No feminino.
Hoje é Dia da Mulher. Frase
batida e nada de novo. Tende-se a isso, isto é, o mercado instaurar efemérides para
vender o que quer que seja, a quem quer que seja. Uma mentira tão acéfala em si
mesma, na sua vacuidade, que se torna verdade.
No entanto, os outros 365 dias
que esquecem as mulheres anulam dias como este em que muitos de nós pensamos “melhor
um dia que nenhum” para celebrar essa metade que cria e carrega a vida no seu
ventre, que luta diariamente e anacronicamente porque o natal que leva dentro
de si a torna menos produtiva para esse tal mercado das efemérides, dos dias
para celebrar.
A mulher quando nasce já traz
dentro de si uma valentia protectora desinteressada, da maternidade que a gerou
e jurou eternizar-se no seu corpo, com ou contra a sua vontade, caso a sociedade
assim o decida e as religiões assim o amparem em adjectivações pecaminosas.
Nascer mulher evidencia o
perigo que é -desculpem a redundância- ser-se mulher. Acarreta o risco de ser estuprada
no seu direito a ser mulher -outra vez a minha redundância feminina- porque se nasceu
num sítio onde criminosos têm prazer em mutilar clitóris ou, numa impunidade
descarada, cobrem a sua vergonha masculina no rosto e corpo submisso feminino
que violam cada vez que respiram. Argumenta-se com cultura ou vontades divinas,
justifica-se a barbárie até com o recurso a palavras e escritos de punho e voz no
feminino. Eu argumento com o peso secular de saber que vou ofender, uma vez
mais, a dignidade duma mulher: a puta que os pariu! (Peço perdão à meretriz,
que fique apenas o tom enfático do vernáculo).
Então neste calendário de
mercado, hoje também é o meu dia porque sou homem gerado no ventre duma mulher,
educado por e com mulheres, amado por mulheres e com a certeza que amo e amarei
várias mulheres. Não é o momento para discutir tipos de amor, quem está a ler
estes parágrafos não se confunde.
Homenagear as mulheres 365
dias por ano, é ser-se homem com “M” maiúsculo. É repudiar tanto o machismo
como o feminismo, é saber que a igualdade do ser humano reside na sua diferença
biológica que se completa em géneros livres para que exista um futuro…
Seres humanos a sério não
necessitam de dias destes para que se lhes recorde o género. Estão lá, no
dia-a-dia, juntos. Na dureza da existência que se suaviza na pele e no abraço
consentido, porque na dignidade, na liberdade, não existe masculino nem feminino…
Por isso, lembrei-me desta
imagem do passado que recortei para nunca me esquecer. Haverá muitas mais, e
mais chocantes ainda, por esse mundo fora. “Mulheres que foram expulsas à
coronada porque foram apoiar os seus homens”…
Já que está na moda ser-se tanta
coisa, orgulho-me em ser um homem que se sente uma costela das mulheres. O que
vem na bíblia não me convence.
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