terça-feira, novembro 29, 2016
segunda-feira, novembro 28, 2016
Milagre da casa...
Acredito em milagres porque a casa da minha infância esteve em tijolo vivo, taipais nas janelas e esquentador onde tomávamos banho.
Acredito em milagres porque quem lá viveu tornou-se essa casa. Um edifício com história, precário de construção, austero em luxos, inseguro por ser tão fácil de arrombar, mas com gente dentro. Uma família de arquitectura imperfeita, e por aprovar as plantas na câmara municipal, com pobreza energética, mas com o valor de manter-se de pé, lado a lado, digna de não envergonhar a vizinhança.
domingo, novembro 27, 2016
"Digam-me como é uma árvore" – Marcos Ana (Trad. Luis Leal)
Que gentileza, que simpatia, que paciência para aturar-me...
Até hoje, nunca um desconhecido me tinha abordado pessoalmente a dizer que lê este blog e lhe agrada o que vai sendo escrito e publicado.
Fiquei algo desconcertado mas visivelmente agradado com tamanha gentileza e simpatia. Não tive ocasião para lhe dizer que este não é um dos melhores fóruns para aprender a língua portuguesa sem um, ou outro, erro de ortografia, tal como desculpar-me por esse facto me envergonhar. Tento rectificar essas lacunas com frequência, pesa-me na consciência, porém sei que continuarei a dar umas calinadas, na gramática e na sintaxe, por estas bandas de quando em vez.
Grafar os meus dias, os meus pensamentos, está a tornar-se o que algumas vezes imaginei no passado. Não profanarei a palavra "escritor" por purismo. Tantos anos de estudos literários nunca renunciaram a prática da literatura, o acto de escrever por si só, bastante mais antigo em mim que análises e teses.
A rapariga que me abordou disse-me o seu nome. Quis a imediatez do momento não memorizá-lo. Outro motivo para desculpar-me...
Viajante ou turista?
Dentro de mim sempre soube a resposta. Talvez nunca a tenha justificado por insegurança, por não parecer demasiado intelectual. Aí tenho outra lição a guardar.
Tive a oportunidade de questionar um grande escritor de viagens, o Gonçalo Cadilhe, onde existe a fronteira entre o viajante e o turista. O autor, a quem seguramente já fizeram esta pergunta mil vezes, não distingue um do outro, assume-se ambos, porque são o mesmo. Admite, no entanto, um pequeno matiz: a curiosidade. Esta característica talvez previligie um viajar mais autêntico.
O mundo, esse "lonely planet" mapeado e com guias recomendados, não traz certezas absolutas, traz reflexões que nos remetem para a insignificancia do ser e do estar humano.
"Lá por gostares de foigrat não significa que tenhas de conhecer o ganso" relembrou um Gonçalo que teve a humildade de comparar o seu registo literário ao do Quim Barreiros. Simples e assumido para os outros, aqueles que na viagem já vão na mochila, aqueles cuja viagem é o livro da viagem.
Aqui podemos ter "cagança", dar classe às palavras, preterir umas a favor de outras, e classifico o Gonçalo de viajante e de um ganso com quem não me importaria conversar e conhecer melhor as rotas de voo...
sexta-feira, novembro 25, 2016
A não ubiquidade do corpo
quinta-feira, novembro 24, 2016
Limpeza...
O meu pai morreu sem fechar o livro à cabeceira. Quase não via e acumulava volumes de papel reciclado em solidão.
O meu pai morreu sem deixar-me nada mais que livros.
Tenho de os fechar. Muitos talvez queimar, tantos outros doar. O meu pai morreu bolorento mas orgulhoso de só nos amar mais a nós do que as palavras. E morreu sem deixar-me nada mais que palavras.
Cabe-me a tarefa de limpar a sua última morada. Tanta papelada, tanto nada. Ninguém mais é capaz. Eu também não mas ele ensinou-me a não me queixar, a não me isolar em sentimentos que tantos outros também têm e não se justificam com eles.
Há montes de restos do meu pai aqui, acumulados em pilhas ou por ordem nas estantes do escritório, segundo o formato e não tanto o conteúdo. Sento-me a olhar para as nossas árvores, para as nossas vidas, podadas como se pôde. Há pouco do avô, algumas fotografias, memórias do tempo da sua guerra. Um relógio.
Corto o cordel de uma pilha de papel de jornal. Folheio o cheiro a humidade e decido desfazer-me dele na salamandra.
Porque é que teve de ser assim? Porque é que te dedicaste tanto a mim?
Quem é que me vai abraçar e aconchegar na cama?
Quem é que vai conversar com o homem que criaste?
Cai a lágrima em direção ao chão outrora nosso. Cai antes na mão, no punho entreaberto da navalha que, antes de minha, antes de tua, fora do avô.
Germina a semente no coração. Com esta lágrima. Agora sei porque tantas vezes sentias o meu peito, apertavas contra o teu.
Posso despedir-me pai.
Não quero nada. Deste-me tudo em vida. Vou fechar todos os teus livros. Só assim posso abrir o meu.
quarta-feira, novembro 23, 2016
Reconciliado com o passado?
Ó homem imperfeito! Idiota da história! Estúpido desencontro com a natureza! Como te podes reconciliar com as barbaridades do passado, se no presente te posicionas outra vez errado?
E o pior não é estares enganado, é andares para aí a apregoar que és sábio!
Évora, a terra da alma (30 anos, Património da Humanidade)
domingo, novembro 20, 2016
"Habitar" de José Antonio Santiago
Sexualidade galáctica
sábado, novembro 19, 2016
Plantar
obcecamo-nos com o crescimento
da árvore.
sem querermos, as raízes aprofundam-se em esquecimento.
nos obsesionamos con el crecimento del árbol.
sin querer, las raíces
se profundizan en el olvido.
sexta-feira, novembro 18, 2016
Triste parque esquecido...
Na cidade, os espaços dedicados às crianças costumam ser os parques infantis. É frequente, em várias zonas de influência, encontrar este mobiliário urbano gasto pela criançada e vandalizado pelos "nem, nem". Escorregas, baloiços e balancés, são o contacto que alguns dos nossos filhos têm com a natureza biomecânica dos seus corpos.
Não gosto de parques infantis. Se vou é porque não há alternativa ou porque é necessário ar da rua. Concordo com o que me diz uma colega de trabalho, uma analogia urbana e perfeitamente entendível para o citadino comum, "los niños tienen que sacarse a la calle a diario como los perros". Poucas vezes estamos de acordo.
Este Verão, a escassos metros do parque infantil da nossa área de residência, inaugurou-se uma infraestrutura invejável dedicada à pequenada, uma infraestrutura centrípeta que suga as brincadeiras para além do bairro e faz com que, miúdos e graúdos, ali se acumulem em uniformidade.
A empurrar o carrinho do mais novo e de mão dada ao mais velho, passei de largo, com a sentença lida de não haver tempo para nos juntarmos à maralha. Foi nesse momento que o meu filho mais velho me disse "papá, o parque sente-se triste". Desconcertado, não o entendi à primeira. "Este não papá, o outro que já não tem meninos".
Não me atrevi a estragar tão belo sentimento de infância. Apertei-o contra a minha perna e anca com os seus cabelos arrepiados entre os meus dedos. "Não te preocupes, qualquer dia vamos lá fazer-lhe uma visita".
terça-feira, novembro 15, 2016
Netos dos filhos, dos filhos da ira
segunda-feira, novembro 14, 2016
"I love gazpacho, I not love freedom" (www.politocracia.com)
Entrad en "Dentro del Secreto", nuestra traducción (Pedro L. Cuadrado y Luis Leal) del viaje a Corea del Norte de José Luís Peixoto, publicado por Xordica Editorial. ¿Se comerá gazpacho en Corea del Norte?
Um desenho de infância...
Um desenho de criança é um dos melhores recordatórios de amizade pura e desinteressada. O meu filho mais velho trouxe um hoje para casa. É do seu primeiro melhor amigo. O meu foi o Carlos. Tenho saudades dele, de subirmos os postes das balizas da escola como amigalhaços e imitadores de bombeiros...
Fala-se tanto do primeiro amor, dá-se-lhe tanta importância e, por vezes, um teor ultraromântico. Entre o meu primeiro amor e o meu primeiro grande amigo, fico com o segundo, esse com quem não nos importamos de partilhar o primeiro grande amor...
O Carlos e eu assim o fizemos, a Ana Albano recebeu cartas escritas no amor infantil da primeira pessoa do plural. Obrigado ao Fernando, irmão mais velho do Carlos, por escrever sentimentos idiotas de dois meninos que não imaginavam um dia descobrirem que idiotice é coisa de adultos.
domingo, novembro 13, 2016
Fim da semana
Estou cansado. Pouca paciência tenho. A semana termina e tenho a certeza de ter sido das mais determinantes que vivi na minha vida.
Primeiro, burocracia medonha e nada esclarecedora do que um gajo anda para aqui a existir.
Segundo, trabalho e local da labuta em clima de conflito entre pares. Tento abster-me do ridículo da situação, da falta de relações de afecto, sexuais mesmo, de alguns que canalizam a sua energia vital para isso. Sinto vergonha alheia por eles mas confesso estar já a afetar-me a sua conduta.
Terceiro, o Trump ganhou as eleições do país mais influente do mundo e tenho a certeza que isso vai afetar-nos negativamente a todos. Uso um eufemismo para não cair em pessimismo reforçado por uma intuição aguda.
Quarto, apresento o meu trabalho a gente disposta a prestar-me atenção. É bom para o ego e para a minha ética de trabalho, trabalhar arduamente como forma de respeito por aqueles a quem me dirijo. Na escola, nem sempre trabalho com este perfil de gente...
Quinto, estou a organizar-me para terminar outra etapa académica. Mais do que um título, é uma questão de determinação e vontade de que algum conhecimento não voe sempre com o vento...
Sexto, morreu o Leonard Cohen. Perdi o poeta da cassete original encontrada no banco da automotora e trazida para casa pelo meu pai. Talvez o único suporte de poesia por ele me oferecido enquanto jovem.
Sétimo, fiz gala de ser tão pouco rebuscado, fino, afinal tímido sem o aparentar. Fiz gala de ser quem sou, um tipo qualquer com muita coisa a fervilhar dentro e muita ambição de voar alto com os pés bem assentes no chão.
Oitavo, fui um pai presente mas irritado, visceral visível que se arrepende de não ser capaz de interpretar o papel do pai ausente que quando está compra o tempo com papel de notas de euro.
Estou cansado. Pouca paciência tenho. Gostava de poder rezar como quando acreditava em superpoderes divinos, milagres documentados em propaganda religiosa. Era tudo mais fácil mas mesmo assim prefiro entender estas semanas estranhas como responsabilidade nossa e não de Deus. Quanto muito, esta semana, pode ter sido vitoriosa para o Deus envangelista dos apoiantes do Sr. Trump, o tirano do penteado à base de laca.
Vou construir um muro ao redor de mim esta semana agora a começar. Prometo derrubá-lo quando tiver o exército preparado para proteger-me de mim mesmo.
sábado, novembro 12, 2016
quinta-feira, novembro 10, 2016
Plasencia, 9/XI/2016
Passear na "Plaza Mayor" e ver o sol a pôr-se por entre os edifícios frios é um prazer para o meu deambular limitado pelos compromissos de hora marcada. Se vou escrevendo é também graças a sítios como este, generosos e acolhedores.
De tão castelhana que é, fez-me lembrar as ruas da minha cidade, aquela que me ensinou a deambular. A moura Évora.
terça-feira, novembro 08, 2016
segunda-feira, novembro 07, 2016
A lenda do Galo de Barcelos (em inglês!)
domingo, novembro 06, 2016
in "Terra de Sonhos" de Jiro Taniguchi
esfia-se nas patas dos gatos.
finda estirado ao sol de domingo.
Finaliza estirado al sol de domingo.
quinta-feira, novembro 03, 2016
Qué hermoso viajar, muchachos...
“Que belo é viajar, rapaziada, que belo é andar
de bicicleta com a camisola vestida
em uma bela jornada, por um belo caminho,
com o coração contente e nos ossos alegria.”