sábado, fevereiro 21, 2015

O caminho do guerreiro (Bushido do século XXI)

O caminho do guerreiro (Bushido do século XXI)

Existe uma tendência que se concretiza no vazio porque com o corpo se nasce e se morre. Vazio de adornos que não fiquem gravados na epiderme ou grafados na intemporalidade do ser.
As artes marciais são um adorno intangível, imaginado em estética, porque não adornam o corpo, endurecem-no e realizam-se na ética dum espírito que entende dualidades, tanto vive tempos de guerra como de paz.
Em silêncio, sem grandes alaridos, colocam-te ao espelho limitações, desafios reais dum segundo cuja competitividade é unicamente manter-se com vida outro segundo.
A forma existe para mostrar a vida de um conteúdo, adapta-se porque interpreta o real e eterniza-se na curiosidade humana que se senta na necessidade de reflexão.
O espírito marcial em pleno século XXI não ecoa cortante no gume da katana, não se enumera em códigos Hagakures ou se circunscreve a Livros dos Cinco Anéis. Sun Tsu, perdeu-se pervertido por economistas, políticos ou vendedores. Resta-nos a sua essência, uma quietude funesta, último ardil contra a voracidade deste tempo que nos obrigam a comprar.
O guerreiro do presente não é um arquétipo do oriente, nem casta militar de ordem cavaleiresca no ocidente.
Em silêncio, por vezes no murmúrio da escrita, não associa estoicismo ao renegar a queixa, honra a coragem dos seus antepassados com as mãos mais que vazias, despojadas, pela violência feita economia, casas frias pelo absurdo valor de qualquer energia, com as 24 horas do dia transformadas em múltiplas ânsias que tem de acalmar, que tem de pelejar.
Não há glória para o guerreiro do século XXI, nem novelas cavaleirescas, nem ideais quixotescos. O peito aberto não é heroísmo de estratega. É falta de roupa.
O romantismo do martírio não tem sentido porque os esforços de guerra cavam sempre trincheiras de lama e as ratazanas apenas trazem a doença de mais uma conta que saldar.
À noite, o merecido descanso do guerreiro embala-se numa rede de desespero. Partilham-se filosofias virtuais para que se mantenha da ideia o sonho. O espírito desnutrido sobrevive adormecido por uma refeição diária mas conectada com o mundo.
Não há hara-kiri assistido. É normal ver um guerreiro de joelhos. Há dignidade na humanidade em genuflexão ante a sua própria condição, sempre que nos joelhos não pese humilhação.
Existe a tendência ao vazio.
A casta de ser-se guerreiro revela-se na coragem com que alguns assumem a sua condição sem pudor, sem a vergonha da violência deste presente em todo o mistério parece revelado por o futuro contido neste novo século. Não há muita luz nem virtude nesta condição.
Existe realidade no vazio, mas ainda há escassa liberdade de decidir se vale a pena levantar a guarda e lutar. 

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