Ainda me vou cruzando com a imagem da minha avó, em Varche, quase sempre ao final de tarde, a dar uns passitos pela estrada do olival. O seu cabelo branquinho, a sua bata azul, o seu caminhar lento, e em constante risco de tropeçar, fazem-me passar por ali devagar e procurar naquela figura acenar a alguém que já não está. Ainda ontem a vi, abrandei o jipe e cumprimentei-a, como de costume. Trata-se da esposa de um velho vendedor de materiais de construção da freguesia com o qual até nem simpatizo, bastante careiro, e a quem, quando nos faz falta, já nem sequer compro areia. Porém, a sua senhora, nas poucas vezes que lá fui freguês, sempre me tratou com atenção, interessada pelos meus filhos que dizia recordarem-lhe os seus netos, enquanto eu lhe omitia o quanto ela me recordava a minha avó Helena.
Frequentemente a vejo, quase sempre ao fresco ou a dar esses passitos cada vez mais incertos pelo avançar da idade. Faço questão de passar devagar, levantar o braço e lhe acenar. A amabilidade da senhora corresponde-me e esse gesto vale por duas pessoas: a senhora do cabelo branquinho, da bata azul e do caminhar lento e com uma memória de uma pessoa, que, mesmo ausente, me continua a reconfortar.
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