segunda-feira, fevereiro 07, 2011

“Adiós” Ramal de Cáceres

131 anos por esses carris e travessas de história não foram argumento suficiente. O ramal de Cáceres foi suprimido no primeiro e derradeiro dia de Fevereiro. Para trás ficou o eco serrano da indignação popular e autarquias do norte alentejano que pouco, na realidade nada, pôde fazer contra a posição impassível da CP.
                Por este ramal passava o serviço regional, um comboio fundamental para estas localidades da raia, numa velocidade que nada tem a ver com as siglas do TGV, no entanto bastante digna dos locais que percorria até à sua final entrada em território espanhol.
                Este itinerário entra em Espanha através do Parque Natural da Serra de S. Mamede, deixando para trás localidades tão belas como Castelo de Vide e Marvão, servido pela última estação lusa da Beirã, e enclave fronteiriço com a estação espanhola de Valencia de Alcántara.
Como antes referi, os números não foram significativos para a CP, argumentando que a média diária de três passageiros não justificava o serviço. Houvera já há escassos anos um prenúncio da morte desta linha férrea, durante os meses de inactividade para uma suposta melhoria na via, mas será que o património cultural, histórico e humano não poderiam ser uma mais-valia ater em conta? Um argumento a considerar e a potenciar pelos Caminhos de Ferro Portugueses? Utilizando e explorando as característica e especificidades dos vários ramais implementados desde o século XIX em Portugal?
                Claro que não. Se o mesmo aconteceu com a mediática linha do Tua (em pleno Douro, património mundial vinhateiro), como é que o sotaque do norte Alentejo se faria ouvir? Ainda por cima no despovoado distrito de Portalegre?! Sem dúvida é, e será sempre, mais fácil suprimir que correr o risco de solucionar.
                Ao poder central é-lhe efectivamente indiferente o que se passa nesta região. Quer lá saber que por esta ferrovia, durante anos, passaram vidas, negócios e histórias às quais esta indiferença votou, de maneira economicista, a “reles” memória de quem por lá, literalmente, resiste. O prejuízo não está nos cofres da CP, está no descontentamento desta região que acena desde o alto da serra ao país vizinho.
                Tenho a certeza que se o Capitão Salgueiro Maia estivesse entre nós - um homem de princípios e moral, como a história atestou num ideal puro, desinteressado e apolítico da Revolução dos Cravos -, estaria na frente do protesto, no grito da indignação, ao ver a sua região natal e o ramal da sua vida, no qual o seu pai trabalhou, continuando saudoso numa reminiscência ainda viva entre habitantes, ex-funcionários da CP e, mesmo, da RENFE espanhola, caírem no esquecimento de lucros a apresentar em reuniões de conselhos de gerência.
                Será que se tem em conta que por esta linha ainda passa um comboio diário fundamental na acessibilidade ferroviária ibérica? Será que o “Lusitânia Comboio Hotel” também está votado às mesmas medidas? Se já se pondera o mesmo para o “SudExpress”… não seria uma surpresa certamente.
Enfim, utilizando linguagem ferroviária, só o futuro sabe se os nossos decisores continuarão a optar pela bitola mais fácil e comum, a da supressão…

1 comentário:

Paulo disse...

Caro amigo

Como membro do GAFNA - Grupo de Amigos da Ferrovia Norte Alentejana, que tanto tem lutado pela defesa da ferrovia no Alto Alentejo, saúdo o seu artigo. Houvesse mais gente como o senhor, que lutasse, denunciasse... talvez as coisas fossem diferentes.
No entanto a luta continuará, para já com uma petição a entregar dentro de dias no parlamento.

Atentamente
Paulo Fonseca