domingo, março 08, 2015

Mulheres perseguidas à coronada... (Imagem extraída da revista Sábado nº 470 de 2013)

No feminino.

Hoje é Dia da Mulher. Frase batida e nada de novo. Tende-se a isso, isto é, o mercado instaurar efemérides para vender o que quer que seja, a quem quer que seja. Uma mentira tão acéfala em si mesma, na sua vacuidade, que se torna verdade.  
No entanto, os outros 365 dias que esquecem as mulheres anulam dias como este em que muitos de nós pensamos “melhor um dia que nenhum” para celebrar essa metade que cria e carrega a vida no seu ventre, que luta diariamente e anacronicamente porque o natal que leva dentro de si a torna menos produtiva para esse tal mercado das efemérides, dos dias para celebrar.
A mulher quando nasce já traz dentro de si uma valentia protectora desinteressada, da maternidade que a gerou e jurou eternizar-se no seu corpo, com ou contra a sua vontade, caso a sociedade assim o decida e as religiões assim o amparem em adjectivações pecaminosas.
Nascer mulher evidencia o perigo que é -desculpem a redundância- ser-se mulher. Acarreta o risco de ser estuprada no seu direito a ser mulher -outra vez a minha redundância feminina- porque se nasceu num sítio onde criminosos têm prazer em mutilar clitóris ou, numa impunidade descarada, cobrem a sua vergonha masculina no rosto e corpo submisso feminino que violam cada vez que respiram. Argumenta-se com cultura ou vontades divinas, justifica-se a barbárie até com o recurso a palavras e escritos de punho e voz no feminino. Eu argumento com o peso secular de saber que vou ofender, uma vez mais, a dignidade duma mulher: a puta que os pariu! (Peço perdão à meretriz, que fique apenas o tom enfático do vernáculo).
Então neste calendário de mercado, hoje também é o meu dia porque sou homem gerado no ventre duma mulher, educado por e com mulheres, amado por mulheres e com a certeza que amo e amarei várias mulheres. Não é o momento para discutir tipos de amor, quem está a ler estes parágrafos não se confunde.
Homenagear as mulheres 365 dias por ano, é ser-se homem com “M” maiúsculo. É repudiar tanto o machismo como o feminismo, é saber que a igualdade do ser humano reside na sua diferença biológica que se completa em géneros livres para que exista um futuro…
Seres humanos a sério não necessitam de dias destes para que se lhes recorde o género. Estão lá, no dia-a-dia, juntos. Na dureza da existência que se suaviza na pele e no abraço consentido, porque na dignidade, na liberdade, não existe masculino nem feminino…
Por isso, lembrei-me desta imagem do passado que recortei para nunca me esquecer. Haverá muitas mais, e mais chocantes ainda, por esse mundo fora. “Mulheres que foram expulsas à coronada porque foram apoiar os seus homens”…
Já que está na moda ser-se tanta coisa, orgulho-me em ser um homem que se sente uma costela das mulheres. O que vem na bíblia não me convence. 


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