quinta-feira, abril 30, 2020

¿Dónde estará Portugal en el comparador de planes de desescaladas de la RTVE?

¿Dónde estará Portugal en el comparador de planes de desescaladas de la RTVE? ¿Dónde podremos encontrar información sobre ese país lejano sin la más larga frontera terrestre con España?
Son estos pequeños detalles que siguen enseñando la distancia real que existe a pesar de tanta cercanía…
Solo se me ocurre sordez. España, mi dulce España, siempre tan sorda a todo lo que se pasa en tu propia Península…


segunda-feira, abril 27, 2020

domingo, abril 26, 2020

«Ou a vida é um acto religioso - ou um acto estúpido e inútil.» - Raul Brandão

«Ou a vida é um acto religioso - ou um acto estúpido e inútil.» - Raul Brandão

Cf. Raul Brandão, Memórias (três volumes reunidos), Lisboa, Quetzal, 2017, p.425.

sábado, abril 25, 2020

11,1%

Segundo uma contas que acabo de fazer, e a matemática é uma coisa de fiar (fiz a prova dos 9 e tudo), a minha vida dedica 11,1% da sua energia a uma coisa bastante mundana. 
Em 100% não me parece muito. Os restantes quase 90% dedicam-se a muitas outras coisas e uma delas é manter-me sóbrio numa embriaguez constante de necessidade de atenção que pode chegar à maledicência. 
Hoje relembro, uma vez mais, esses 89,9% para ignorar a agressividade de quem não suporta qualquer tipo de bem-estar de outrem. No fundo, é só tristeza, azedumes de quem acredita que é especial.
Eu sei o que sou e sou tudo menos especial. Aprendi isso desde pequeno. Nem para os meus pais eu fui o centro do universo. 

Nota do dia 25 de Abril de 2020

Nota do dia: 
Podem roubar-te do calendário o mês de Abril, mas jamais te roubarão o espírito de Abril!

Nota del día: 
Te pueden robar del calendario el mês de Abril, ¡pero jamás te robarán el espíritu de Abril!

Imagens de Alex Gozblau

Romance do 25 de Abril (2007) de João Pedro Mésseder (ilustrado por Alex Gozblau), p.25
Ilustração de Alex Gozblau

quinta-feira, abril 23, 2020

Dia do Livro/Día del Libro

Do caos germina uma nova ordem, diz-nos a história. E dum livro germina a reflexão, o exercício do contraditório, a contemplação ou outras coisas que costumam ramificar-se pela dignidade e florescer no livre-arbítrio. Sou bastante sensível aos livros e à liberdade de os poder abrir ou fechar, por isso sempre me impressionaram estas imagens do dia 10 de Maio de 1933.

Del caos germina una nueva orden, nos dice la historia. Y de un libro germina la reflexión, el ejercicio del contradictorio, la contemplación u otras cosas que suelen ramificarse por la dignidad y florecer en el libre albedrío. Soy bastante sensible a los libros y a la libertad de abrirlos o cerrarlos, por eso siempre me impresionaron estas imágenes del día 10 de mayo de 1933.

Berlin, 10 de maio de 1930



quarta-feira, abril 22, 2020

«Ocultar o medo, a única valentia verdadeira dos homens verdadeiros.» - José Gomes Ferreira

«Ocultar o medo, a única valentia verdadeira dos homens verdadeiros.» - José Gomes Ferreira (relembrado por Beatriz Costa)

Cf. Beatriz Costa, Quando os Vascos eram Santanas, vol. II, Mem Martins, Europa-América, 1978, p. 48'

21/IV/2020

De todos os dias confinados, este que deixo para trás, talvez tenha sido dos mais desagradáveis. Nada de terrível, comparado com o que outros vivem (gosto de mo recordar, para não ser desagradecido), mas chato. Chato tipo uma coisa no sapato que te magoa durante todo o dia ou aquela estúpida moinha nos músculos que sentes até qualquer anti-inflamatório fazer efeito.
Começou com o trabalho. Mensagens e mais mensagens, longe do cara a cara que levam a malentendidos e para pouco servem. Papéis e mais papéis. Trabalhos dos pequenotes, privilegiados porque têm quem os ensine e os desconecte do que se vai passando lá fora. Felizmente, depois de tantos megas de trabalhos e videos, continuam analógicos e ainda não conhecem o desprezo que alguns votam o trabalho manual.
E, a meio do dia, uma conferência de imprensa duma ministra deste reino onde este republicano vive. A senhora avança que a criançada confinada só poderá sair com os pais para ir onde já podiam ir, caso estivessem sozinhas em casa, isto é, só poderiam sair para ir ao supermercado, à farmácia e ao banco.
A E. ouviu e indignou-se com as expectativas frustradas de apanhar ar que o presidente do governo avançara no sábado passado. Tinha razão. Eu, talvez por estar cansado de já duma jornada a dar para o inútil, não me deu para tanto. Pensei que estivessem a gozar, que se tivessem enganado ou que fosse a mentira do um de Abril que perdemos neste calendário. Pensei que não podemos ser tão estúpidos, que não podemos ser tão acéfalos, que os que nos representam têm um nível intelectual um pouco acima da média e que, antes de falarem em público, um grupo de assessores faz umas últimas revisões para haver o menos possível de polémica.
A verdade é que eu não queria estar no seu lugar, contudo lhe dou mais ou menos valor por isso. São políticos e, se há uma qualquer ética por aí, têm de servir a cidadania por cima de qualquer interesse pessoal. 
No entanto, o absurdo, a situação surreal, só durou até ao final da tarde quando um novo comunicado de outro ministro rectifica o que poderia ter sido essa mentirinha de Abril com a afirmação que a criançada poderá, a partir do próximo dia 27, dar um passeio higiénico com os seus pais fora de casa, recuperando os seus direitos ao nível dos cães domésticos. Como e por quanto tempo, dir-nos-ão nos próximos capítulos.
Já menos aparvalhado, e a E. menos indignada, apercebo-me que as nossas crianças, aqui confinadas desde o dia 13 do mês passado, sem qualquer varanda, não se manifestaram. Tudo lhes é tão simples quanto abstracto. Desconhecem racionalmente esse adjetivo que é "livre".
Eu apenas sei que, uma vez mais, tudo o que se vaticine sobre a selvajaria do capitalismo será uma falácia. Seremos mais solidários, dizem. O sistema terá de ser mais equilibrado, outros esperam. Não podemos continuar assim, resistem uns quantos. Só podem sair para ir às compras, à farmácia e ao banco, diz-nos um governo progressista, de esquerda.
Só queremos apanhar ar, esticar as pernas, olhar para o céu, se possível, tocar na terra que desconhece calendários. A liberdade vai-se vivendo por dentro e, desde dentro, algo me faz pensar que muito do que estamos a viver carece de muito mais do que sentido. Carece de decência.

segunda-feira, abril 20, 2020

O verdadeiro super-herói...

O verdadeiro super-herói  para além de salvar o mundo, sabe coser as suas pantufas...
El verdadero superhéroe, además de salvar al mundo, sabe coser sus pantuflas...

"De padre a hijo" - Theodor Kallifatides (EL PAÍS SEMANAL - a través de Álvaro Valverde)

"De padre a hijo" - Theodor Kallifatides ("EL PAÍS SEMANAL" - a través del noble criterio del poeta Álvaro Valverde)

Hijo mío, cuando llegaste al mundo con tus tres kilos y trescientos gramos, supe cuánto pesaba el amor. En ese instante dejé atrás la vida irresponsable que había llevado y entré en el espacio de la responsabilidad. De hombre me volví padre.
Y entonces entendí a mi propio padre. Tenía yo tres años cuando los alemanes lo detuvieron, en 1941, y lo encerraron en la celda de los condenados a muerte. Torturas cotidianas, ejecuciones simuladas, hambre, enfermedades. Lo soportó todo. Porque sólo pensaba en una cosa: “En casa me está esperando un niñito de tres años. No me puedo morir.”
Y no murió. Él nunca me lo dijo. Me enteré por mi madre.
A mi alrededor está oscureciendo, pero antes de que caiga la noche me gustaría decirte un par de palabras sobre tu abuelo. Tú no tuviste oportunidad de conocerlo. Pero así me comprenderás también a mí.
Era un hombre sencillo. Era maestro y le gustaba su trabajo. Vivía frugalmente. Un plato de comida, un vaso de vino. No fumaba, no iba al café, no engordaba. Leía. El periódico diario era su único lujo.
A mí nunca me permitió leer acostado en la cama. “El escritor se pasó muchas noches en vela para escribir su libro. Nosotros no debemos leerlo acostados rascándonos como monos”.
Me previno también sobre los malos hábitos.
“Más tarde o más temprano, esos hábitos acaban siendo nuestro carácter.”
Y tenía razón. A los 15 años yo tenía un carácter fuerte y pocos hábitos. Ahora, de viejo, tengo muchos hábitos y un carácter débil.
Con el paso de los años pienso en él cada vez más. Cuando me quejaba de algo que no podía creer que me hubiera sucedido a mí, me recordaba la sentencia de Aristóteles: “Es muy probable que algo improbable suceda.”
Alguna vez me enfadaba con él por la sencilla razón de que nunca era irracional. Como si no tuviera sentimientos. Pero los tenía. Sólo que para él los sentimientos no eran argumentos.
Quizá eso haya sido para mí lo más difícil de entender. El amor no es un argumento. El amor tiene obligaciones, no derechos. Así hablaba conmigo. Ni siquiera la poesía nos da el derecho a describir una flor de manera equivocada. Me acordé de mi padre cuando leí a Hamsun que decía, en alguno de sus libros, que no existen las flores, existen las amapolas, las rosas, el jazmín y así sucesivamente.
He necesitado una vida entera para apreciar sus palabras. Lo perdí, y relativamente pronto, cuando me fui de Grecia. No intentó impedírmelo. “Vete, hijo mío”, me dijo. “Grecia no tiene lugar para ti”.
Deben haber sido las palabras más amargas de su vida.
Esto es lo que quería decirte, hijo. Esto y lo más importante.
“No nos rendimos. Somos seres humanos”.
Eso me decía él y lo mismo quiero decirte yo.
“Somos seres humanos y como seres humanos tenemos un trabajo que hacer”.
Y lo haremos.
Como te dije antes, a mi alrededor está oscureciendo. Pero a ti te deseo que vivas en la luz y con un corazón puro.

(Traducción del griego moderno de Selma Ancira.)
Theodor Kallifatides



Luis Buñuel sobre Ramón

Durante los años que pasé en la Residencia, Gómez de la Serna era un gran personaje, acaso la figura más famosa de las letras españolas. Era autor de numerosas obras y escribía en todas las revistas.
Todos los sábados, de nueve de la noche a una de la madrugada, Gómez de la Serna reunía a su cenáculo en el «Café Pombo», a dos pasos de la Puerta del Sol. Yo no faltaba a ninguna de aquellas reuniones, en las que encontraba a la mayoría de mis amigos y a otros.
Los sábados por la noche pontificaba Gómez de la Serna. Llegábamos, nos saludábamos, nos sentábamos, pedíamos de beber, casi siempre, café y mucha agua (los camareros no paraban de traer agua) y se iniciaba una conversación errabunda, comentario literario de las últimas publicaciones, de las últimas lecturas, noticias políticas. Nos prestábamos libros y revistas extranjeras. Criticábamos a los ausentes. A veces, un autor leía en voz alta una poesía o un artículo y Ramón daba su opinión, siempre escuchada y, en ocasiones, discutida. El tiempo pasaba de prisa. Más de una noche, unos cuantos amigos seguíamos hablando mientras deambulábamos por las calles. [1]

Luis Buñuel en el centro (Café Pombo)


[1] Luis Buñuel, Mi último suspiro (Memorias), Barcelona, Plaza&Janés, 1982, Pág. 61.


domingo, abril 19, 2020

"Con Ramón se aprende a escribir" - Paco Umbral (2002)

"Con Ramón se aprende a escribir" y "Ramón es un escritor para escritores". - Paco Umbral (en entrevista a la RNE en el 2002)

"As Moradas do Carteiro" - Luis Leal ("pedal(e)ar" - 2018)

O Quintal




Ainda sinto a tua voz. O timbre com que me chamavas para sentar-me ao teu lado.

Ainda se vê a racha do muro e o canil vazio cheio de sombras de tantos cães.

Ainda goteja o velho tanque da roupa, cheio de água da chuva que não foi ralo abaixo.

Ainda a contemplo a cuidar das flores enquanto lavas a cara na torneira fria.

Ainda sou eu quem anda às voltas no quintal e a perder soldadinhos na selva dos coentros.

Ainda somos nós, a roupa humilde estendida ao sol que espera poder servir a quem cresce atrás de nós, sem vergonha de velhice e desejosa por ser útil.

Ainda és tu o diminuto quintal que me possibilita apanhar ar nesta ausência das vossas vozes, confinado sem cão, com tanta roupa por lavar e sem ter um sítio decente para estender, sem flores para regar, nem canteiro para brincar. 

A roupa é dum armário cheio e inútil, mas que por vós não acumula, não envergonha. Sabe de onde vem e porque é barata.

Posso sair para o vosso quintal na casa que nunca foi propriedade vossa. Escrevo isto recolhido, obrigado pelos tempos. Obrigado pelo presente.

O vosso, sempre foi o melhor... Nunca tive uma casa com quintal. Sou eu quem tem quintal.

sábado, abril 18, 2020

Depois do caos...

Vindo do supermercado, de máscara na tromba e luvas nas manapulas, oiço na rádio «depois do caos, surge uma nova ordem», enquanto passo ao lado de um caixote do lixo com um pequeno desenho infantil de gratidão para quem diariamente mete mãos aos nossos resíduos, para quem todos os dias leva a nossa merda para longe das nossas casas.
Por um momento vejo futuro para além do confinamento. E entristeço-me por já não ter ilusões.

sexta-feira, abril 17, 2020

quarta-feira, abril 15, 2020

Un aforismo de Erika Martínez

Fotografía de Efrén Sánchez 


Los hijos corren hacia nosotros alejándose.

Erika Martínez 
(Jaén, 1979)



terça-feira, abril 14, 2020

Efeitos da quarentena na primeira infância/Efectos de la cuarentena en la primera infancia

Efeitos da quarentena na primeira infância/Efectos de la cuarentena en la primera infancia:

- É para maiores de 16! Os três já para a cama!
- ¡Es para mayores de 16! ¡Los tres ya a la cama!

Tardes de hemeroteca...

“Apostilla” de Álvaro de Campos ("O Notícias ilustrado", 27/V/1928, p.2)

Quem gosta de investigar, de mergulhar entre livros, revistas e papéis antigos, qualquer coisa que lhe desperte a atenção, que encontre no meio da sua curiosidade, será sempre uma nota de rodapé tão grata quanto invisível. Foi o que me aconteceu nas páginas d’O Notícias Ilustrado, quando tropeço na “Apostilla” do Álvaro de Campos.

A quien le gusta investigar, bucear entre libros, revistas y papeles antiguos, cualquier cosa que le despierte la atención, que encuentre en medio de su curiosidad, será siempre un pie de página tan grato como invisible. Fue lo que me pasó en las páginas del O Notícias Ilustrado, cuando me tropiezo con la “Apostilla” de Álvaro de Campos.


Cf. Álvaro de Campos, "Apostilla", O Notícias ilustrado, 27/V/1928, p.2.






domingo, abril 12, 2020

sábado, abril 11, 2020

sexta-feira, abril 03, 2020

Filosofia felina

Presta atenção à gata. Não desperdiça energia, não olha por olhar, e sabe sempre encontrar o seu lugar ao sol... vive para além de qualquer noção de tempo.

Presta atención a la gata. No desperdicia energía, no mira por mirar, y siempre sabe encontrar su lugar al sol... vive más allá de cualquier noción de tiempo.

#cat #homewindows #portraitsofdailylife

quinta-feira, abril 02, 2020

"Divagações duma alma analógica confinada ao mundo digital" - Luis Leal


Espera-me, daqui a pouco, mais uma jornada em frente ao computador. On-line para saber quais são as tarefas escolares diárias dos meus filhos e on-line para exercer a minha profissão, também docente, agora, totalmente digitalizada.

Tem graça que há dias, gozava com a inutilidade dos youtubers e dos influencers (esses elementos virais prévios ao “Corona”) frente à pandemia que vivemos e, neste preciso momento, tenho a sensação que, quando tudo isto passar, serei mais uma dessas personagens protagonistas quer de tantíssima futilidade como de vários momentos sublimes.

Desconfio que a volta à escola será uma coisa entre o intangível e o imaterial. Duvido que possa dar a típica palmadinha nas costas de «bom trabalho» sem luvas e a minha sala de aulas dependerá cada vez mais da aplicação Classroom (e da Google, sabe-se lá porquê, mas não tenho mais dados pessoais para poder averiguar).

O quadro e o giz dividir-se-ão entre a fantasia das mentes juvenis mais manipulativas e o estorvo para os alérgicos. Mas mesmo os espirros, como sabemos, inconvenientes e transmissores da maleita, não jubilarão a velhinha piçarra da sala de aula. Talvez porque é um objeto emblemático e porque a escola à qual me refiro é pública e algo me diz que, mesmo passada esta emergência de saúde, com a globalização a atacar descaradamente os nossos glóbulos brancos, o que é público continuará a ser uma carga para um certo tipo economia inconsciente de, sem pessoas, não passar de mais uma palavra vazia, sem qualquer tipo de riqueza.

Está-se mesmo a ver o homo incongruentus que sou. Um tipo a escrever no blogger porque sabe que aí o seu bloco de notas terá poucos mais leitores do que dentro da gaveta da secretária, porém, a queixar-se que não quer ser mais digital do que já é! Não precisam de me criticar porque eu já me atirei a minha incoerência à cara e, há bocado, zanguei-me comigo próprio.

Mas pergunto-me, será que o regresso do mundo ao mundo “normal”, após este resguardo caseiro forçado, ainda mais digitalizado e asséptico, nos trará mais benefícios para além dos que já temos? Isto é, quando a tecnologia melhora a qualidade de vida, respeita e salva o ambiente, quando não substitui a essência humana, quando se soma e não exclui, denigra ou mata a humanidade?

O vírus anda lá fora a liquidar, principalmente, aqueles que conheceram esta vida antes destes avanços tecnológicos vertiginosos, antes da pós-modernidade se liquidificar (o que diria Zygmunt Bauman se vivesse este momento?). É perverso o grande cabrão. Parece mesmo ter sido criado para nos obrigar a atualizar o sistema operativo civilizacional, o MS-DOS planetário. (Podia ter escrito Windows, mas não me apeteceu, fi-lo em honra aos apontamentos de informática e ao C:/>.)

Saberá este Coronavirus que os mais velhos são potencialmente perigosos? Quiçá saiba que muitos ainda se lembram do que viveram durante a 2ª Guerra Mundial, durante várias ditaduras do século XX (e das nossas ibéricas, em particular), recordam-se da União Soviética, da Guerra Fria, da Guerra Colonial, como também das esperanças de Maio, das revoluções de Abril e dos fiascos de Praga. A malta com mais Primaveras lembra-se bem como era cantar numa praça e por isso não se calou em protestos pela dignidade dos seus filhos e dos netos, como nesse, já tão longínquo, ano de 2008. Também é verdade que alguns compraram o que necessitavam e não necessitavam e até se ajoelharam perante muitos deuses, ideologias, perseguiram quimeras, mas a maioria dos que conheço sempre desconfiou da deificação dos Mercados.

Onde fui criado havia muita criançada, mas contávamos com a presença de muitos olhares enrugados pelas dores e pelas alegrias das suas biografias. Tive sorte e acho que mais alguns que foram putos como eu se lembram, sem saudosismo, apenas com afecto, dos nossos «egrégios avós» que não nos guiaram a nenhuma vitória, para além da bondade, da generosidade, da presença, do exemplo...

Não consigo conceber um mundo a priorizar faixas etárias fora das filas do supermercado. Crianças, jovens, adultos e idosos são parte dum todo que aprendi a chamar comunidade e, se expandirmos a coisa à escala planetária, humanidade.

O raio deste vírus transmite-se facilmente, é invisível, não conhece fronteiras (porém, fecha fronteiras) nem contas bancárias, e, ainda por cima, dá-se ao luxo de vir carregado de simbologia. Filho da p... E toda esta divagação para assumir que tenho mais medo de me infectar totalmente com o vírus da digitalização do que padecer de COVID19. Tenho a certeza que a minha alma analógica persistiria ao segundo. Já ao primeiro, é que não sei...

Divagações duma alma analógica confinada ao mundo digital

quarta-feira, abril 01, 2020

«No se puede escribir para 'la gloria' sin que todo se vuelva ceniza y el escritor se convierta en imbécil» - José Jiménez Lozano

Notas de insónia...

Mais um sonho mau do meu mais novo. Mais choro do bebé do vizinho. Mais uma insónia despoletada nestes dias de confinamento.
Espera-me, daqui a pouco, mais um dia em frente ao computador. On-line para saber quais são os deveres escolares dos meus filhos e on-line para exercer a minha profissão docente, agora, totalmente digitalizada.
E não é que há dias, a gente gozava com a inutilidade dos youtubers e dos influencers, vírus prévios a este Coronavirus, frente à pandemia que vivemos e, neste preciso momento, sinto que, quando tudo isto passar, serei como essas personagens que existem no mundo cibernético para comunicarem tanto de fútil como de sublime na rede. 
Desconfio que a volta à escola será ainda mais líquida, mais intangível, mais imaterial. Duvido que possa dar a típica palmadinha nas costas de «bom trabalho» e a sala de aula dependerá cada vez mais do Classroom (e da Google, sabe-se lá porquê e não tenho mais dados pessoais para poder averiguar). O quadro e o giz dividir-se-ão entre a fantasia das mentes juvenis mais manipulativas e o estorvo para os alérgicos. Mas mesmo os espirros, inconvenientes e transmissores de muitas mais maleitas do que a gripe sazonal, como sabemos, não levarão o velhinho quadro da sala de aula porque a escola a que me refiro é pública e algo me diz que, mesmo passado esta emergência de saúde pública global - a globalização a atacar descaradamente os glóbulos brancos da humanidade -, o que é público continuará a ser uma carga para a economia, essa disciplina que, se não vai de mãos dadas com a história, sempre se esquecerá dos homens e não passará duma palavra vazia, sem qualquer riqueza.
Está-se mesmo a ver o «homo incongruentus» que sou, que escreve num blog porque sabe que o seu bloco de notas dentro da gaveta da secretária ainda terá menos leitores, porém, não quer ser mais digital do que já é. E, sinceramente, não lhe parece que a volta do mundo ao mundo, após este resguardo caseiro forçado, ainda mais digitalizada e asséptica à força, nos traga qualquer benefício para além dos que os que já temos. Isto é, salvo quando a tecnologia melhora a qualidade de vida, respeita o ambiente, não substitui a essência humana, quando se soma e não exclui, denigra ou mata a humanidade.
O vírus anda lá fora a matar, principalmente, aqueles que conheceram esta vida antes destas redes, antes da sociedade se liquidificar (o que diria Bauhman se vivesse este momento?). É perverso o grande cabrão. Parece mesmo ter sido fabricado por uma grande empresa para nos obrigar a atualizar o sistema operativo civilizacional, o MS-DOS planetário. (Podia ter escrito windows, mas não me apeteceu, os sistemas operativos pré-Bill Gates também têm muito mérito!)
O Coronavirus sabe que os mais velhos são perigosos. Alguns ainda se lembram do que foi a Segunda Guerra Mundial, das ditaduras do século XX (e das nossas peninsulares, em particular), da União Soviética, das esperanças de Maio, das revoluções de Abril e dos fiascos de Praga. Tanto se lembram de como era cantar numa praça,  como da necessidade de protestar pela dignidade dos seus filhos e dos netos, como em 2008. 
Lembram-se de ir ao mercado, ao supermercado e ao hipermercado, para comprar o que necessitavam e até podem ter-se ajoelhado perante muitos deuses, mas desconfiam da deificação dos Mercados.
Fui criado no meio de muita criançada mas com a presença de muitos olhares velhos, enrugados de dores e de alegrias. Tive sorte. Pode ser que mais alguém que foi puto como eu se lembre, sem saudosismo, só com carinho do sangue dos teus «egrégios avós» que não nos hão-de guiar a nenhuma vitória, apenas nos manterão centrados na bondade, na generosidade...
E tudo isto para dizer que tenho mais medo de me infectar totalmente com o virus da digitalização do que padecer de COVID19. Tenho a certeza que a minha alma analógica persistiria ao segundo. Já ao primeiro, é que não sei...