terça-feira, abril 28, 2015

800

a única coisa que flutua é apatia
nunca se poderá diluir em política
nem filtrar em hipocrisia

mergulham vidas a pique
como uma pedra num lago infantil
assobiando como uma bomba numa guerra civil

fazem-se ao mare clausum com a esperança
de um mare liberum de futuro

morrem sem caixão nem lençol
morre-se de balsa, ataúdes sem velas
sem velas

800
número redondo
pesado
obesidade mórbida numérica
afogada em aritmética de indiferença

800
número asfixiado
ao ar
mas aberto a qualquer
somatório a este êxodo fúnebre

afunde-se a vergonha
na apneia deste número
não respiremos também
enquanto continuemos submersos
enquanto não voltemos à superfície
à tona
da nossa humanidade




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