Há cerca de duas semanas, numa daquelas tardes em que pude dedicar um pouco de tempo a explorar estas terras raianas do norte Alentejo e da Extremadura, rumei até à aldeia fronteiriça da Beirã, onde podemos ver a última estação da Refer no ramal de Cáceres. Por aqui andava, a vasculhar antigos postos alfandegários, creio que inclusivamente um antigo “escritório” da PIDE, quando sou abordado por um senhor idoso com um discurso incompreensível. A minha primeira reacção foi de desconfiança, talvez porque parecia uma conversa sob a alçada do “Sr. Vinho”, que pouco a pouco baixou a guarda. Este senhor pediu-me para lhe tirar uma fotografia, ao qual eu disse que sim mas com a condição que teria que ser com o telemóvel, pois não me fazia acompanhar com o meu “machibongo”. Pena que não lha pude mostrar como nas comuns máquinas digitais… talvez tivesse ficado mais feliz.
Este indivíduo é um claro reflexo do isolamento que estas terras vivem, do seu carácter extremamente periférico, tido como algo positivo para alguns pois crêem que assim a terra não se corrompe. Sinceramente não posso, nem quero opinar o mesmo. Há que ter em conta que a constituição de 1976 aborda o tema da igualdade de oportunidades entre o mundo rural e o mundo urbano como algo comum a ambos e não como apanágio exclusivo do que é tido como a “urbe”. Tenho pena que esta sociedade de cariz global continue a votar o interior a uma exclusão que não tem sentido. Não quero acreditar que as teorias de Rousseau se adeqúem a uma possível corrupção deste meio, quero acreditar, sim, que as crianças que aqui nascem (se é que as há?) possam vir a orgulhar-se e a contribuir para um desenvolvimento sustentável do local que as viu crescer e, talvez, um dia, possam ser idosos, bem diferentes deste senhor que metaforicamente representa a sua região.
1 comentário:
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