sexta-feira, agosto 12, 2022
Crónica: "Humildade na era da mediocridade" de Luis Leal (in "Mais Alentejo" nº161, p. 94) - texto integral
Crónica: "Humildade na era da mediocridade" de Luis Leal (in "Mais Alentejo", nº161, p. 94) 2
quinta-feira, agosto 06, 2020
Diário esforçado de um dia de preguiça... (Para os meus filhos)
Tenho dificuldade em lidar com a preguiça, com a apatia, com o “deixa andar”. Sei que os meus filhos são vítimas desta minha faceta, desse meu desprezo (a roçar o ódio, admito) pela falta de um esforço mínimo, típico de quem está à espera que venha alguém fazer por ele.
Parte do que sou forjou-se assim, a trabalhar, a esforçar-se por conseguir o que quer que fosse. Exemplos de esforço (muitos deles invisíveis de tanta discrição) não me faltaram e não me faltam, apesar da escassez de reconhecimento.
Alguns podem ver um peso nesse legado (admito determinismo psicológico), mas eu vejo dignidade e orgulho-me disso, pois tem sido através do esforço ensinado que consigo muitas vezes chegar à conclusão que não merece a pena esforçar-me mais. É um paradoxo, porém, quantas coisas da vida se aprendem através das suas contradições? Parece-me que muitas e não é preciso esforçarmo-nos, temo-las em frente do nariz e a máscara destes dias só oculta a visão a quem quer.
É verdade, a falta de esforço com frequência dá a mão à falta de responsabilidade. E se lhe somarmos uma personalidade centrada em si mesma, a aritmética torna-se explosiva.
Lá fora ainda não estão a cair bombas para recuperar a indústria do armamento (o que aconteceu em Beirute e as declarações do execrável Trump preocupam-me), mas há por aí bombas-relógio de irresponsabilidade de todos os tipos. Jovens e menos jovens, adultos e adultas (não se me acuse de falta de “inclusividade”) e algum idoso senil que por aí ande a par da sua altíssima probabilidade de acabar nos cuidados intensivos.
Se custa usar a máscara e manter uma certa distância física, se com este pequeno esforço a sociedade se comporta com um “deixa andar”, como será se a coisa piora e tem de passar fome? O smartphone não se come e as selfies só alimentam o ego...
Custa-me lidar com esta gente que não faz um mínimo esforço para que a nossa saída à rua tenha um pouco mais de segurança. Custa-me ver grupos de adolescentes sem máscara e com muitíssimo contacto físico quando eu exijo ao meus (inclusivamente ao que por lei não a necessita usar) para porem sempre a máscara e se distanciarem das pessoas para todos podermos avançar nestes tempos com alguma quotidianidade.
Os danos colaterais desta falta de solidariedade são mais do que evidentes na sociedade e pouco tocam as elites, protegidas ao longo dos tempos pelo seu status e pelo acesso ao conhecimento. O resto protege-se com o bom senso até chocar com a falta de bom senso dos outros, por mais que se isole e se lhes diga que o vírus que aí anda é invisível. Eu vejo-o bem e sou míope.
Como vejo os adolescentes que se estão a cagar para os pais e avós, como vejo os políticos a não reconhecerem ser primordial o entendimento e só depois a ideologia, como vejo os empregos a desaparecerem e os negócios a fecharem, como vejo a natureza agónica agora também a sufocar com lixo do que nos protege do vírus, como vejo esta mínima falta de esforço que vai acabar por clamar por mão dura, repressão e, como tantas vezes me lembro, aplaudiremos enquanto vai desaparecendo a liberdade.
Para sobreviver a maioria não necessita de liberdade, isso é coisa de minorias.
Os meus filhos talvez me perdoem quando forem mais velhos e entenderam o seu pai irascível quando lhes entrava a preguiça aguda. Se não me perdoarem, têm de se aguentar, como eu, com um legado de livros e enxada que lhe foi imposto e que conscientemente quero carregar...
Filhos, se algum dia lerem este diário, tudo se resume a uma frase: o vosso pai, se queria ser minimamente livre, tinha de se esforçar.
segunda-feira, junho 01, 2020
Exaustos-e-correndo-e-dopados
Exaustos-e-correndo-e-dopados
Na sociedade do desempenho, conseguimos a façanha de abrigar o senhor e o escravo no mesmo corpo
ELIANE BRUM
4 JUL 2016
Nos achamos tão livres como donos de tablets e celulares, vamos a qualquer lugar na internet, lutamos pelas causas mesmo de países do outro lado do planeta, participamos de protestos globais e mal percebemos que criamos uma pós-submissão. Ou um tipo mais perigoso e insidioso de submissão. Temos nos esforçado livremente e com grande afinco para alcançar a meta de trabalhar 24X7. Vinte e quatro horas por sete dias da semana. Nenhum capitalista havia sonhado tanto. O chefe nos alcança em qualquer lugar, a qualquer hora. O expediente nunca mais acaba. Já não há espaço de trabalho e espaço de lazer, não há nem mesmo casa. Tudo se confunde. A internet foi usada para borrar as fronteiras também do mundo interno, que agora é um fora. Estamos sempre, de algum modo, trabalhando, fazendo networking, debatendo (ou brigando), intervindo, tentando não perder nada, principalmente a notícia ordinária. Consumimo-nos animadamente, ao ritmo de emoticons. E, assim, perdemos só a alma. E alcançamos uma façanha inédita: ser senhor e escravo ao mesmo tempo.
(Artigo completo em El País - Brasil)
Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Coluna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos, e do romance Uma Duas. Site: desacontecimentos.com
quinta-feira, fevereiro 13, 2020
Pontos de vista
segunda-feira, dezembro 30, 2019
Fernando Collor de Mello através de Hermeto Pascoal
"Exatamente isso, minha gente. Pensamento negativo atrai pensamento negativo.
Pensamento positivo é o que os ingleses chamam 'wishful thinking'. Pensar positivo, pensar positivo querer pensar positivo, atrai bons fluidos.
Eu sei exatamente os instrumentos de que nós precisamos dispor para atingir esse objetivo; e eu tenho sobretudo dentro de mim uma fé enorme em Deus, e um ideal. Eu tenho um ideal. Eu sou uma pessoa idealista."
(15 de março de 1990 – 29 de dezembro de 1992)
Hermeto Pascoal, Festa dos Deuses (1992)
quinta-feira, setembro 19, 2019
Pós-ecologismo
Ir de trotinete eléctrica onde antes se ia a pé.
Lido no blogue Coração Acordeão, de António Gregório.
sábado, novembro 17, 2018
"Sutilidad auditiva de antaño"
Ramón Andrés
Poesía reunida Aforismos (Ramón Andrés). Lumen, 2016.
domingo, agosto 26, 2018
terça-feira, novembro 07, 2017
O tempo passa, meu caro Calvin...
sábado, julho 08, 2017
Manhã de Sábado (Évora, 08/VII/2017)
segunda-feira, junho 12, 2017
Onda de calor em Junho
Ainda nem chegou o Verão ao calendário e já dormi umas quantas noites tropicais. O calor é um dos substantivos mais usados e escritos por mim desde que me tornei pacense de residência. Não gosto deste calor, sofro com ele, mas não tenho outro remédio que aclimatar-me e rir-me dele com as típicas piadas de whatsapp como «cariño dime algo caliente: Badajoz» ou o Darth Vader a seduzir-nos para o lado negro da força com o argumento de que têm sombra. Assim vivo eu há uns anitos refém do ar condicionado, da sombra e sempre a querer refugiar-me em locais mais frescos. Évora criou-me habituado ao calor, Leiria e Valencia de Alcántara sempre me exigiram um casaco pelos ombros nos serões de Verão, mas Badajoz, nem com o Guadiana aqui a correr, desfaz-me em suor durante mais de dois meses. É o que há e já está, resumindo a minha resignação climatológica. Porém, começo a sentir o cansaço e a sede da terra. Não gosto de extremos em nada e em questões de clima o meu corpo começa a dar sinais de necessitar descansar mais com o termostato a temperaturas que não sejam febris...
quarta-feira, março 29, 2017
segunda-feira, outubro 31, 2016
Honestidade
"Sabendo o que sei hoje, trocava os meus sete romances por um filho" - Valter Hugo Mãe (entrevista ao "Diário de Notícias")
quinta-feira, junho 23, 2016
Patti Smith - Advice to the young
sexta-feira, fevereiro 12, 2016
Rafael Nemer (Infame Lúdico)
segunda-feira, julho 06, 2015
Código moral do judo (Mestre Jigoro Kano)
segunda-feira, maio 04, 2015
Poesia estimula a mente e é mais eficaz do que autoajuda
Poesia estimula a mente e é mais eficaz do que autoajuda
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
Além de ser uma das formas de expressão humana, como a que aparece explorada por Paulo Leminski em “Razão de ser”, a poesia, segundo a ciência, pode ajudar mais do que livros de autoajuda, porque estimula a mente. Cerca de 30 voluntários tiveram a atividade cerebral monitorada ao lerem trechos de clássicos literários e, em seguida, as mesmas passagens foram transpassadas para uma linguagem familiar.
Especialistas em ciência, psicologia e literatura da Universidade de Liverpool constataram que essa parte do cérebro observada dispara quando o leitor se depara com expressões e palavras incomuns e, também, frases com entendimento mais complexo. O que não acontece quando o trecho lido está num vocabulário mais acessível.
Para o estudo, foram usados autores de obras clássicas, como Henry Vaughan, John Donne, Elizabeth Barrett Browning e Philip Larkin. Os estímulos sentidos pelos leitores se mantiveram durante um determinado tempo, fazendo com que a atenção na leitura fosse potencializada. Isso porque a poesia afeta o lado direito do cérebro, que é o lugar onde são armazenadas as memórias autobiográficas.
É dessa forma que esse tipo de leitura ajuda a refletir sobre as lembranças provocadas e a entendê-las por meio de novas perspectivas. Pesquisadores afirmam que a poesia auxilia esse entendimento devido a descrição profunda acerca de experiências aliada a elementos emocionais e biográficos.
(Fonte: Minas faz Ciência)
As palavras interditas
Os navios existem, e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.
Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.
Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.
As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.
Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.
E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.
Eugénio de Andrade