quinta-feira, março 29, 2012

A Máquina Fotográfica

É na câmara escura dos teus olhos
que se revela a água
água imagem
água nítida e fixa
água paisagem
boa nariz cabelos e cintura
terra sem nome
rosto sem figura
água móvel nos rios
parada nos retratos
água escorrida e pura
água viagem trânsito hiato.
Chego de longe. Venho em férias. Estou cansado.
Já suei o suor de oito séculos de mar
o tempo de onze meses de ordenado;
por isso, meu amor, viajo a nado
não por ser português mal empregado
mas por sofrer dos pés
e estar desidratado.
Chego. Mudo de fato. Calço a idade
que melhor quadra à minha solidão
e saio a procurar-te na cidade
contrastada violenta negativa
tu única sombra murmurada
única rua mal iluminada
única imagem desfocada e viva.
Moras aonde eu sei.
É na distância
onde chego de táxi.
Sou turista
com trinta e seis hipóteses no rolo;
venho ao teu miradoiro ver a vista
trago a minha tristeza a tiracolo.
Enquadro-te regulo-te disparo-te
revelo-te retoco-te repito-te
compro um frasco de tédio e um aparo
nas tuas costas ponho uma estampilha
e escrevo aos meus amigos que estão longe
charmant pays
                                        the sun is shining
                                                                                     love.
Emendo-te  rasuro-te  preencho-te
assino-te  destino-te  comando-te
és o lugar concreto onde procuro
a noite de passagem  o abrigo seguro
a hora de acordar que se diz ao porteiro
o tempo que não segue  o tempo em que não duro
senão um dia inteiro.
Invento-te  desbravo-te  desvendo-te
surges letra por letra, película sonora,
do sendo à vogal  do tema à consoante
sem presença no espaço  sem diferença na hora.
És a rota da Índia  o sarcasmo do vento
a cãibra do gajeiro  o erro do sextante
o acaso  a maré  o mapa a descoberta
dum novo continente itinerante.
José Carlos Ary dos Santos
Obra Poética
Lisboa, Edições Avante, 1994

terça-feira, março 27, 2012

Mátame la sed abuelo

Las bibliotecas ya no se queman.

Las bibliotecas ya no se queman. Se ignoran.
No hay peor existencia que la ausencia de reconocimiento que uno está por aquí.
Que me critiquen, me rasguen, me peguen, me insulten, me jodan,
Pero, haz el favor, léete el libro que llevo escrito con la punta de mi navaja.
Si tienes la fortuna del tiempo, léete ni que sea a penas el título
O la portada. Reconozco que es cursi y algo peculiar…
Unas frases, algunos párrafos, algún capítulo, a lo mejor lo terminas sin que te aburras.
Pero, al final, haz el favor, ponme donde quieras, en un cajón acompañado de inutilidades, como más polvo de estantería o como pie del entumecido sofá delante de la caja con un hombre dentro pisando lentamente la luna.
Ahórrame de las cenizas inquisitorias del olvido.
De las cenizas ya no nace nada nuevo. Simplemente mitos.
Ahora está de moda reciclar.



segunda-feira, março 26, 2012

Portugal é nosso!!

Enquanto vasculhava alguns documentos no interior misterioso e labiríntico do meu pc, encontrei este pequeno texto escrito em março (ainda era Março) de 2010.
Olhando agora, lendo e analisando, vejo que isto não muda tanto de ano para ano.
E a parte engraçada neste texto(sem graça mas cheio de intenção, que afinal também conta)é que alguém o deve ter lido e usado e abusado; e que afinal o tema já era o mesmo dois anos antes - crise, bancos e combustíveis!



Por estes dias todos andamos a dar em loucos pelo aumento estúpido do preço dos combustíveis para valores irreais.
Quem ganha mais com isto? O Estado! E quem é o Estado? Somos todos nós!

Ora bem, como tal, já encomendei um carro novo, 0 km's, topo de gama com AC e estofos em pele.
Vou fazer obras em casa, sair mais vezes e jantar fora. Tudo isto a crédito, claro, não sou rico, mas por este andar não vai faltar muito.
Se ainda faltar muito, não pago o crédito. Em último caso, o banco fica em maus lençóis e pede ajuda ao Estado. Se este o comprar, ainda fico dono de um banco - repito - o Estado somos nós!logo mais um banco nosso; Meu!
É certo que por vezes não se nota, mas sei que somos ricos, e como tal investimos, compramos, gastamos... pagamos a factura, mas não faz mal, afinal é tudo nosso, logo meu.

Queridos amigos, fica a minha palavra para que gastem, invistam, esbanjem! Afinal Portugal é nosso, assim como.... como..... tudo o que ainda não foi privatizado, como a divida e .... ..... e a Serra da Estrela!


Irónico, não!?

Gigante










Sin causa te agigantaste al este del edén.
A cronos, la carrera le has ganado al volante de tu spider,
Mientras besabas un estiloso y sonriente cigarrillo.
Te ofuscaste en el polvo de una nube de carretera
Donde hay que respetar el stop
Al llegar al cruce.
Ahora a tus hombros llevas la escopeta cargada de eternidad.
No eres del calibre de Atlas.
La persistencia de la reminiscencia
No es carga para un titán fumador de Marlboro como tú.

domingo, março 25, 2012

quinta-feira, março 22, 2012

...

Al principio era el verbo,
¿o sería el sujeto?

Con tu navaja padre (Samuel Chamorro)

El pan de nuestra pobreza (dedicado a Samuel Chamorro)


"El pan de nuestra pobreza no se cose en este fuego
que las cenizas limpian con el aire,
dando de comer a la tierra
que desemboca en la ausencia de tu agua.

El pan de nuestra escasez, elemento
dádiva de divinos hombres
se coserá en el pasado
desalineado en la bandeja de tu memoria".