terça-feira, junho 22, 2010

"Flash Gordon"


Talvez tenha sido a primeira adaptação de uma banda desenhada que vi no cinema, se não foi "Flash Gordon", terá sido "Conan, o Destruidor" com o actual governador da Califórnia.
Tínhamos VHS há pouco tempo e eu gravei este filme que vi e revi um par de vezes. Já o tinha esquecido (mas a banda sonora não, com os imortais "Queen"), até que o meu bom amigo Carlos Grácio me prenda com esta BD editada pela TV Guia nos 80's baseada na película desde herói e jogador de futebol americano.
Aqui fica a capa que conservo na minha "Bedeteca".

P.S. A Ornela Mutti era de uma beleza fascinante (impressionou cá o puto!) e o Max von Sydow representou um Imperador Ming "à maneira". O tipo que fez de Flash (Sam J. Jones) desapareceu na obscuridade da sétima arte... e era o elo mais fraco desta aventura espacial.

O Puzzle de Monsaraz

sexta-feira, junho 18, 2010

"Proslogion" de José Saramago


Nunca me despertou demasiado interesse. Reconheço. São poucas as obras que terminei de Saramago e recordo-me particularmente do “Ensaio sobre a Cegueira” que, a páginas tantas, me deprimiu como apenas me deprimira “A Peste” de Camus. Mas é verdade, deveria ter prestado mais atenção à sua obra e não fosse eu um alentejano a quem tanto sentido encontra no “Levantado do Chão”.

As suas “Pequenas Memórias” voaram para a Hungria nas mãos de um bailarino da companhia nacional de bailado com quem me cruzei há uns anos no Caminho de Santiago. Foi uma oferta que não sei se alguma vez foi lida. Esse regresso à Azinhaga dos avós do escritor, em tom auto-biográfico, acompanhou-me em castelhano porque me apeteceu. Para alguns é uma estupidez ler uma tradução quando se pode ler o original, mas neste caso lemos algo mais, um amor tardio por a península, uma jangada que o levou às terras negras de Timanfaia, timonada por um Pilar que foi marcante no seu Nobel percurso.

Mas este ateu que escreveu evangelhos, a quem nunca reconheci particular simpatia (nem humildade), cruzou-se comigo há quase 12 anos. Melhor, cruzou-se com Santo Anselmo e o seu “Proslogion”, obra que tenta justificar racionalmente a existência de Deus, na ironia de uma sessão de autógrafos. Lembro-me da minha vergonha de estar presente, acabado de sair da aula de filosofia, sem possuir um só exemplar de uma obra do recente Nobel. Apesar de não primar pelos sorrisos, Saramago manifestou interesse pelo meu livrito usado e sublinhado nas aulas da “amizade pelo saber”. Não se negou a autografá-lo e ainda hoje guardo com orgulho o meu “Proslogion”.

Nesta semana de Junho a morte não teve intermitências e mediatizou-se pela derradeira vez o seu nome e palavras. Vão-se vender mais livros, as polémicas sempre ajudaram os mercados editoriais. Hoje, José, tiro-te o chapéu e prometo-te que te vou dar o devido valor. Como? Lendo e relendo o que por cá deixaste. Esta é a flor que deixarei debaixo da árvore do teu quintal.

terça-feira, junho 15, 2010

Os Manjericos de Santo António

É um cenário estranho mas real. Os manjericos de S. António à venda num supermercado qualquer.
A tradição também tem uma esperança de vida muito curta, como um manjerico há que ter cuidado a cheirá-la.

Os Dados


Este era um dos jogos preferidos do meu pai. Ensinou-me a jogar há já algum tempo e recordo estarem sempre presentes nos antigos Postos de Tracção da CP por onde pude acompanhá-lo. A sua aleatoriedade é uma excelente metáfora da vida, no entanto sempre podemos tentar perceber um pouco de estatística... mas continuarão sempre a ser dados, logo com seis caras e alguma pode tocar.

quarta-feira, junho 09, 2010

"Just Breath" Pearl Jam

Já estou habituado a conhecer tarde alguns álbuns de bandas que admiro, pois vou desfrutando das coisas ao sabor do momento. Com o último dos Pearl Jam passou-se exactamente o mesmo...
Que geração esta! Quanto mais experiência melhor estão!
Estou a gostar bastante deste "Backspacer"! Tem-me acompanhado nestas últimas noites de trabalho... principalmente o tema "Just Breath".

terça-feira, junho 08, 2010

RICOS E POBRES NO ALENTEJO

A primeira vez que tive contacto com este livro foi há mais de 12 anos, lendo apenas uns quantos capítulos no contexto da disciplina de português. Fiquei intrigado pela forma como se reflectia sobre uma sociedade que tão bem conhecia, mas sobre a qual nunca me tinha debruçado a tentar entendê-la melhor.
Hoje, passado todo este tempo, em plena feira do livro de Évora, encontro esta nova edição a um preço que creio merecer a pena para os dias que hoje vivemos. É através do conhecimento que podemos avançar e tentar suavizar estas dicotomias sociais que nos perseguem. Há que entender a alma do Alentejo e mudar o que há que mudar.

Aqui têm uma breve sinopse do livro de José Cutileiro:
Esta obra descreve a vida de uma freguesia rural alentejana, em meados dos anos sessenta do século XX , e é leitura indispensável para quem queira conhecer o Portugal rural do Sul. Além disso, como em aspectos capitais da sua vida e da reflexão que faziam sobre ela os camponeses alentejanos não diferiam dos seus compatriotas do resto do país – e nem uns nem outros mudaram muito – o livro continua a ser uma excelente introdução à chamada «identidade portuguesa».
Monografia antropológica, o livro estuda a distribuição da terra; as classes sociais que dela resultavam e as relações entre estas; a estrutura administrativa e política; família, parentesco, compadrios, amizades e vizinhança; as crenças e os valores morais que davam Norte às pessoas.
Publicada pela Oxford University Press, em 1971, sob o título A Portuguese Rural Society, a obra veio a ser traduzida e editada seis anos mais tarde em Portugal, com um posfácio do autor.
Esta segunda edição portuguesa reproduz o texto integral de 1977....

Crónica dos Pêlos das Pernas


O António não sabe que já trabalhei para ele. Não sabe nem imagina de quem seriam estas palavras caso decidisse lê-las, ou melhor, as encontrasse por aí. Mas é verdade, já trabalhei para este senhor da literatura e das crónicas que me fazem comprar a revista “Visão” com um entusiasmo que sinto por poucas coisas.

Já lá vão uns anos desde que contribui para que o António pudesse estar na minha universidade, rodeado de lambe-botas e académicos que confundem admiração literária com submissão, mas quem era eu para poder “armar-me aos cucos”? Apenas já tinha pêlos nas pernas, sim isso já tinha.

Corri os corredores do Lidl, com o meu careca professor de literatura comparada que dava notas pelos decotes e pela copa que sustem o ilustre peito de cada aluno, menos mal que já tinha pêlos nas pernas e que, para pertencente ao género masculino, tinha os peitorais minimamente desenvolvidos para aprovar aos seus olhos… Nesses corredores, guiando as quatro rodas teimosas de um carrinho alugado por 0’50€, lá fui recolhendo aperitivos genéricos com cheiro de Ducados à mistura (o careca gostava de tabaco negro), será que comeste algum? Eu comi. Faz bem aos pêlos das pernas, dá-lhe brilho.

Achaste despropositada e estúpida a pergunta do Hugo (boa gente o Hugo, mas decidiu que deveria utilizar o Becket para brilhar com a pergunta), se já tinhas encontrado o teu Godot. Se, por acaso o encontrei, devia ir bastante distraído como é costume.

Falaste mal do Saramago, para variar, que a sua literatura servia para “masturbar os seus leitores”. Quando disseste isso, com pinta de escritor maldito, como gostas, sentiste-te bem, vê-se nos olhos. Também não gosto do tipo (lembro-me sempre de um comunismo romântico e fico triste na minha cada vez mais alergia política), no entanto li algumas coisas mas não senti nada no meu prepúcio. A mim nunca me bateu nenhuma, mas ainda não desisti. Tenho para ali a “Viagem do Elefante” e pode ser que me safe. Ajuda a descontrair e fico com os pêlos das pernas arrepiados, em ponta.

Ó António, disseste que autógrafos só para quem tinha as pernas bonitas. Fiquei triste. Estava a gostar ver-te representar tão bem esse papel, és bom actor, não és tão freak como queres que pensem que és. Só pensava que gostaria de ter algo da tua caligrafia naquele exemplar da minha prima Paula de “Não entres tão depressa naquela noite fria”, mas não tinha as pernas bonitas, tinha e tenho pêlos.

Com a idade perdes o medo ao ridículo e, sinceramente no meio daqueles graxistas a quem eu não sei se fazes caso (pois dizes que te dá igual o Nobel, mas a mim não me enganas! Até eu o queria, nem que fosse para poder estar na mesma lista que o Hemingway) e te sentes próximo deles. Decidi aproximar-me da tua antipática mesa, com que tantas vezes queres manter afastado o mundo, e mostrei-te as minhas pernas, os meus pêlos, na esperança que até fossem dignas da tua caligrafia. Esboçaste um sorriso, diferente dos que vi durante aquele acto de homenagem em que se falava de coisas que passam ao lado da maior parte da humanidade. Esboçaste um sorriso que me fez sentir como um amigo teu com quem não te importas de partilhar o que para aí vais escrevendo.

Desde esse dia, sei que se tenho pêlos nas pernas serão para alguma coisa, nem que seja para mostrá-los ao António e ficarem por aí, ao longo da depilação dos dias que passam… e da companhia que me vais fazendo.

"Salero" - As Coplas de Amália


Por iniciativa da Comissão da Candidatura do Fado a Património da Humanidade, em parceria com o Museu do Fado, foi lançado um conjunto de discos celebrando o 10º aniversário da "diva" do Fado que marcou o século XX português, Amália Rodrigues.
Assumidamente "Ibérica", no nono volume "Salero", podemos ver como Amália se aventurou no mundo da copla e do flamenco espanhol. A destacar os excelentes textos de Vasco Graça Moura e de Rui Vieira Nery, que nos ajudam a entender e contextualizar esta vocação peninsular que muitos já não nos recordávamos, ou sabíamos, que a cantora tinha.
Há um paralelo muito interessante entre o Fado e a Copla, principalmente no papel que tiveram como instrumentos de propaganda dos regimes fascistas de Salazar e Franco e como os mesmos ajudaram a internacionalizar e a tornar "géneros nacionais" estes tipos de música.