Tens 7 ou 8 anos. Há vestígios da horta no quintal da tua casa. A rua ainda é de terra batida e o alcatrão urbanizado está por chegar. Brincas com dois amigos. Não te lembras quem, mas sabes que não eram o Carlos, nem a Sara. Brincam com tábuas soltas, restos de tijolos e outros despojos de uma obra por acabar.
Deves ter lido em qualquer lado, visto em qualquer desenho animado, como funcionam as catapultas. Um sistema de alavanca que projecta uma pedra graças à pressão posta no extremo oposto. Decides mostrar os teus conhecimentos de física aos teus amigos. Material necessário: um tábua lisa e sem pregos perigosos; um tijolo de alavanca; algo para projectar (uma pedra de preferência).
O quintal alberga um campo de experiências, de ciência infantil. Tudo montado, falta a pressão posta no extremo oposto ao projéctil. Sem consultar os teus auxiliares, optas por pisar a tábua para catapultar este momento para a posteridade. Não te enganaste. Sem contagem decrescente, a pedra foi projectada com as leis verdadeiras da física, aquelas que não sabias mas agora quase que te entravam à força na cabeça. Da testa, o sangue por um fio e os amigos directos para suas casas. Com o lado direito da cara ensanguentado, a tua mãe curou-te do ferimento que, na sua cabeça, foi-te infligido por outros. É difícil conceber tanta estupidez a um filho.
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