sábado, outubro 10, 2009

O'Neill e o pai


"Fossem os ossos, as sopas ou a falta de descanso, é um facto que Alexandre já saíra de casa quando se mete nas (atrasadas) aventuras surrealistas portuguesas. Uma manhã tem uma das habituais (e sempre iguais) trocas de palavras com o pai, o emproado empregado bancário José António Pereira d'Eça Infante de Lacerda O'Neill de Bulhões:
 
— Alexandre, leva o chapéu de chuva.
— Não é preciso, pai. Não chove.
— Chove. Leva o chapéu de chuva.
— Não é preciso, Pai.
— Já te disse para levares o guarda-chuva.
— Não levo o guarda-chuva e nunca mais cá apareço...
 
Esteve 16 anos sem ver o pai e passou a dividir um atelier numas águas-furtadas de um prédio antigo, na Avenida da Liberdade, com Cesariny e António Domingues. Aí se fizeram, de acordo com o amigo/visitante Cardoso Pires, múltiplas colagens colectivas, algumas das quais foram apresentadas nas primeiras exposições lisboetas dos surrealistas."
Isso é carácter, sim senhor.
 

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