“É uma pulseira?
O
pai respondeu que não, e mostrou-lhe. Com o bico de uma esferográfica, começou
a acertar o relógio de pulso. Esse trabalho era acompanhado por apitos que
impressionavam, pi piii, pi piii. Joaquim Janeiro regalava-se com esse papel de
arauto do progresso. O presente da filha era um relógio digital, comprado em
Badajoz. A bracelete era toda de metal. Dava as horas inequívocas, mas tinha um
botão que fazia aparecer a data e, se carregasse duas vezes, ficavam os
segundos a passar. Havia ainda outro botão que, incrivelmente, dava luz. Essa
era a função preferida da filha. Era à prova de água, mas não convinha
experimentar. O pai ajustou-lho ao pulso, toda agente quis vê-lo de perto. Até
os vizinhos, que estavam pendurados na ombreira da porta, deram dois ou três
passos no interior da casa para se espantarem com esse produto. Conceição,
vaidosa, exibiu-o com generosidade, mas só até certo ponto, jurou estimá-lo
para sempre.”
José Luís Peixoto in
“Galveias” p.160 e 161
Sem comentários:
Enviar um comentário