sexta-feira, agosto 30, 2013

Como posso ser

Ao Joseph Conrad. Que trevas temos e quais nos definem?

Como posso ser
Outra língua que
Não a que me pariu?

A materna, de terna só as vogais fechadas
Com que como escriba me assumo e uso.
Como ela a mim. Me usa e abusa.
Me sussurra e acusa
A condição de estrangeirado.

Eu. Predicado
em complemento circunstancial de lugar de adopção,
Que me vi exilado
Por querer ser mais que fado,
(Património intangível na hora da refeição)
Ou enfado na fila do supermercado
Se alguém me põe à frente o
Quão carente sou de manter a minha dignidade.

Por isso sou assim. Uma boca que escreve.
Um tempo que vive e se expõe na ponta de
Uma bic que fala ao acaso por assim se expressar,
Com a língua que tem à mão.

Acompanhado de um "café solo" nego a minha língua.
Nego Vieira e Pessoa. Não me prostro ante nenhum imperador
Porque de impérios, de quinta a sexta, estou farto.

Assim nego minha pátria. Porque é minha.
3 vezes, antes do galo que me salva, peregrino, da forca cantar.
Assim nego,
Perante Deus,
Perante Portugal.

Eu. Sujeito
E filho da puta da língua que me pariu.

20/VIII/2013

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