terça-feira, março 31, 2015

en el tiempo en que éramos felices no llovía - José Luís Peixoto

en el tiempo en que éramos felices no llovía.
nos levantabamos juntos, abrazados al sol.
las mañanas eran un cielo infinito. nuestro amor
era las mañanas. en el tiempo en que éramos felices
el horizonte se tocaba con la punta de los dedos.
las mareas traían el fin de tarde y no veíamos
más que la mirada uno del otro. jugábamos
y éramos niños felices. a veces aún
te espero como te esperaba cuando llegabas
con el uniforme lindo de tu inocencia. hace mucho
tiempo que te espero. hace mucho tiempo que no vienes.

José Luís Peixoto in "A Criança em Ruínas " [trad. Luis Leal]

segunda-feira, março 30, 2015

Haiku

A manhã caminha fria
Para alongar-se
Num dia de temperatura primaveril

Paysages d'ici et d'ailleurs (Canal ARTE)

Marvão, Elvas, Portalegre, Olivença e a minha fronteira dos Galegos (com Puerto Roque a erguer-se atrás) em direcção a Valencia de Alcántara tão bem retratadas neste documentário do canal franco-alemão Arte. Grata participação ao conversar com Raphael Hitier e “encerrar” este documentário depois das excelentes intervenções de José Ribeiro, Jorge de Oliveira e Francisco Mondragão-Rodrigues. Este é o viver da nossa rai/ya… (nunca imaginei ver-me dobrado em francês!). 

Ver documentário em: 

http://www.arte.tv/guide/fr/053444-018/paysages-d-ici-et-d-ailleurs



sexta-feira, março 27, 2015

Pensamento de sexta-feira

Quanto mais me afasto do bairro, mais me leva a vida a pisar outras calçadas, mais sinto que serei sempre o parolo de um bairro de uma pequena cidade alentejana. Um labrego que apenas conhecia os bairros da Sra. da Saúde e o da Sra. do Carmo.

"Paisagem da Raia" documentário do Canal Arte. Hoje, estreia em Portugal.



Somos nós quem dignifica este espaço da raia. Somos nosotros quienes dignificamos este espacio de la raya. A minha humilde colaboração. Mi humilde colaboración. Obrigado/Gracias.



domingo, março 22, 2015

Meu amigo (Rui Pires Cabral)



MEU AMIGO

Depois de tudo, no vazio
da manhã inabitável,

ajuda-me a negar
este remorso:

eu só queria uma canção
que não morresse

e a hipótese de um poema
que não fosse

o lugar onde me encontro
uma vez mais,

sem desculpa, sem remédio,
diante de mim mesmo.

Rui Pires Cabral


(Blogue Hospedaria Camões)




sábado, março 21, 2015

as estações segundo wong kar wai

I
a primavera da vida traz a ilusão certa
que o tempo vencer-se-á com técnica e subtileza.
pratica-se a ociosidade da vaidade
de em nós existir uma qualquer certeza.
II
o verão da vida seca-nos o céu da boca.
resplandece-nos a pele e no firmamento de agosto
acreditamos que as constelações são pontos
que se unem numa alineação a nosso favor.
III
o outono da vida cai-nos do alto dos astros.
submetem-se a nossos pés folhas, rascunhos,
papéis escritos de métrica tétrica, da ironia
convencida pelo encurtar dos dias.
IV
o inverno da vida neva sobre a natureza da obra
da tua mão. cobre a pele das articulações,
cãibras, espasmos, músculos, êxtase de deformações
com a geada branca, manto enrugado do que não perdura.

Associa-se a poesia ao tempo da flor

Associa-se a poesia ao tempo da flor. Tende-se a trovar melhor, já o recordava D. Dinis aos provençais… Mas aqueles cuja alma vai por aí versando fazem-no em qualquer estação da vida, não têm qualquer exclusividade primaveril.
Hoje, noutra dessas verdades universais de calendário, celebra-se o Dia Mundial da Poesia.
Eu celebro-o com as cinzas de um local que me tem acompanhado nos últimos anos, ensinando-me a apreciar e a tentar ser digno das minhas ruínas, Jola.
Celebro-o com a amizade do Adolfo Rodriguez Fernandez que ontem me obsequiou com esta primeira edição do meu mestre Ángel Campos Pámpano. Celebro-o com a “poeticidade” do português do meu amigo Ruy Ventura. Celebro-o com o abraço complacente do Pedro L. Cuadrado. Celebro-o com o humanismo, que me humilda perante tamanha humildade, do Pedro Martin González.
E celebro-o longe mas com o meu irmão, José Antonio Santiago Sánchez, que me ensinou a olhar para o céu e a saciar a fome com o pão que nos permite a nossa pobreza…
Todo o ano vejo tantas flores, autenticamente belas. Procuro colhê-las com cuidado e juntá-las suavemente num ramo de gratidão...

As escadas que te levam à poesia (Escola Secundária de S. Lourenço, Portalegre) - Dia Mundial da Poesia


sexta-feira, março 20, 2015

Vou-me embora, vou partir mas tenho esperança (Vitorino)



Esta música vai para receber a primavera, que chega hoje oficialmente às 22:45 (hora portuguesa)

É pena não se encontrar a versão que Vitorino gravou no seu disco Semear salsa ao reguinho. Eu gosto mais dela. Esta pertence ao álbum Alentejanas e amorosas, e é coral.


Vou-me embora, vou partir mas tenho esperança
de correr o mundo inteiro, quero ir,
quero ver e conhecer rosa branca
e a vida do marinheiro sem dormir.

E a vida do marinheiro branca flor
que anda lutando no mar com talento,
adeus, adeus, minha mãe, meu amor,
eu hei-de ir hei-de voltar com o tempo.








"Have You Forgotten"- Red House Painters

“Quando éramos crianças, odiávamos as coisas que os nossos pais faziam
Ouvíamos baixinho o programa de rádio do Casey Kasem
Era quando os nossos amigos eram fixes,
Só de pensar neles fazia-nos ser fixes
O cheiro da erva na primavera
E as folhas de outubro cobriam tudo.”[trad. Luis Leal]

I can't let you be, cause your beauty won't allow me
wrapped in white sheets,
like an angel from a bedtime story
and shut out what they say,
cause your friends are fucked up anyway
and when they come around,
somehow they feel up and you feel down.

When we were kids, we hated things our parents did
we listened low to Casey Kasem's radio show
that's when friends were nice,
to think of them just makes you feel nice
the smell of grass in spring
and October leaves cover everything.

Have you forgotten how to love yourself?

I can't believe all the good things that you do for me
sat back in a chair like a princess from a faraway place
nobody's nice, when you're older your heart turns to ice
and shut out what they say;
they're too dumb to mean it anyway

When we were kids, we hated things our sisters did
backyard summer pools and Christmases were beautiful
and the sentiment of colored mirrored ornaments
and the open drapes
look out on frozen farmhouse landscapes

Have you forgotten how to love yourself? 

quinta-feira, março 19, 2015

Um dia vertical

Nestas datas tudo o que se escreva ou diga são clichés, mais ou menos, foleiros. Essa é a derradeira verdade do calendário. Mas, como foleiro orgulhoso que sou, hoje, nestas redes ilusoriamente sociais, partilho um sentimento (não sei se há um “emoticon” amarelo qualquer para isso), uma espécie de etapa de verticalidade na minha vida na qual sou neto, filho e, apesar de me continuar a parecer surreal, sou pai.
Essa verticalidade advém duma longevidade à qual estou naturalmente grato. Ou talvez não. Todos esperamos um fim, mas o meu avô está a esperar com muito sofrimento. Estava a pensar ser hipócrita e não vertê-lo em palavras. A ausência de respostas para estas coisas da moral, da biologia levam-nos à sinceridade, algo que até pode ser útil se alguém um dia quiser conhecer a nossa biografia.
Gostava que a natureza nos tratasse com dignidade e, se assim for possível, que aqueles que vêm depois de mim, um dia, sintam esta genealogia na vertical carregada de gratidão. Ilusão seria ter certezas da condicionalidade que é a vida. Apenas me resta aproveitar estas linhas, que não são nada mais que tempo, continuo, teclado letra a letra, e olhar para cima.
Vejo-te avô. Vejo-te em mim. Leal.
Vejo-te pai. Vejo-te em cada passo que dou. Em cada passada que denuncia que habitas em mim.
Vejo-me. Abaixo-me porque não gosto de olhares de cima para baixo. Perco os meus dedos no sol dos cabelos do meu filho. Coloco um ponto final nesta crónica. É o sinal que pontua que não há nada mais importante que brincar… 

quarta-feira, março 18, 2015

Na morte de nicolau (Ruy Belo)



Na morte de nicolau

José maria nicolau fugiu. Quem o apanha?
Nunca ele pedalou tanto como agora
Decerto vai chegar antes da hora
A etapa era decisiva e está ganha

Ele que várias vezes deu a volta a portugal
deu desta vez a volta a quê? Talvez à vida
A alguns anos já da primeira partida
fugiu. Tudo se torna agora mais real

Que média fez num terreno tão mau
É tudo serra custa muito subi-la
Deixem que eu vista a camisola amarela
ao grande corredor josé maria nicolau

Ruy Belo



José Maria Nicolau, ciclista português, nasceu no Cartaxo no dia 15 de Outubro de 1908. Ingressou no Sport Lisboa e Benfica em 1929. Venceria com a camisola encarnada a Volta a Portugal em 1931 e 1934. O país desportivo, na década de 1930, rejubilou com os seus famosos duelos com o arqui-rival sportinguista Alfredo Trindade, também de Cartaxo. Ambos tinham cinco meses de diferença de idade e uma mútua amizade. Nicolau era alto, forte e possante, ao contrário de Trindade, pequeno e franzino. Esta sã rivalidade desportiva entre os dois contribuiu decisivamente para a consolidação dos dois emblemas desportivos a nível nacional. Nicolau é considerado o maior corredor da História do ciclismo do Benfica, modalidade simbolicamente representada no seu emblema. Terminaria a sua carreira no dia 24 de Setembro de 1939.

Faleceu em Agosto de 1969, num acidente de viação, quando Alfredo Trindade era, por curiosidade, técnico de ciclismo do Benfica.



O príncipe de Jola

Hoje voltei, em português, a essa minha "campiña"... 

Ao Juanjo. O meu principezinho.
À minha “campiña”.

O príncipe de Jola
Não sorria.
Ele era o puro sorriso.
O seu principado
Não tinha súbditos.
Era perfeitamente povoado
Pelos seus queridos gatos.

O príncipe de Jola
Nasceu depois do Saint-Exupéry
Desaparecer,
Aéreo,
No mediterrâneo.

O principezinho
Da terra dos homens
Não tinha um elefante,
Nem um cordeiro, asteróides, planetas
Arborizados ou por arborizar.
Tinha a lenta flor da curiosidade,
Regada com o silêncio das suas lágrimas.

O príncipe de Jola,
Moreno e sem cachecol,
É o meu principezinho.
Com ele aprendi que cada pedra é um trono
E que todos somos pequenos,
Mas príncipes,
Dignos das nossas circunstâncias.

terça-feira, março 17, 2015

"E tudo era possível" (Ruy Belo) declamado por o ator Nuno Lopes

Um dos meus poemas favoritos, um dos meus atores favoritos, uma paisagem que será sempre minha... Um belíssimo videopoema de um projeto ainda melhor: "A Voz" das "Produções Fictícias".

segunda-feira, março 16, 2015

PARA ESCREVER O POEMA - Nuno Júdice

O poeta quer escrever sobre um pássaro:
e o pássaro foge-lhe do verso.
O poeta quer escrever sobre a maçã:
e a maçã cai-lhe do ramo onde a pousou.
O poeta quer escrever sobre uma flor:
e a flor murcha no jarro da estrofe.
Então, o poeta faz uma gaiola de palavras
para o pássaro não fugir.
Então, o poeta chama pela serpente
para que ela convença Eva a morder a maçã.
Então, o poeta põe água na estrofe
para que a flor não murche.
Mas um pássaro não canta
quando o fecham na gaiola.
A serpente não sai da terra
porque Eva tem medo de serpentes.
E a água que devia manter viva a flor
escorre por entre os versos.
E quando o poeta pousou a caneta,
o pássaro começou a voar,
Eva correu por entre as macieiras
e todas as flores nasceram da terra.
O poeta voltou a pegar na caneta,
escreveu o que tinha visto,
e o poema ficou feito.


NUNO JÚDICE, in A MATÉRIA DO POEMA (Publ. D. Quixote, 2008)

Naquele tempo, viver era a melhor coisa do mundo (Pedro Tamen)

Naquele tempo, viver era a melhor coisa do mundo.
Quando nascia o sol as pessoas viam
e os homens eram crianças para além dos montes.
Era uma planície, grande como convém a todas as planícies
e plana porque tudo estava certo.
Naquele tempo tínhamos sido criados e éramos iguais às
ervas e às flores.

Tu,
tão perfeita que impossível não seres,
tão erguida como um riso de andorinha,
tu estavas ao meu lado, naturalmente fresca,
e não havia motivos nem razões porque sabíamos tudo.
A nossa teologia era o beijo da criança mais próxima
e o deitarmo-nos na terra como folhas da mesma planta,
gratos, reduzidos, conscientes.
Olhando para cima, o céu abria-se e todos os Anjos
vinham sentar-se no rebordo
e riam como nós pequenas gargalhadas.
Eu cantava canções mais belas do que não tendo palavras
e ouvias-me em silêncio e de olhos abertos, exatamente
como a todos os sons.

domingo, março 15, 2015

“Paisagem da Raia”

Foi um prazer participar neste documentário sobre a “Paisagem da Raia” e poder colaborar com esta equipa de produção do canal franco-alemão "Arte". Em França e na Alemanha, emitir-se-á na sexta-feira 27 de março às 17.45 e às 15.50, respectivamente. Em Portugal será no dia 3 de abril, também uma sexta-feira às 17.00. Agora resta-me confirmar quando será em Espanha.
Podem ver a “intro” no seguinte link:

Un placer participar en este documental sobre el “Paisaje de la Raya” y poder colaborar con este equipo de producción del canal franco alemán “Arte”. En Francia y en Alemania, se emitirá el viernes 27 de marzo a las 17.45 y a las 15.50, respectivamente. En Portugal será el 3 de abril, viernes también pero a las 17.00. Ahora hay que confirmar cuando lo emitirán en España. En cuanto lo sepa os lo comunico. 
Aquí está el enlace en alemán:

My own private nature ("Prunus dulcis" e "Apis mellifera")


sábado, março 14, 2015

Nuestro árbol. Nuestra encina./A nossa árvore. A nossa azinheira (Quercus rotundifolia)



Um Autêntico Sonho de Amor (Miguel Torga)

Orgulho, vaidade, despeito, rancor, tudo passa, se verdadeiramente o homem tem dentro de si um autêntico sonho de amor. Essas pequenas misérias são fatais apenas no começo, na puberdade, quando se olha uma janela e se desflora quem está lá dentro. Depois, não. Depois, sofre-se é pelo homem, é pela estupidez colectiva, é por não se poder continuar alegremente num mundo povoado, e se desejar um deserto de asceta. O ascetismo é a desumanização, é o adeus à vida, e é duro ser uma espécie de fantasma da cultura cercado de areias.
Miguel Torga, in "Diário (1948)"

quinta-feira, março 12, 2015

Quando chegaste - esquálida e coberta de adjectivos (José Luís Peixoto)

Quando chegaste - esquálida e coberta de adjectivos
que rejeitavas, que te seguiam - o silêncio deixou
de ser solene.

Atirámos frases inteiras às paredes, somos crianças,
e rimo-nos. A história escreveu-se longe
das nossas mãos.

Não sabemos mais verdades do que a nossa.

Existiu um dia, perdido, em que nos encontrámos.
Podíamos celebrá-lo com discursos estruturados e
insignificâncias. Preferimos comê-lo - é um bolo
de creme.”
José Luís Peixoto, in "Gaveta de Papéis"

quarta-feira, março 11, 2015

"A Luz" - Ángel Campos Pámpano

II
A Luz


Não é um jogo a luz entre os castanheiros, é um projecto, uma magia admirável; dádiva plural de onde convergem a raiz e o ramo, o espelhado enigma dos pássaros que cruzam a esta hora a nitidez do céu, o pulsar de uma terra que ressuma nudez e emoção, o fragor da folhagem, antiga folha que une o fruto e a semente.

Ángel Campos in "Jola" (2003) 
[trad. Luis Leal]


domingo, março 08, 2015

Mulheres perseguidas à coronada... (Imagem extraída da revista Sábado nº 470 de 2013)

No feminino.

Hoje é Dia da Mulher. Frase batida e nada de novo. Tende-se a isso, isto é, o mercado instaurar efemérides para vender o que quer que seja, a quem quer que seja. Uma mentira tão acéfala em si mesma, na sua vacuidade, que se torna verdade.  
No entanto, os outros 365 dias que esquecem as mulheres anulam dias como este em que muitos de nós pensamos “melhor um dia que nenhum” para celebrar essa metade que cria e carrega a vida no seu ventre, que luta diariamente e anacronicamente porque o natal que leva dentro de si a torna menos produtiva para esse tal mercado das efemérides, dos dias para celebrar.
A mulher quando nasce já traz dentro de si uma valentia protectora desinteressada, da maternidade que a gerou e jurou eternizar-se no seu corpo, com ou contra a sua vontade, caso a sociedade assim o decida e as religiões assim o amparem em adjectivações pecaminosas.
Nascer mulher evidencia o perigo que é -desculpem a redundância- ser-se mulher. Acarreta o risco de ser estuprada no seu direito a ser mulher -outra vez a minha redundância feminina- porque se nasceu num sítio onde criminosos têm prazer em mutilar clitóris ou, numa impunidade descarada, cobrem a sua vergonha masculina no rosto e corpo submisso feminino que violam cada vez que respiram. Argumenta-se com cultura ou vontades divinas, justifica-se a barbárie até com o recurso a palavras e escritos de punho e voz no feminino. Eu argumento com o peso secular de saber que vou ofender, uma vez mais, a dignidade duma mulher: a puta que os pariu! (Peço perdão à meretriz, que fique apenas o tom enfático do vernáculo).
Então neste calendário de mercado, hoje também é o meu dia porque sou homem gerado no ventre duma mulher, educado por e com mulheres, amado por mulheres e com a certeza que amo e amarei várias mulheres. Não é o momento para discutir tipos de amor, quem está a ler estes parágrafos não se confunde.
Homenagear as mulheres 365 dias por ano, é ser-se homem com “M” maiúsculo. É repudiar tanto o machismo como o feminismo, é saber que a igualdade do ser humano reside na sua diferença biológica que se completa em géneros livres para que exista um futuro…
Seres humanos a sério não necessitam de dias destes para que se lhes recorde o género. Estão lá, no dia-a-dia, juntos. Na dureza da existência que se suaviza na pele e no abraço consentido, porque na dignidade, na liberdade, não existe masculino nem feminino…
Por isso, lembrei-me desta imagem do passado que recortei para nunca me esquecer. Haverá muitas mais, e mais chocantes ainda, por esse mundo fora. “Mulheres que foram expulsas à coronada porque foram apoiar os seus homens”…
Já que está na moda ser-se tanta coisa, orgulho-me em ser um homem que se sente uma costela das mulheres. O que vem na bíblia não me convence. 


sábado, março 07, 2015

Enseñando lo que es un Haiku... (Kagami Biraki 2015)

Hablando brevemente, muy brevemente, sobre lo que es un haiku… En el Kagami Biraki (2015) del Kenshinkan Dojo. Muy bien acompañado por Juan Ignacio y por nuestro Pedro. 

quinta-feira, março 05, 2015

Un trocito de Japón aquí...

Un trocito de Japón aquí... 
Gracias Pedro Martin González. 

"¿La nieve que cae 
es otra 
este año?" 
Haiku de Bashô

quarta-feira, março 04, 2015

PRESENTACIÓN DE RUY VENTURA EN EL AULA DE POESÍA DIEZ-CANEDO DE BADAJOZ (03/03/2015)

por Luis Leal



Una brevísima nota biográfica:

El poeta portugués Ruy Ventura nació en Portalegre en 1973 y actualmente vive en Azeitão, donde enseña lengua y literatura portuguesa en un instituto de la localidad.
Su primer poemario, “Arquitectura de Silencio”, fue galardonado en 1997 con el Premio Revelación de la Asociación Portuguesa de Escritores. Desde entonces ha publicado otras obras como “Siete capítulos del mundo” y “Así se deja una casa” (ambos en 2003); “Llave de Ignición”, en 2009, “Instrumentos de Soplo” de 2010 y, en 2012, “Contramina”.
El año pasado, la obra del poeta cruza el atlántico y llega a Brasil con una antología llamada “Calle de la otra Calle” (“Rua da outra Rua”).
Es posible encontrar innumerables poemas suyos traducidos al inglés, alemán, francés y español.
Ruy Ventura, además de su actividad poética y docente, es también traductor,  investigador y ensayista con intereses tan diversos como la toponimia, el patrimonio histórico religioso, la poesía contemporánea y la literatura tradicional portuguesa. En el ámbito de la traducción hay que destacar su vinculación a Extremadura, siendo traductor de autores extremeños como Ángel Campos, Antonio Sáez o José María Cumbreño.

Algunas consideraciones personales sobre la lírica de Ruy Ventura:

En Ruy Ventura encontramos la raya, o, a lo mejor, dos rayas. Una serrana, desde la cuna, donde resuena España desde lo más alto de la Sierra de S. Mamede, y otra, también montañosa, que limita Portugal con su reflejo en el espejo del Atlántico, en una quietud casi monástica de la Sierra de Arrábida. 
Estas geografías inspiraron grandes nombres del lirismo portugués, como José Régio, desde su ventana de Portalegre, Sebastião da Gama en lo más alto de la península de Setúbal, o, incluso, mi tan estimado Bocage. Y, desde hace ya casi 20 años, Ruy Ventura es un dignísimo sucesor de este lirismo luso.
No es el tiempo cronológico el que pone las comas en la poética de Ruy Ventura, quizás algunos granos de arena o las ramas podadas de algunos momentos que llenan una casa, cuyos fondos son una especie de raíz que la sostienen en una arquitectura de silencio.
Desde el relieve encontramos una fuerza telúrica de montaña, escribiendo y reescribiendo su voz. El poeta Ruy Ventura persigue imágenes que caminan con la lucidez del vate que no cierra los ojos, que fotografía todo pero no encuentra nada para revelar. ¿Y por qué habrá que revelar la mirada?
Esa es la gran diferencia entre literatura y poesía como Ruy Ventura la concibe en su obra. Al optar por la prosa, el autor cuenta lo poético que encuentra en su universo con un lenguaje que se deja deslumbrar por su propio movimiento, dejando, incluso, herirse por sus imágenes.
¿Piedra o sangre? ¿Sangre o tinta? ¿Tinta o piedra? El poeta brasileño, que tanto cantó la aridez de su Sertão, como la fertilidad de Andalucia, João Cabral de Melo Neto nos educó por la piedra, sin embargo Ruy Ventura nos enseña que la piedra acompaña la forma del mundo, en su ausencia de voz, en la dureza que la aparta de ser tierra.
Al guardar en los ojos las semillas, el poeta logra abandonar la brevedad y cadenas que pueden ser las raíces de uno, obturando, siempre, en gestos impregnados de nitrato de plata, la sombra de su original voz poética.
Cerré las tapas que ocultan esta breve antología con la sensación de haber peregrinado por la montaña para visitar un santuario, seguro de que el verbo orar no es antagónico al laborar del poeta. Eso es más que evidente en la poética de Ruy Ventura cuyos poemas son un medio y la reflexión un fin. Como él mismo enuncia “hay, sin embargo, hechos, vestigios, trozos de papel, facturas que la escritura nunca descuidada fue a dejar entre las páginas de un desierto…”
En la lírica de Ventura, cuyo nombre nos podría resumir su obra, con la ayuda del diccionario de la RAE, encontramos felicidad, suerte, contingencia o casualidad, como también el riesgo, el peligro, o, por antonomasia, el suceso o lance extraño que procede de la actividad poética.  
En las palabras de Ventura sabemos que del grito a la nada se cruza por una tabla de madera que une los dos lados del andamio y nos quedamos con la certeza que si queremos intentar, de alguna manera, traer la idea de Dios a nuestro pensamiento, simplemente, estimados lectores, como dice el poeta que tengo el placer de presentar, hay que tener cojones, o, como se dice en portugués: “ter colhões”.    

"É uma pulseira?" - Excerto de "Galveias" de José Luís Peixoto

“É uma pulseira?
                O pai respondeu que não, e mostrou-lhe. Com o bico de uma esferográfica, começou a acertar o relógio de pulso. Esse trabalho era acompanhado por apitos que impressionavam, pi piii, pi piii. Joaquim Janeiro regalava-se com esse papel de arauto do progresso. O presente da filha era um relógio digital, comprado em Badajoz. A bracelete era toda de metal. Dava as horas inequívocas, mas tinha um botão que fazia aparecer a data e, se carregasse duas vezes, ficavam os segundos a passar. Havia ainda outro botão que, incrivelmente, dava luz. Essa era a função preferida da filha. Era à prova de água, mas não convinha experimentar. O pai ajustou-lho ao pulso, toda agente quis vê-lo de perto. Até os vizinhos, que estavam pendurados na ombreira da porta, deram dois ou três passos no interior da casa para se espantarem com esse produto. Conceição, vaidosa, exibiu-o com generosidade, mas só até certo ponto, jurou estimá-lo para sempre.”

José Luís Peixoto in “Galveias” p.160 e 161

segunda-feira, março 02, 2015

Mount Fuji

Foto de Pedro Martín

"Camões, grande Camões, quão semelhante..." (Bocage)




Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez perdendo o Tejo
Arrostar c’o sacrílego gigante:

Como tu, junto ao Ganges sussurrante
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante:

Ludíbrio, como tu, da sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura:

Modelo meu tu és... Mas, ó tristeza!. . .
Se te imito nos trances da ventura,
Não te imito nos dons da natureza.


Bocage



"Sponge Fernando" - Imagem extraída da revista Sábado nº 470 de 2013

"Como uma esponja? Como uma loja de esponjas, com um armazém anexo!" - Fernando Pessoa

"Boné" - José Luís Peixoto

"Boné? Eu disse boné? Peço desculpa, enganei-me. Quando disse boné, queria dizer: piercings, tatuagens, responder a questionários de verão, ir a programas televisivos da manhã, folhear revistas cor-de-rosa na bomba de gasolina, ir a festivais de música e cantar em voz alta, ter página no facebook, comer cachorros quentes na roulotte."