Jorge Palma tem a característica de ser, para além de um excelente músico (principalmente ao piano), um poeta comprometido consigo mesmo, isto é, com o que é do domínio humano. Quando estava a roubar esta imagem ao tempo, ouvia este poema, de sua autoria, musicado nos meandros da solidão...
"Está um velho no jardim
Com cabelos de algodão
Tem dois olhos cor de mar
E uma cruz em cada mão
Uma cresce de um altar
Outra é uma ilusão
Continuo a subir
Vejo um milhão de ideias falsas
Num crucifixo conjectural
Concebido para salvar almas
De asfixia existencial
Está um velho no jardim
Que me olha com rancor
Tem dois olhos de marfim
Afiados no pudor
Mas as coisas que ele faz
Não parecem ter calor
Continuo a subir
Feita de sangue e de cetim
Garantida por dois mil anos
Mas que está a chegar ao fim"
2 comentários:
Velho
Parado e atento à raiva do silêncio
De um relógio partido e gasto pelo tempo
Estava um velho sentado no banco de um jardim
A recordar fragmentos do passado
Na telefonia tocava uma velha canção
E um jovem cantor falava na solidão
Que sabes tu do canto de estar só assim
Só e abandonado como o velho do jardim?
O olhar triste e cansado procurando alguém
E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
Sabes eu acho que todos fogem de ti prá não ver
A imagem da solidão que irão viver
Quando forem como tu
Um velho sentado num jardim
Passam os dias e sentes que és um perdedor
Já não consegues saber o que tem ou não valor
O teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim
Para dares lugar a outro no teu banco do jardim
O olhar triste e cansado procurando alguém
E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
Sabes eu acho que todos fogem de ti para não ver
A imagem da solidão que irão viver
Quando forem como tu
Um resto de tudo o que existiu
Quando forem como tu
Um velho sentado num jardim...
Gosto muito dos teus "roubos". És um larápio com bom olho. Gosto do poema, a velhice deve ser uma cena lixada...
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