segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Terrorismo a pedais


Não é de estranhar que Portugal tenha resultado ser interessante para o grupo terrorista basco da ETA e que aqui se estabelecesse uma infra-estrutura como a recém-encontrada em Óbidos. De acordo com o diário espanhol “El Mundo”, há já dez anos atrás, em 2000, dois operacionais do grupo terrorista, Andoni Otegi e Oscar Celarain, aconselharam a cúpula etarra a montar uma célula em Portugal, argumentando a facilidade de movimentos, sem a necessidade de adoptar medidas de autoprotecção rígidas, como a de deslocar-se um de carro roubado enquanto outro utilizava os transportes públicos para evitar detenções duplas, algo que nos últimos anos tem sido difícil no outro país que partilha fronteira com Espanha, em França.

No País Basco francês, a cooperação entre Espanha e França tem sido fundamental no combate anti-terrorista e tem infligido pesadas baixas nos operacionais da ETA, daí que os argumentos de que era fácil o grupo basco mover-se em território luso e que cruzar a fronteira não supunha nenhum tipo de problema, podem ter sido fundamentais nesta recente mudança de estratégia por parte dos separatistas bascos.

O mais irónico da situação reside no facto de, segundo o “El Mundo”, estes dois terroristas que estiveram e operaram no nosso país terem admitido que um dos procedimentos mais indicados para realizar o seu “trabalho” era deslocarem-se por a raia hispano-lusa de bicicleta. Otegi e Celarain, que não se pense que o fizeram por questões ambientais, tinham passado várias semanas a cruzar as fronteiras de Portugal a Salamanca e a Badajoz, viagens essas que lhes permitiu reunir informação sobre distintos objectivos, alvos humanos e directrizes do grupo terrorista e separatista basco.

Mas o uso do território português por parte dos membros da ETA, buscando a segurança perdida em França que anteriormente lhes servira de refúgio, é já irrefutável, apesar de não sabermos efectivamente há quanto tempo actuam dentro de Portugal.

No entanto, no nosso território não dispõem de recursos ideológicos humanos que os apoiem (talvez algum “pseudorevolucionário” ressabiado dos tempos do terrorismo pós-25 de Abril, que não assimila que o uso da força no contexto actual basco não tem o mínimo sentido), algo que ainda poderiam encontrar na fronteira norte de Espanha.

Outro argumento de peso é que não existe cumplicidade cultural entre os dois países (distantes a não ser nas boinas, imortalizadas pelos nossos pescadores e depois tida como símbolo revolucionário), o que, daqui em diante, com a opinião pública portuguesa informada pela comunicação social, não facilitará os movimentos a estes terroristas. No entanto, mais do que as ideologias, o dinheiro sempre falou mais alto, daí que as autoridades têm de se manter alerta.

Esperemos que a presença da ETA não se volte a sentir em Portugal (e que em Espanha os nacionalismos se rejam democraticamente), não sendo nada mais do que um aspecto anedótico que tanto caracteriza o humor luso. Não sei se recordar-se-ão de uma velha anedota “seca” sobre a ETA em Portugal? Se não permitam-me rematar esta crónica com a mesma.

Estavam dois homens numa taberna no Alentejo com as suas pasteleiras paradas em frente da porta do estabelecimento. Beberam o seu tinto e voltaram aos seus respectivos “fieis corcéis” quando se dão conta do seu furto. Junto à taberna estava sentado o “Ti Manel”, a única testemunha do “palmanço”.

- Óh Ti Manel, não viu quem é que nos roubou as pedaleiras?

Com o tom calmo que o caracteriza, o Ti Manel respondeu:

- Atão na vi!? Foram os gajos da ETA…

A surpresa não poderia ser maior para estes dois homens, a ETA aqui? Em pleno Alentejo? O que o Ti Manel depressa justificou.

- Passaram aqui, viram a bicicleta e o cabecilha disse logo ao agarrá-las “eta é minha, eta é tua”…

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