quarta-feira, outubro 31, 2018

terça-feira, outubro 30, 2018

«El Cuarto de Siroco» - Álvaro Valverde

La vida es una calle que me lleva
esta tarde de octubre hacia mí mismo.  
Álvaro Valverde

Verdad que no es una calle. Quizás un viejo camino de domingo. Tampoco está en Azuaga, a lo mejor lleva a un azud del Guadiana, quién sabe a las afueras de Badajoz o al otro lado de la frontera.

Verdad que aún estamos en octubre. “Respiro hondo. Veo. Aprecio uno a uno lo momentos que me concede este vivir al margen”. Este de aquí sigue siendo una réplica de uno de allí que se va cumpliendo en años, décadas ya.  

Pero en las alforjas de esta tarde llevo a un estimado poeta. Llevo la lealtad hacia nuestra “Évora”. Llevo a nuestro “Scirocco”, ese casual hecho común (creo que Álvaro no lo sabe) de haber sentido la fuerza del viento siciliano, el polvo en los ojos y esa ilusión de que existe un cualquier cuarto donde refugiarse de tanta fragilidad que nuestra arquitectura humana comprende.


sábado, outubro 27, 2018

The naked lady's cat... (unknown author)

Más omnisciencia...

Tres haikus de niños japoneses

Fotografia de Helena (Jelens)


Concretamente, estos fueron escritos por niños de tres años:


Sombra alargada–
Antes que yo mismo
llega a casa



Tiramos el boomerang...
Y en ese momento
apareció una golondrina



¡Y los caquis de más arriba
se los vamos a regalar
a los cuervos!




La inocencia del haiku. Selección de poetas japoneses menores de 12 años. Compilación de Vicente Haya. Vaso Roto Ediciones, 2012.




quinta-feira, outubro 25, 2018

"La vida de las flores es todavía más breve cuando alguien rompe la rama"

La tierra olía a mojado, y las ramas de los cerezos se inclinaban por el peso de la humedad. El suelo estaba lleno de pétalos, derribados por la lluvia de la noche anterior. “Qué vida tan efímera tienen las flores”, pensaba Matsuzo, mientras él y Zenta subían la colina hacia el templo Sariyuji. Se sentía invadido por una sensación de melancolía al pensar en la fugacidad de la belleza, y buscaba palabras para expresar sus sentimientos en poesía.

A lo lejos, el pausado tañer de la campana del templo Sariyuji tocaba la Hora de la Serpiente. La mañana no estaba demasiado adelantada. En vez de componer su proprio poema, las palabras que le vinieron a Matsuzo a la mente fueron las líneas iniciales del Cuento de Heike: “El sonido de la campana de Jetavana es el eco de la fugacidad de todas las cosas”.

- ¿Componiendo un poema a las flores? – preguntó Zenta. Sabía perfectamente cuándo Matsuzo se dejaba llevar por la poesía.

Matsuzo hizo una mueca triste.

- Estaba pensando en lo poco que duran las flores, y quería formular este pensamiento con las palabras adecuadas. Pero alguien lo ha dicho ya mejor de lo que yo pueda hacerlo.

- La vida de las flores es todavía más breve cuando alguien rompe la rama – dijo Zenta secamente. 

in “El valle de los cerezos rotos” de Lensey Namioka, p.83.
(Traducción del inglés: Jesús Fernández Zulaica)
El valle de los cerezos rotos

O ramo...

O ramo choca
contigo a mando
da natureza

Remedios Varo, Leonora Carrington e Kati Horna



A pintora espanhola Remedios Varo, com uma máscara de Leonora Carrington (1957), fotografada por Kati Horna.





quarta-feira, outubro 24, 2018

"HAI EXCOMUNION" - A minha biblioteca...




Pode soar mal, mas, melhor ou pior, é minha. Fruto tanto do trabalho e de mealheiros como da generosidade alheia (honoris causa para Pedro L. Cuadrado), esta é minha janela preferida para o mundo e para mim mesmo. No entanto, como está devidamente identificado, “HAI EXCOMUNION” para quem furtar algum livro, pergaminho ou papel desta biblioteca...


Puede que suene mal, pero, mejor o peor, es mía. Fruto tanto del trabajo y de huchas como de le generosidad ajena (honoris causa para Pedro L. Cuadrado), esta es mi ventana preferida hacia el mundo y hacia mí mismo. Sin embargo, como está debidamente identificado, “HAI EXCOMUNION” para quien enajene algún libro, pergamino o papel de esta biblioteca...


terça-feira, outubro 23, 2018

segunda-feira, outubro 22, 2018

As palavras que jamais.../Las palabras que jamás

As palavras que jamais foram pronuncias são as flores do silêncio. - Provérbio japonês

Las palabras que jamás han sido pronunciadas son las flores del silencio. - Provérbio japonés

"Silent Flowers" - A New Collection of Japanese Haiku Poems

"Quem tiver um porquê na vida consegue suportar praticamente qualquer como" - Nietzsche

Nietzsche

Morgan (Freeman)

Morgan Freeman in "Driving Miss Daisy"

Ondallera Radio

pedal(e)ar in «a defesa» (23/V/2018)

pedal(e)ar in «a defesa» (23/V/2018)

sábado, outubro 20, 2018

Crónica: "O socialismo só pode chegar de bicicleta" de Luis Leal (in "Mais Alentejo" nº145, p.40)

Nunca me dirigi a um público com um ministro a ouvir-me, muito menos a prestar-me atenção, porém, foi o que se passou, há pouco tempo, na apresentação do projecto-piloto U-Bike, na Universidade de Évora, no qual esta instituição alentejana, “alma mater” de parte do que sou, disponibiliza 500 bicicletas (300 convencionais e 200 elétricas) a alunos, professores e funcionários.

A leitura, com mais ou menos nervosismo, lá saiu do livro e foi partilhada. Depois veio a mesa redonda, de formato rectangular, na qual, graças a alguém bastante simpático e talvez inconsciente, participei. 

O painel era espirituoso e viveu uma autêntica etapa de contra-relógio para respeitar o “tour” da agenda ministerial. Um representava o usuário diáfano das suas rodas, crítico do urbanismo e infra-estruras locais, outro, uma cátedra de sustentabilidade e energias renováveis, ainda outro, representando a saúde e exercício físico, até que chegávamos à ponta da mesa (antes do afável moderador cuja voz leva a Rádio Diana mundo fora), e lá estava eu, uma espécie de “representante lírico” das duas rodas.

Senti o peso da responsabilidade e, como é frequente, só me lembrava das palavras da minha mulher: tens de ser mais formal!. Como sempre, tive-as em conta, mas fui incapaz de abandonar o atrevimento protocolar e não pude deixar de recomendar ao Sr. Ministro do Ambiente de Portugal a leitura de um livro, da autoria de Jorge Riechmann, intitulado El socialismo solo puede llegar en bici. Matos Fernandes (não sei se apontou a bibliografia) contestou-me que o socialismo havia chegado de bicicleta. Confesso não saber bem aonde, contudo, ao final da sessão, partilhámos uma gargalhada e demos um bacalhau amistoso, longínquo do frio sueco. 

Só depois de ter coincidido com o sr. ministro, me apercebi que, em Maio passado, o movimento Futuro Limpo, pela mão da escritora Lídia Jorge (e subscrito pelo nosso caríssimo A-P Vasconcelos), pedira a sua demissão graças à dispensa de estudo ambiental para a prospecção de petróleo ao largo de Aljezur. Parece que a Agência Portuguesa do Ambiente não identifica impactos negativos significativos, segundo o que li na imprensa.

Não percebo nada do que percebe a APA, mas creio que Portugal, movido a energias renováveis, não se prospecta no subsolo à procura de hidrocarbonetos. Na realidade, acho que se perfura (desculpem a expressão) estupidamente um futuro mais sustentável.

Quando me cruzei com Matos Fernandes, gostei do seu discurso, simpatizei com o homem e, talvez, por momentos, até tenha acreditado mais na classe política, no entanto tive de voltar para casa, para o outro lado da fronteira, montado numa realidade a gasóleo e não na minha utopia de dia-a-dia ciclista.  

Ser ambientalista, sem ser moralista, não é fácil. É-me difícil ser ecológico ao ver a primeira necessidade de pôr pão na mesa. Por isso reconheço a minha hipocrisia ao ir por aí falar dum pedal(e)ar, duma vida em bicicleta e ao ar livre, de carro. 

Apesar de ser um ciclista urbano, assumo uma completa dependência automóvel para médias e longas distâncias (e até curtas, se levo toda a família). Não é que não me queira deslocar noutros meios de transportes por esse Alentejo e Extremadura fora, é impossível fazê-lo em relação à qualidade/preço, à qual somamos o factor porta de casa, imbatível que o carro oferece. 

Ambas regiões são um claro exemplo de como os interesses relacionados com a rodovia e as industrias automóvel e petrolífera destruíram a rede ferroviária promotora, desde o final do século XIX até ao último quartel do século XX, da fixação de população e do povoamento do interior português e espanhol. 

Não me parece que precisemos de mais carros, nem de mais petróleo, nem de mais obsolescência programada para interesses imediatos sem contemplarem os interesses futuros da humanidade.  Urgem alternativas, sejam elas o comboio, o eléctrico, o burro ou uma geringonça qualquer. Prefiro a bicicleta, não porque seja um grande desportista, mas porque ouso dar à pata nos pedais e sei, como Herberto Helder, que No meio do ar/distrai-se a flor perdida. A vida é curta

Luis Leal na apresentação do projecto-piloto U-Bike, na Universidade de Évora


Crónica: "O socialismo só pode chegar de bicicleta" de Luis Leal (in "Mais Alentejo" nº145, p.40)

Crónica: O socialismo só pode chegar de bicicleta de Luis Leal (in "Mais Alentejo" nº145, p.40) 

sexta-feira, outubro 19, 2018

Era uma vez um gajo tão pontual que vivia sempre atrasado...

Yale Joel - "Jacques Tati standing on a street corner", New York City, October, 1958

Omnisciência/Omnisciencia

A verdadeira prova da omnisciência existir, não me foi demonstrada por uma entidade divina, sim por gente que sabe mais da minha vida do que eu próprio. 

La verdadera prueba de que la omnisciencia existe, no me la demostró una entidad divina, sí gente que sabe más de mi vida que yo mismo.

Doña Urraca, interpretada por José Mota

quinta-feira, outubro 18, 2018

Bertolt Brecht e o Senhor Keuner


‘Qual é o seu trabalho?', perguntaram ao senhor K. O senhor K. respondeu: 'Preparo com grande esforço o meu próximo erro'.

Bertolt Brecht, As histórias do Senhor Keuner




terça-feira, outubro 16, 2018

"A lua na minha janela" - Ryokan Taigu

Diz a lenda que Ryokan Taigu (1758-1831, eremita dedicado à poesia e à caligrafia japonesa, considerado um dos melhores calígrafos da história), uma noite um ladrão entrou em sua casa, mas, depois de ter dado volta ao local, nada de valor encontrou para furtar. Taigu, ao dar de caras com o meliante, disse-lhe: "Não deveria de sair daqui sem nada. Leve de presente as minhas roupas".
O ladrão instintivamente aceitou e saiu. O monge sentou-se nu e, enquanto olhava pela janela para o céu limpo e estrelado dessa noite, pensou: "Pobre desgraçado, quem me dera ter-lhe oferecido esta linda lua.".
Antes da noite transformar-se em dia, Ryokan Taigu, munido de pincel, papel e tinta, escreveu este haiku:

o ladrão esqueceu-se do mais importante:
a Lua
na minha janela  

"A lua na minha janela" - Ryokan Taigu (autor desconhecido)

segunda-feira, outubro 15, 2018

domingo, outubro 14, 2018

nesta manhã eu recomeço o mundo (Santa Cruz, 13/X/2018)

Santa Cruz, 13/X/2018

(para o Javier e a Belén)

nesta manhã eu recomeço o mundo
escreve na areia
e oferece-me o recomeçar
um presente de amor
passada a noite sem palavra

nesta manhã eu recomeço o mundo
apaga o mar o que fora escrito
e deixa-nos a sós
a viver esta oferta
que desliza até desaparecer

Santa  Cruz, 13/X/2018

(para Javier y Belén)

en esta mañana yo recomienzo el mundo
escribe en la arena
y me regala el recomenzar
un presente de amor
pasada la noche sin palabra

en esta mañana yo recomienzo el mundo
borra el mar lo que se había escrito
y nos deja a solas
viviendo esta oferta
que desliza hasta desaparecer

"Santa Cruz" um postal que não se envia, só se recebe...

"O QUINTAL" - Ángel Campos Pámpano (trad. Luis Leal)




O QUINTAL

saberás que o que resta
é tão só uma ausência partilhada
um outono mais lento do que este outono

brotaram sem ti
um par de rosas novas no quintal

nasceram sem ti
tu já não podes
pedir a alguém que as traga para ao pé de ti
que as coloque num copo com água
aí em frente dos teus olhos

já não podes ver
nem as rosas do quintal
nem a fissura do muro
a abrir-se sem ti
sem as tuas mãos poderem fazer nada
para fechar a ferida

não há silêncio mais rígido
que o deste quintal agora

sem ti

muda solidão que não abriga
que se impõe como luz descascada
"Duas rosas" - Autor desconhecido
que esqueceu a cal de onde nasce
como essa ferrugem
a enraizar-se para sempre no escoadouro

vai caindo a tarde desatenta
alheia à derrota
a crescer desde ti confusamente

e alheia também à quietude dos gerânios
que as tuas mãos podavam

à desolação

saberás que o que resta é o fulgor
da tua presença nas duas rosas
murchas no copo