Fotografia de Rosa Gambóias
Gosto muito da poesia de Fernando Assis Pacheco, leio e releio. Sente-se muitas vezes um estremecimento, um calafrio, como neste poema, "O mocho e o macaco", do seu livro Variações em Sousa (1987), que encontramos em A Musa Irregular (Assírio & Alvim, 2006), onde se recolhe a maioria dos versos escritos por Assis Pacheco. Há mais um livro, Respiração Assistida. Fica para outro dia.
O MOCHO E O MACACO
Ora uma vez um mocho diz o
meu filho
que sabe todas as histórias
do mundo
uma vez um mocho
o macaquinho pergunta-lhe
o que é quando se morre?
pois nada diz o mocho
morre-se praí
o macaquinho insiste
mocho e quando tu morreres?
morro nada diz o mocho
hás-de morrer tu primeiro
mas veio uma zorra e comeu o
mocho
que foi para um buraco muito
fundo
ninguém cantava nesse buraco
só os morcegos e mesmo esses
só se a gente lhes batesse
com uma vassoura da cozinha
o macaquinho come bananas
escapa-se ao jacaré do
Amazonas
que lhe quer dar uma dentada
salta nas árvores
uma daquelas era onde estava
o mocho
coitado do mocho
não viu a zorra ao pé da
carvalheira
morre-se praí
morre-se num instantemente de
nada
morre-se a morte mocha
sem a gente dizer ai
1 comentário:
Belo poema... "morre-se praí" efectivamente...
Abração,
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