Dão jeito estes aparatos. A tecnologia põe-nos em contacto e a par de tudo à milésima de segundo. Mas a voz e o olhar são filtrados por um ecrã. O corpo tem uma distância, proporciona uma segurança física que o cara a cara não permite. O atrevimento e a cobardia ampliam-se ao quadrado no mundo digital por isso mesmo, por falta da presença física do outro.
Isto não é de agora. Por isso, excepto com algumas pessoas, nunca gostei de falar ao telefone. As cordas vocais não mostram como está o rosto, os cabos não transmitem gestos e trejeitos. O silêncio torna-se um incómodo.
Com as mensagens passa-se o mesmo, apesar da proliferação de smileys e emojis. Malinterpretam-se com facilidade.
Pessoas a mim próximas adaptaram-se com demasiada facilidade a estes meios. Cedo começaram a usar o telefone para um terrorismo emocional que deixou marcas. Sei-o hoje e, por carácter, safei-me de ser a principal vítima. Não deixa de ser triste, pois o que nos poderia manter mais unidos também nos afasta, nos cala e nos faz pensar que as palavras ditas (ou escritas) através destes meios não são muito diferentes de balas a abaterem parte do nosso espírito.
Recebi há pouco uma dessas mensagens, seguido de um telefonema meu que tentou esclarecer o escrito. A ausência do cara a cara facilitou o jorrar de sentimentos reais que desconfio serem de base imaginária, ociosa. A assertividade fluiu com mais naturalidade do que há uns anos atrás e ficou várias vezes muda. O meu silêncio tem tanto de vergonha própria como de alheia.
Desliguei o telefone e desejei o cara a cara. Dar a cara, dialogar e reconhecer as nossas faltas, nunca foi o caso. Sempre foi mais fácil discussões ao telefone, pôr na cara à distância, e, se a coisa vai por caminhos que não é do agrado, enveredar pela defesa pessoal do ataque de histerismo com devoção pelo altíssimo. Lembro-me de um dia, há muitos anos, ter ouvido um «mato-me» ao cimo das escadas e ter ficado frio como o mármore dos degraus. Nesse momento, soube o que é a chantagem.
O tempo tem passado e é raro lembrar-me desse episódio ao qual assisti como personagem secundária, contudo bastante imbuido na narrativa. Aprendi a lutar em batalhas que valem a pena. Esta não vale, apesar da tristeza que me pode deixar a alma ferida. Porém, à chantagem não sucumbo. Protege-me a consciência. Protege-me uma cara que não evita os olhos nos olhos.
Isto não é de agora. Por isso, excepto com algumas pessoas, nunca gostei de falar ao telefone. As cordas vocais não mostram como está o rosto, os cabos não transmitem gestos e trejeitos. O silêncio torna-se um incómodo.
Com as mensagens passa-se o mesmo, apesar da proliferação de smileys e emojis. Malinterpretam-se com facilidade.
Pessoas a mim próximas adaptaram-se com demasiada facilidade a estes meios. Cedo começaram a usar o telefone para um terrorismo emocional que deixou marcas. Sei-o hoje e, por carácter, safei-me de ser a principal vítima. Não deixa de ser triste, pois o que nos poderia manter mais unidos também nos afasta, nos cala e nos faz pensar que as palavras ditas (ou escritas) através destes meios não são muito diferentes de balas a abaterem parte do nosso espírito.
Recebi há pouco uma dessas mensagens, seguido de um telefonema meu que tentou esclarecer o escrito. A ausência do cara a cara facilitou o jorrar de sentimentos reais que desconfio serem de base imaginária, ociosa. A assertividade fluiu com mais naturalidade do que há uns anos atrás e ficou várias vezes muda. O meu silêncio tem tanto de vergonha própria como de alheia.
Desliguei o telefone e desejei o cara a cara. Dar a cara, dialogar e reconhecer as nossas faltas, nunca foi o caso. Sempre foi mais fácil discussões ao telefone, pôr na cara à distância, e, se a coisa vai por caminhos que não é do agrado, enveredar pela defesa pessoal do ataque de histerismo com devoção pelo altíssimo. Lembro-me de um dia, há muitos anos, ter ouvido um «mato-me» ao cimo das escadas e ter ficado frio como o mármore dos degraus. Nesse momento, soube o que é a chantagem.
O tempo tem passado e é raro lembrar-me desse episódio ao qual assisti como personagem secundária, contudo bastante imbuido na narrativa. Aprendi a lutar em batalhas que valem a pena. Esta não vale, apesar da tristeza que me pode deixar a alma ferida. Porém, à chantagem não sucumbo. Protege-me a consciência. Protege-me uma cara que não evita os olhos nos olhos.
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