domingo, julho 26, 2015

"Burn" - The Cure ("The Crow Soundtrack")

Seguramente que a melhor cena de maquilhagem da história da sétima arte devemo-la à nostalgia e tristeza do Charlie Chaplin em “Timelight” (“Luzes da Ribalta”), mas a minha geração aprendeu com um sombrio Brandon Lee, vingativo ao som dos The Cure, em “The Crow” (“O Corvo”)… Com mais de 20 anos, não há pintura facial branca e batom negro que igualem esta personagem criada por James O’Barr. 
 

sábado, julho 25, 2015

Dia de "S. IACOBUS MAIOR"


Gosto de ler, pensar e escrever nesta espécie de jardim sem flores, fitando as oliveiras. (Ruy Ventura)

Gosto de ler, pensar e escrever nesta espécie de jardim sem flores, fitando as oliveiras. Como eu, são alentejanas exiladas que, apesar do desterro, vão agarrando a terra com as raízes, produzindo rebentos, resistindo a podas sem tino, produzindo fruto que só alguns aproveitam. Sobreviveram ao deserto e à barragem, mas tiveram de migrar. Também eu, se me permitem.
Ruy Ventura (24 de Julho de 2015)

sexta-feira, julho 24, 2015

Reflexões de Eduardo Lourenço, na revista LER:

"Deixámos há muito de funcionar sob um paradigma religioso, em que o nosso destino era coletivo e possuidor de um sentido. A Humanidade era conduzida pela Providência. (...) Depois passou a ser o Homem - e a Reforma está na origem disso - o criador do seu próprio futuro. Sem a Providência, e com os riscos inerentes. O problema é saber se este sonho cartesiano levado ao extremo, em que deixamos de ser filhos da natureza, para sermos seus donos, é um exercício impune. (...) Talvez a capacidade que temos de manipulação da natureza venha a virar-se contra nós, porque afinal também fazemos parte da natureza. Talvez nos tornemos vítimas dos poderes desses deuses virtuais que pensamos que somos. Ou que somos sem saber."

quarta-feira, julho 22, 2015

"O sorriso arcaico"

«¡Qué hermosa vida!», goza el hombre, sintiéndose acariciado por esos ojos… Su mano se mueve hacia ella bajo las sábanas, pero se inmoviliza antes de tocarla, en cuanto percibe una tibieza en el lienzo. Allí se detiene como un peregrino ante el santuario final, mientras se deja mecer en las ondas tranquilas del aroma femenino. Sus párpados, al cerrarse poco a poco, van adoptando una expresión final de beatitud.
Ya dormido, la mujer inmóvil le sigue contemplando enternecida. Sonrisa de niña descubriendo al hombre; mirada de madre ante el hijo en la cuna; emocionada serenidad de hembra colmada por su amante.

José Luis Sampedro, in La sonrisa etrusca, p. 248.
[Trad. Luis Leal]

Educación por la piedra... (Hojo Undo) El arte de mi amigo Juanma Zarzo

segunda-feira, julho 20, 2015

“Mas tu sim, as minhas palavras fazem ninho no teu peitinho. Algum dia recordá-las-ás de imediato; não saberás de onde vêm e serei eu, como agora arrancas de dentro de mim tanto do que esqueci.”

“Pero tú sí, mis palabras hacen nido en tu pechito. Algún días las recordarás de pronto; no sabrás de dónde vienen y seré yo, como tú ahora sacas de mis adentros tantos olvidos.”

José Luis Sampedro, in “La sonrisa etrusca”, p. 219.

segunda-feira, julho 13, 2015

Prescrição (Miguel Torga)

Foto: Matt Bell



PRESCRIÇÃO

Deixa passar as horas
Sem as contar.
Alheia a cada instante,
Vive, a viver a vida, a eternidade.
Feliz é quem não sabe
A própria idade
E em nenhum ano pode envelhecer.
Dura encantada na realidade.
Negar o tempo é o modo de o vencer.


Coimbra, 30 de Junho de 1983

Miguel Torga



Uma voltinha de mota?



Apanha-me essa mota, ó Luís, que o kazama77 fotografou. Vê lá se ele empresta para dar uma voltinha...






domingo, julho 12, 2015

A DIGNIDADE - Ángel Campos


enquanto possa pensar-te
não haverá esquecimento

ainda se chamas
acudo a ti
fluo desde a minha mão
à mão que estendes desvalida
e entro no teu abraço
com o temor que engendra o medo

mas vou à tua procura
acudo a ti oferecendo-me
como animal sedento
que focinha na lama

acudo a ti
ascendo à tua respiração
fragmentado rumor que é puro abismo
sulco aberto na rocha
                                               leito seco

que oculta a água
a mesma que agora eu
acerco até aos lábios gretados
por mitigar apenas
a febre que humedece
a nítida brancura dos lençóis

acudo a ti
ao teu recolhimento
à untura que acalma os teus joelhos
à pausa limpa da tua voz
entrecortada
por ver se o que um dia disseste
poderá ser dito
de novo com a mesma dignidade

porque tu bem sabes
                                               há palavras
que duram muito mais que a queda

por isso hoje acudo a ti
à tibieza do teu sangue
à tersa pele que cobre as tuas pernas
acudo a ti
ao nada
                retido o alento
da tua voz que me fala
até fazer-se em mi
                               certa

a palavra que dura
legível na sua mudez
suspensa nos lábios
e escrever com ela
a minha biografia

sei que enquanto possa dizer-te
não haverá esquecimento
que do espaço do teu nome
há de brotar
abertas as suas duas sílabas
a semente na neve


[Trad. Luis Leal]

"Casillas, de Espanha Bons Ventos e Bons Exemplos"

Desde há dez anos que pergunto, numa dinâmica dessas típicas de sala de aula, a adolescentes espanhóis um exemplo de um ídolo. Muitos dos quais associo à figura de boa gente, respondem: “o Iker Casillas”. 
Neste mundo tão de aparências como é o nosso, e em especial o ambiente "pesetero" do futebol, o exemplo desportivo e de cidadania deste guarda-redes sempre me pareceu positivo (até mesmo numa época tão “contaminada” como a última da era Mourinho!).
Agora de caminho para a Invicta, talvez venha a ser o ídolo de alguns adolescentes portugueses. Que também aí seja lembrado como boa pessoa e um modelo de desportista, mostrando, mesmo através de algo tão prosaico como o futebol, que de Espanha também vêm bons ventos e bons exemplos.
  

terça-feira, julho 07, 2015

Um privilégio estar em Salamanca...

Rio Alva, na Ponte das Três Entradas, na companhia do mestre Miguel Torga

Não me lembro de ter alguma vez lido um livro de poesia desde a primeira à última página, como se de um romance se tratasse, mas esta antologia do Mestre Miguel Torga foi uma expceção.
Pena o adjetivo "lírico" ter uma conotação injusta por uma grande maioria que não o entende e limita. Não me imagino sem esta profunda gratidão que tenho pela obra de Torga... Não me imagino sequer...

A Ponte das Três Entradas

domingo, julho 05, 2015

Oxi

Princesa de cara roupa
Princesa corcunda rota

Princesa de banquetes
Princesa de croquetes

Princesa da alta finança
Princesa matriz e herança

Princesa da moeda única
Princesa sem uma única moeda

Povo que se vê Grego
Sem Pão

Penélope a fiar barato o destino
Ulisses perdido num mar de dividas
A flutuar à deriva e sem divisas.

Depois de tantos trabalhos
Hércules manda Hera pró caralho

Endireita as costas vergadas
(Humilhada por humilhada)
Ostracizada de 18
E feita num oito
Mas a Grécia
Berço da democracia consultado.
Sim ou não.

Os gregos, que baptizaram a filha
De Agenor e de Telefasa
A quem chamaram
Europa, 
Disseram 
Não.
Eu que sou neto de Helena
Acredito que temos que saber dizer
Oxi.

E agora?
Uma nova aurora?
Não.
É apenas mais um capítulo,
Mais um parágrafo na história
Desta Europa
Que já não cai na canção do bandido...