terça-feira, agosto 27, 2019

"La frugalidad ordena las costumbres." - Ramón Andrés

La frugalidad ordena las costumbres. La palabra nació de frux, “grano de trigo”. El frugal, el que pasa con poco, es difícil de vencer.
            A los hombres frugales los griegos los conocieron como khrésimoi, los “útiles”. Lo comenta Cicerón.
*
A frugalidade ordena os costumes. A palavra nasceu de frux, “grão de trigo”. O frugal, aquele que vive com pouco, é difícil de vencer.
            Os homens frugais ficaram conhecidos pelos gregos como khrésimoi, os “úteis”. Assim no-lo diz Cícero.

Ramón Andrés in “Poesía Reunida Aforismos” (2016)
Trad. Luis Leal

segunda-feira, agosto 26, 2019

Mundos minúsculos...


O nosso rafeiro...

O nosso rafeiro é tão alentejano que até come gaspacho... Belo cão, a andar por esses montes em liberdade. Vê-lo na companhia da restante canzoada e a acompanharem-nos cada vez que chegamos à aCourela é do melhor que o dia-a-dia me tem trazido. Talvez me reveja nele, no meu rafeiro, no cão que sempre quis e deixei de imaginar que algum dia me poderia acompanhar...

quarta-feira, agosto 21, 2019

Ausência de cara a cara...

Dão jeito estes aparatos. A tecnologia põe-nos em contacto e a par de tudo à milésima de segundo. Mas a voz e o olhar são filtrados por um ecrã. O corpo tem uma distância, proporciona uma segurança física que o cara a cara não permite. O atrevimento e a cobardia ampliam-se ao quadrado no mundo digital por isso mesmo, por falta da presença física do outro.
Isto não é de agora. Por isso, excepto com algumas pessoas, nunca gostei de falar ao telefone. As cordas vocais não mostram como está o rosto, os cabos não transmitem gestos e trejeitos. O silêncio torna-se um incómodo.
Com as mensagens passa-se o mesmo, apesar da proliferação de smileys e emojis. Malinterpretam-se com facilidade.
Pessoas a mim próximas adaptaram-se com demasiada facilidade a estes meios. Cedo começaram a usar o telefone para um terrorismo emocional que deixou marcas. Sei-o hoje e, por carácter, safei-me de ser a principal vítima. Não deixa de ser triste, pois o que nos poderia manter mais unidos também nos afasta, nos cala e nos faz pensar que as palavras ditas (ou escritas) através destes meios não são muito diferentes de balas a abaterem parte do nosso espírito.
Recebi há pouco uma dessas mensagens, seguido de um telefonema meu que tentou esclarecer o escrito. A ausência do cara a cara facilitou o jorrar de sentimentos reais que desconfio serem de base imaginária, ociosa. A assertividade fluiu com mais naturalidade do que há uns anos atrás e ficou várias vezes muda. O meu silêncio tem tanto de vergonha própria como de alheia.
Desliguei o telefone e desejei o cara a cara. Dar a cara, dialogar e reconhecer as nossas faltas, nunca foi o caso. Sempre foi mais fácil discussões ao telefone, pôr na cara à distância, e, se a coisa vai por caminhos que não é do agrado, enveredar pela defesa pessoal do ataque de histerismo com devoção pelo altíssimo. Lembro-me de um dia, há muitos anos, ter ouvido um «mato-me» ao cimo das escadas e ter ficado frio como o mármore dos degraus. Nesse momento, soube o que é a chantagem.
O tempo tem passado e é raro lembrar-me desse episódio ao qual assisti como personagem secundária, contudo bastante imbuido na narrativa. Aprendi a lutar em batalhas que valem a pena. Esta não vale, apesar da tristeza que me pode deixar a alma ferida. Porém, à chantagem não sucumbo. Protege-me a consciência. Protege-me uma cara que não evita os olhos nos olhos.

Keiko

Voltar ao dojo,
em seiza de joelhos.
Pratico. Sou eu.

terça-feira, agosto 20, 2019

«Talvez pouco dado à abstracção...» - José Régio

«Talvez pouco dado à abstracção e à especulação filosófica, o alentejano é contemplativo (...). Em poucos poetas portugueses se nos impõe a obsidiante presença da sua província como nos poetas alentejanos. Não será muito difícil ver que um inato sentido plástico anda neles unido a esse amor da vasta região onde nasceram.»

José Régio, "Escritos de Portalegre", Portalegre, Edição A Cidade, 1984, p.123.

José Régio no Largo do Cemitério em Portalegre.

Ao abraçar o sol...

Ao abraçar o
sol, as nuvens mimam a
terra com sombra.

sábado, agosto 17, 2019

quinta-feira, agosto 15, 2019

O destino abençoou-o...

O destino abençoou-o com muitíssimo talento, mas nunca foi capaz de o proteger do fracasso. Esse é o motivo pelo qual teima em culpar os deuses pela sua sina, convertendo o seu génio em puro azedume.

terça-feira, agosto 13, 2019

O interesse

O interesse despoleta a memória. Só alguém interessado é capaz de fabricar recordações do passado.

A consciência tranquila

A consciência tranquila é o horizonte dum oceano nas profundezas de alguém em paz com o que vê e não vê, com o que sente e não sente.

segunda-feira, agosto 12, 2019

«Miguel Torga e Eu» - Manuel Alegre


Fui ao seu consultório muitas vezes.
Tratou-me da garganta e do nariz.
Limpou-me as ventas. Mas sobretudo
abriu-me as válvulas de dentro
para que o vento da pergunta circulasse
varrendo teias medos presunções.
Também de versos me falou: «O primeiro é dado
os outros tens de conquistá-los.»

E quando do país desesperava
confessando-lhe desisto
ele dava-me a receita e a divisa
«ser contra isto para ser por isto

E sempre em sua casa me regalou
com seu Porto e seu tinto Barca Velha
às vezes galinholas e narcejas.
«Fui caçá-las para ti» – dizia.

Por isso lhe estou grato. Por me tratar
das ventas e dos versos.
Por repartir comigo o pão o vinho e a palavra.
Por sua fidalguia. E sobretudo
por sua lição de vida e poesia.

In «Coimbra nunca vista» (poesia), de Manuel Alegre, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1995 (1.ª edição).

Filosofia de desenhos animados

Os putos estão refastelados a ver os desenhos animados e oiço uma personagem infantil a dizer: «a minha felicidade não depende da opinião dos outros». Presto atenção e vejo que quem o diz é um miúdo original que dá pontuações a produtos fora de validade com os seus sinais da barriga. «Estas batatas fritas merecem cinco sardas da minha pança».
Fico a ver os desenhos com eles e penso que poderia fazer o mesmo. Crítica de barriga cheia. «Ná», a minha opinião não deve condicionar ninguém, já basta, por vezes, impedir-me de ter mais perspectivas...

quinta-feira, agosto 01, 2019

"Y todo era posible" - Luis Leal in "Rayanos Magazine"

Y todo era posible – Luis Leal (“Rayanos Magazine”)

“Allá en mi juventud, antes de haber salido de casa de mis padres dispuesto a viajar, ya conocía yo el estruendo del mar de páginas y páginas que ya había leído. Llegaba el mes de mayo con todo florecido, el rodillo del alba se ponía a girar, sólo había que oír al soñador hablar de la vida tal si ésta hubiese ocurrido”. Los verdes años de Ruy Belo, poeta portugués muy vinculado a España, donde vivió y escribió, no son diferentes del pasado de muchos de nosotros que vivimos ciertas rutinas a finales del siglo pasado. Este soneto de Belo, sin duda, es de mis poemas favoritos, quizás porque veo algo de mí en él.
Allá en mi juventud, antes de haber salido de casa de mis padres, los años eran lentos. No solamente los gatos en el tejado me parecían gigantes, los días eran enormes, y las vacaciones de verano eran esa eternidad de luz y calor con derecho a algunos días de piscina municipal y, gracias a mi tío, algunos chapuzones en la playa.
Iba al colegio, jugaba en la calle, hacía los deberes, montaba en bici en el barrio, leía montones de cómics, veía la tele, ayudaba y acompañaba a mis padres (¡odiaba trabajar con mi padre!), o me quedaba con mis abuelos, en mi otro barrio, con una rutina muy semejante. La verdad es que, en mi infancia y juventud, mi vida (y la de la mayoría de los chavales de mi edad) no estuvo sometida a ninguna obsesión por “hacer cosas”.  
Nuestro tiempo obedecía al reloj y al calendario como los demás. Los días tenían 24 horas, la semana iba de lunes a domingo y el viernes nos enamoraba al son de The Cure porque estábamos en puertas del merecido fin de semana (It's Friday, I'm in love!). La vorágine existía en nuestras pasiones y en nuestras amistades cara a cara o, si lo teníamos ya en casa, por teléfono fijo.
Mi estimado lector detectará algo de viejuno en mí, algo de desencanto en mis palabras y quizás piense que soy un nostálgico, o peor, un analógico. No voy a contradecir sus pensamientos, sin embargo, no le ocultaré que nací en fechas en que sociológicamente se me puede considerar, todavía, Millennial o miembro de la Generación Y.
Solo me gustan los rótulos en los frascos para no equivocarme al abrirlos y ser consciente de su fecha de caducidad. Que se vean las personas, las generaciones, como colectivos etiquetables, consumibles, es cosa de la sociedad, no es cosa mía. Sé que viví sin imaginar lo que es Internet, sin imaginar que un día iban a existir hoteles donde se paga para que nos quiten el móvil, que iban a existir redes sociales más allá de la familia, amigos, barrio o ciudad. Seguidores ya existían, pero nos enseñaban a tener cuidado con ellos. Influencers también, sin embargo, no era fácil llegar a los medios de difusión, eso exigía algún escrutinio y algún mérito. Sé que el ritmo no era el de hoy y que teníamos más oportunidades de fijarnos en la duración de los días, en las estaciones del año. Sé que vivíamos más al compás de la naturaleza.
Al contrario de muchos que conocieron esta realidad, no creo que haya sido un privilegio, fue pura casualidad. No merece la pena demonizar la sociedad, echar la culpa al capitalismo salvaje, a la tecnología abrumadora, a la aparente falta de rumbo que lleva este mundo. Soy tan insignificante que mis teorías solo le robaría más tiempo a mis lectores y si estas líneas ya se lo están robando, humildemente, les ruego que me disculpen.
Si hay algo que me preocupa, más incluso que el cambio climático y la deshumanización del presente, es la velocidad con que esta posmodernidad nos está obligando a vivir. Si en los adultos es ya algo preocupante, estoy seguro de que en los niños es algo efectivamente dañino.
Intento proteger a mis hijos de esta realidad, intento que sus vidas no estén sometidas a la dictadura del tiempo ocupado con miles de actividades y no estoy obsesionado con que estén siempre haciendo algo. Me da igual que se aburran. Jamás seré su entertainer, ni exigiré a nadie que lo sea. Soy su padre. Me gusta que sean niños llenos de energía, pero no pasa nada si están pensando en las musarañas.
La mejor estimulación precoz que he encontrado es acompañarlos, que la calidad del tiempo que estamos juntos no sea considerada como buena o mala, sí como honesta y sincera en afectos. Por eso me ha preocupado que mi hijo de ocho años me dijera: “Jo, papi, el curso pasó volando…”. Su noción del tiempo, a tan temprana edad, me hizo reflexionar, me hizo volver a mi propia noción del tiempo en mi infancia y descubro que tenemos que bajar el ritmo, que fijarnos más en la naturaleza, algo que, acorde con los patrones de la era digital, es no hacer nada productivo.
Estoy escribiendo esta crónica y ellos están jugando, tendidos en el suelo. Hace calor y solo podemos salir al final de la tarde. Quizás estén aburridos. Yo vuelvo a Ruy Belo, a cómo “todo pasaba lejos en otra vida y tenían las cosas siempre una salida, ¿Cuándo fue? Ni yo mismo sabría contarlo. Era mío el poder que se tiene en la infancia, no existía entre yo y las cosas distancia y era todo posible con sólo desearlo”.
            Si somos capaces de tener esta distancia entre nosotros y las cosas, algo me hace creer que tendremos un tiempo en nuestras vidas en que todo era posible.

"Y todo era posible" - Luis Leal

Crónica "Y todo era posible" - Luis Leal in "Rayanos Magazine"