O QUINTAL
saberás que o que resta
é tão só uma ausência partilhada
um outono mais lento do que este outono
brotaram sem ti
um par de rosas novas no quintal
nasceram sem ti
tu já não podes
pedir a alguém que as traga para ao pé de ti
que as coloque num copo com água
aí em frente dos teus olhos
já não podes ver
nem as rosas do quintal
nem a fissura do muro
a abrir-se sem ti
sem as tuas mãos poderem fazer nada
para fechar a ferida
não há silêncio mais rígido
que o deste quintal agora
sem ti
muda solidão que não abriga
que se impõe como luz descascada
como essa ferrugem
a enraizar-se para sempre no escoadouro
vai caindo a tarde desatenta
alheia à derrota
a crescer desde ti confusamente
e alheia também à quietude dos gerânios
que as tuas mãos podavam
à desolação
saberás que o que resta é o fulgor
da tua presença nas duas rosas
murchas no copo
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