“El reloj es una bomba
de tiempo, de más o menos tiempo.”
Ramón Gómez de la Serna
O tempo afiança-se-me na respiração
consciente da corrente sanguínea estanque
de estar vivo.
O tempo substantivo depende do adjectivo.
Fotografa o bom, mau, cinzento, rápido, duro,
o agradável ou desagradável
ao mais íntimo dos meus sentidos.
O tempo de previsão em qualquer canal de televisão.
A noção do tempo na mecânica redundante do relógio de pulso
oculta a fé na eternidade dunar da ampulheta profeta
da religião didáctica nos tormentos pacientes de Job.
A resistência do tempo na matéria e o efeito ruína a renegar
neologismos de
[resiliência.
A liberdade da criança e do louco adulto
sem ilusões de ponteiros, segundos, minutos,
horas apenas. Pés sujos da areia de dias, semanas, meses,
anos, décadas, séculos
e milénios de nadas.
“O tempo não existe”, assegura-me o físico ao calor do asfalto na
encruzilhada
do passado, presente e futuro em direcção a uma firme e
persistente ilusão.
“O tempo tem de existir, se não éramos tudo a acontecer de
uma só vez”, sem perder tempo, diz-me o comum dos sensos.
“O que é o tempo?” pergunta-me, para sempre, o filósofo.
Na agenda do poeta, o tempo são versos brutos, longitudinais
à sua latitude,
profanos de tanta devoção a um ignoto Cronos.
O almanaque do poeta é sazonal em qualquer leitura momentânea,
em qualquer necessidade instantânea de poesia.
Já eu, que apenas o sinto, vejo o tempo ser tratado como uma
substância
maleável, moldável, plástica, aos interesses dos meus
semelhantes.
Até à data deste calendário, sou apenas mais um crente na intangibilidade
explosiva
[deste elemento da Criação.
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