Atravesso Portugal desde a raia até ao litoral. Desde casa até ao Cabo Mondego. Deixo o calor da canícula e aproximo-me da brisa do mar para refrescar a mente e poder tirar o corpo da rotina.
Enquanto conduzo em direcção ao meu destino, o interior do país que vejo coincide com o meu íntimo. Devastado, terra queimada com vontade de aplicar a mesma política pirómana aos diversos e sucessivos governos, para quem a floresta é um jardim abandonado longe dos grandes interesses do e da capital. A esses senhores jamais lhe ardeu o mato do quintal, muito menos uma habitação.
Passo pelo IP2, com o incêndio de Nisa ainda a deflagrar. Tantos quilómetros feitos naquele itinerário principal durante tantos anos fazem-me sentir próximo daquela região. Ouço na rádio que 130 habitantes do conselho foram evacuados e que já poderão voltar a casa. Sem sabê-lo, tenho a certeza da maioria serem idosos. Indigno-me mais. Revolto-me mais.
Continuo e entro na A23. Nem imagino o que me espera. O incêndio de Mação fulminou a paisagem da terra do presunto português. A vista é apocalíptica. A flora não se caracteriza pelo verde clorofila, a fauna fugiu ou ficou a fazer parte da cinza e as pessoas, se já por ali viviam poucas, menos condições de vida têm reunidas.
Perco a conta aos quilómetros queimados, às árvores mortas de pé em frente ao fogo invasor, aos meios disponíveis no terreno, porém, ao cruzo-me com a minha UME («Unidad Militar de Emergencia»), de volta a casa depois duma ajuda fraterna ao irmão Portugal. Sinto um grande orgulho por estes profissionais e uma profunda tristeza de saber que o país onde nasci continua a arder ignorante dos seus direitos, do perigo de entregar nas mãos de outrem o seu destino, de contar com a caridade do irmão e não aprender com o seu bom exemplo...
Viajo em cima de uma enorme queimadura em primeiro grau. Até dá dó... Da revolta do roteiro queimado, estaciono junto ao Atlântico e sou mais um turista a veranear, ridículo na minha impotência...
Sem comentários:
Enviar um comentário