá andaram, “tugas”, “camones” ou “boches”. 
Vale a pena ler este trabalho da “Visão História”.

segunda-feira, outubro 27, 2014

De pé, amparado pela parede do tempo (Diário)

De pé, amparado pela parede do tempo, contemplo uma nova vida se forma no ventre da Elsa, da minha mulher. De pé, fascinado pela magia dum monitor.
Já criámos vida ao aceitarmo-nos como homem e mulher, reafirmámos a vida com o nascimento do Santiago e hoje contempla-se, nesta janela, não sei se de sistema operativo Windows, uma nova existência, de género provável masculino, de traço recente, a lápis, pouco apertado, provisório, no bloco de notas das nossas vidas.
Se se afirmar, contornar a caneta, a tinta permanente, chamar-se-á Xavier e não sabemos se chegará ao extremo oriente mas já atracou e evangelizou os nossos corações.
A escravidão do tempo revela-se na matéria perene dos nossos corpos. De isso não tenho dúvidas. Liberta apenas está, dos grilhões, quando explode com energia infantil, na recusa, não dominada pela gramática adulta, desarrumada, despenteada, mesmo com bronquite e a antibiótico, como as gracinhas do meu filho, alheio a tudo o que escrevo.
Pode ser que herde da infância a ternura e de poeta alguma loucura, que seja a sua carta de alforria à escravidão da matéria e do tempo. Que leia, talvez isto, que a alma pode ser tão perene quanto o corpo se não a cuidamos.
Este é o nosso tempo. Este é o nosso momento, esteja eu aqui a escrever, tu na cama a saltares, ou a mamã a carregar no ventre o que se vê numa janelinha dum monitor, que já é, mas ninguém sabe o que será.

"A Mística do Momento" num café.

O João Afonso, na letra do seu "Cheiro a café", canta "o sentido que eu tive da vida num café", o que poder-se-ia perfeitamente adaptar a esta "Mística do Momento" que tive numa bica, na companhia de José Tolentino Mendonça. "Não desistas da luz" e "agradece a dança luminosa do mundo ao teu redor" foram doces saquinhos de verdade para os meus sentidos, tal como a obra, neles citada, que agora dorme na minha cabeceira à espera de, logo à noite, ser acordada.

domingo, outubro 26, 2014

Para o Pessoa

«Quando contemplo o firmamento, obra das tuas mãos, a lua e as estrelas que fixaste lá, que é o homem – pergunto – para que dele Te lembres? Que é o filho do homem, para que Te ocupes dele?»
(Sl. 8, 4-5)

Para o Pessoa
Poeta versava com peta.
Misturou sinto com absinto
A estalar corações de vidro pintados,
Embriagado de si mesmo, como uma pedra, livre do monte,
No pára-brisas de um Chevrolet pela serra de volta à aldeia urbanizada pela sua infância.

Escreve de pé a razão que não sei
Que não soube e não souberam.
Digna do desassossego
Ao qual não me nego
Quer na estante, quer no instante.
Como Pessoa.

Mas não sou Pessoa
De encostar-se, de pé, à cómoda insónia.
Tenho o medo sonâmbulo de desfalecer no peso apoiado,
Que caia no chão, nas balelas,
E se abram as gavetas para as quais escrevo.

Soa-me a Pessoa
(a Fernando,
Pelo ir pela vida rimando,
Postando
Moderna filosofia de rede social).

Citando se vai andando
Pela literatura da amargura,
De avatares heterónimos,
Imbróglios
Dessa treta que é
Caso particular de binómio de

Pessoa humana.  

sábado, outubro 04, 2014

A minha manhã mais matinal (António Lobo Antunes)

"Assim a minha mãe: morreu à clara luz do dia e foi sepultada à clara luz do dia. Afastei-me um pouco porque sentia a terra das pás a cair-me no corpo". 
António Lobo Antunes in "Visão" (2/10/2014)



segunda-feira, setembro 22, 2014

Uma fotografia de Piergiorgio Branzi.



Taking the last day of the summer with Piergiorgio Branzi.




domingo, setembro 21, 2014

Somos Cante

Somos sangue.
Somos terra.
Somos quente suor.
Somos um rosto de frente.

O sangue torna-se terra,
O suor absorve o lenço
A cara dá-se pelos avós
E a voz torna-se cante.

Eu que nasci no Alentejo
Serei chão
Quando a seca me chegar às veias.

A alma
Essa, pelas veredas,
Além, à sombra,
Caminhará de braço dado
E passo lento,
Sincopado pelo coração
Que nos late à capela.
Comunga-se com água a ferver
Coentros, poejos e alho


E esperamos que o paraíso tenha taberna.

quinta-feira, setembro 18, 2014

quinta-feira, setembro 11, 2014

PAÍS DE AZULEJOS PARTIDOS - Mário Dionísio

PAÍS DE AZULEJOS PARTIDOS - Mário Dionísio
País de azulejos partidos
de erva trepando entre paredes em ruína
País entregue à sua sina
sem olhos e sem ouvidos
País voraz ruminando o almoço
rindo ou chorando incapaz de sorrir
País de corpo aberto a quem está a seguir
País do rastejar entre a pele e o osso
Pulinhos para trás e para a frente
de polegar na cava do colete
foguetes procissões uns copos de palhete
país da pequenez de si mesma contente
País indiferente aos que dão por ele a vida
País herói se não há perigo em sê-lo
País de velhos do Restelo
dado à mão-baixa perto e consentida
País que tudo quer e nada quer tudo suporta
País do faz como vires fazer
País do quero lá saber
do quem vier depois que feche a porta
Mário Dionísio,"Terceira Idade",1982
(1916-1993)

O Consentimento do Ódio (Texto)

Com a mente aturdida, mas passo-a-passo com o mestre sincronizado, um discípulo assume a sua confusão.
- Mas, Mestre está a dizer-me que soltar o nosso ódio resulta benéfico?
Ao qual, o mesmo respondeu, da forma como estavam habituados a reflectir através do diálogo, com outra interrogação.  
- Pensa bem, jovem amigo, não é positivo odiar a iniquidade, a discriminação, o egocentrismo, a altivez e todas essas particularidades que desfiguram o nosso coração?
Continuaram a caminhar lado a lado, à sombra rasgada pelos raios matinais de sol, e chegam a uma pequena clareira no bosque de bambu que com eles madrugava. O mestre contemplou o jovem rosto. Suavemente com uma mão de realidade, mas sem frenesi de verdade, apoiou-a absoluta e sem peso no ombro esquerdo do dilecto jovem.

- Na natureza existe, exibe-nos constantemente a sua total repulsa para manter o seu equilíbrio, para melhorar-se, para desenvolver-se uma e outra vez. Nós somos natureza, mas ao assumirmos diversos tipos de rejeição, acedemos à nossa humanidade. Negar o ódio, sim, é negativo. Nega-se assim o que a natureza partilha livremente connosco. Florescer de cabeça erguida, como agora aqui estamos, iguais ante o mesmo sol.  

Ultimate Fighting Toys

Um combate épico no “Ultimate Fighting Toys”! Dois brinquedos da feira da ladra digladiaram-se na arena da Foz do Arelho para ver quem é que vinha dentro ou fora da mochila do Santiago. Apesar da armadura espacial do Batman, e do "Batman Punch" o Nick Fury levou-o ao tapete com um “flying juji gatame”! "Tap out"! Marvel:1 DC:0.Haverá “rematch”? Terá de ser no inverno…