Estou a olhar para os meus filhos a dormirem. Ouço o respirar relaxado e uns ligeiros chuchar na língua herdados da mãe. Também eu deveria de estar a dormir.
Têm a ventura do seu dia-a-dia ser uma aventura infantil. Brincam, cumprem as escassas responsabilidades, tomam o pequeno-almoço, lancham, almoçam, lancham, jantam e antes de dormir, por vezes ainda há o leitinho. Um deles, o mais velho, está a sorrir e a rir num sonho. Observo o resultado e fico feliz.
O outro é bebé e dorme como um bebé, profundamente, até que acorda de um salto e diz:"¡Hola Papi!".
Eles são a minha responsabilidade, são a minha prioridade, o meu principal compromisso. Os medos por vezes ensombram parte do meu dia e acendem tochas inconvenientes no breu da minha noite. Vivo com eles e assumo-os. Algo ajuda, mas mesmo assim durmo pouco.
Há dias, um dos nossos mais queridos amigos foi pai pela primeira vez. Nove meses não preparam ninguém, uma vida inteira não prepara para coisa nenhuma. Não temos de estar preparados para a felicidade, tal como nunca estaremos para a dor. Vivemos.
Tenho a sorte de os ver dormir. Eles têm um pai, absorto na sua infância, que vela pelo seu sono. Quando todos acordarmos, eu também - isto de escrever quando o corpo deveria dormir é uma espécie de sonho do qual nos lembramos -, abraçar-nos-emos na rotina edificada em família. A rir, a resmungar, em silêncio, a falar dos planos para o dia, de trombas, não seremos unicamente o dia anterior, não nos projectaremos no dia seguinte. Estamos presentes em vida. Notá-lo-emos?
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