“Viver também – e essa meta
faço-a minha – para fazer-se. Todos se fazem, fazemo-nos, sabendo-o ou não, mas
só se se tiver consciência disso se vive de verdade, de forma activa:
colaborando com a vida em vez de se deixar levar. Criar-nos criando e não me
refiro ao trabalho obrigatório e alienante, tão incensado pelo sistema
económico para nos fazer dóceis produtores (esquecendo que no seu livro básico
o trabalho é um castigo divino), mas à criação, ao esforço espontâneo nascido
de nós mesmos, quer seja a escalar o Everest, bordar a cheio ou meter um
barquinho numa garrafa. Criar obra realmente própria, como a morte própria
desejada por Rilke, essa em que nos manifestamos inteiros: o nosso estilo, a
nossa constituição interior, as paixões do nosso sangue e dos nossos nervos.
Fazer-se, sim; mas não nos
fazemos sozinhos. Essa constituição e as paixões são influenciadas e até
condicionadas pela paisagem e a época que nos acolheram ao nascer e, sobretudo,
pelos que constantemente nos rodearam e rodeiam.”
José
Luis Sampedro, in “Monte Sinai” pp.114
e 115
[Trad.
Carlos da Veiga Ferreira]
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