Porém, o Pedro (que hoje o Santi relembrou gostar tanto de música...) escreveu por aqui um excerto de uma entrevista de Sophia de Mello Breyner sobre que as crianças deveriam decorar um poema e ser essa tarefa digna de abrir as portas, por exemplo, de uma universidade. Reconheço as boas intenções desta tradição herdada da mais erudita cultura clássica, helénica, como só Sophia nos pôde transmitir. O certo é que eu sou péssimo a decorar poemas e pouco ou nada memorizei que não fossem aliterações típicas da lírica galaico-portuguesa, das cantigas de amigo e que as albas e os ventos me conquistaram mais depressa do que o próprio texto.
A língua de um povo deve ser cuidada, deve ser polida e não deve ser apanágio de uns quantos privilegiados, a poetisa tem razão, mas eu nunca obrigaria ninguém a decorar poemas, nem a nada que não compreenda. E compreender é sentir por mais antagonismo que os poetas queiram conferir aos verbos.
Os versos a martelo podem soar bem, podem impressionar auditórios, ser brilharetes e até serem algo lúdicos para miúdos e graúdos, mas são como o vinho feito com a mesma técnica, dá para o gasto, o que não lhe confere exactamente o mesmo estatuto de vinho.
Antes afligia-me um pouco tão pouco saber de cor os grandes vates. Hoje apenas me preocupa continuar disponível para os ler, para os compreender e, se assim for possível, algo sentir...
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