Dormimos em Évora, em casa dos meus pais. Deitei-me com «As Cidades Invisíveis» do Calvino e levantei-me com a minha cidade bem visível, mas nublada.
Nunca lhe encontrei demasiados defeitos. Os típicos duma cidade de média dimensão, numa região como o Alentejo. Ao viver fora dela, mesmo ao ouvir a perspectiva de quem cá ficou, cada vez lhe encontro menos imperfeições, menos pormenores negativos a chamarem pela minha atenção. Ainda bem que assim é. Voltar a casa não deve ser um acto de análise, nem de qualidade infraestrutural, deve ser apenas de voltar a casa. Afirmo isto com total respeito por quem ficou a analisar e a trabalhar pelas infraestruturas.
É curiosa a ironia da política local. Ao não ser residente em território português, independentemente dos quilómetros de distância, já não posso votar para as autárquicas. Deixei de votar na cidade onde nasci e na única, em Portugal, onde talvez quisesse votar. A maioria das pessoas não faz a mínima ideia das minhas circunstâncias administrativas e, em plena azáfama de campanha eleitoral, recebo um convite de amizade duma rede social por parte da candidata do PS, o partido da minha família, o qual me educaram a ver como o melhorzito entre os restantes. Com os partidos, passa-se o mesmo que com a religião, não pratico e tenho sérias dúvidas e críticas às escrituras.
O poder local não é tanto uma questão de idiologia política, mas sim, eis alguma religião, uma questão de fé pessoal no candidato. Antes de aceitar o pedido de amizade (termo tão ridículo na informática para quem prefere a vida fora de bytes e bites), fiquei curioso porque motivo a candidata prestara atenção ao meu perfil e tivera a simpatia de querer-me como «amigo». E não é que temos «amigos» em comum! Socialistas, comunistas, sociais-democratas, bloquistas, do partido da Assunção Cristas parece-me que não há muitos, animalistas, etc.
Como foi um convite plural, decidi aceitar, ser «amigo», mesmo sem nos conhecermos pessoalmente. Peço desculpa, mas não a sigo. Cada vez existo menos nestas redes e se por lá me assumo é para manter contacto virtual com realidades que me interessam.
Évora interessa-me. Nunca será uma cidade invísivel, porém tornei-me egoísta. Não venho aqui para sofrer, já me bastam as raízes que vão secando, os eborenses que estiveram e já não estão, a falta que me fazem. Não sirvo para argumentos políticos de locais onde não vivo, onde apenas habito. São poucos os políticos com esse discercimento entre «viver» e «habitar». Sejamos apenas «amigos». Eu, à minha maneira, com os poucos recursos disponíveis, farei por Évora o que posso. Évora é a minha cidade, à qual jurei lealdade e toda a nobreza de espírito que me seja possível...
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