De pé, amparado pela parede do tempo, contemplo uma nova vida se forma no ventre da Elsa, da minha mulher. De pé, fascinado pela magia dum monitor.
Já criámos vida ao aceitarmo-nos como homem e mulher, reafirmámos a vida com o nascimento do Santiago e hoje contempla-se, nesta janela, não sei se de sistema operativo Windows, uma nova existência, de género provável masculino, de traço recente, a lápis, pouco apertado, provisório, no bloco de notas das nossas vidas.
Se se afirmar, contornar a caneta, a tinta permanente, chamar-se-á Xavier e não sabemos se chegará ao extremo oriente mas já atracou e evangelizou os nossos corações.
A escravidão do tempo revela-se na matéria perene dos nossos corpos. De isso não tenho dúvidas. Liberta apenas está, dos grilhões, quando explode com energia infantil, na recusa, não dominada pela gramática adulta, desarrumada, despenteada, mesmo com bronquite e a antibiótico, como as gracinhas do meu filho, alheio a tudo o que escrevo.
Pode ser que herde da infância a ternura e de poeta alguma loucura, que seja a sua carta de alforria à escravidão da matéria e do tempo. Que leia, talvez isto, que a alma pode ser tão perene quanto o corpo se não a cuidamos.
Este é o nosso tempo. Este é o nosso momento, esteja eu aqui a escrever, tu na cama a saltares, ou a mamã a carregar no ventre o que se vê numa janelinha dum monitor, que já é, mas ninguém sabe o que será.
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