domingo, maio 28, 2023
Na minha solidão só entra o meu cão.
quarta-feira, maio 24, 2023
Pedro Mexia - Identidade
IDENTIDADE
A identidade, como a pele,
renova-se, perde-se de sete
em sete anos, muda no mesmo
corpo, torna diferente
a permanência humana.
A identidade é a soma
das intenções, uma foto
instantânea para um propósito
imediato que não dura.
A identidade é um equívoco
para camuflar o coração.
Pedro Mexia
Duplo Império (1999)
sábado, maio 20, 2023
"Estupidez: o fracasso da inteligência" - Crónica de Luis Leal in “Mais Alentejo”, nº 163, p.92
"Estupidez: o fracasso da inteligência" - Crónica de Luis Leal in “Mais Alentejo”, nº 163, p.92 |
"Estupidez: o fracasso da inteligência" - Crónica de Luis Leal in “Mais Alentejo”, nº 163, p.92
Estimado leitor, permita-me que lhe conte uma história. Era uma vez um menino com a mania que era cientista a brincar num quintal eborense. A experiência requeria pouco material: uma tábua, um paralelo onde apoiar a mesma e um seixo para ser lançado em efeito catapulta. Preparado o experimento, faltava a força motriz para o lançamento e eis que o puto curioso decidiu avançar com o pé direito, pondo em prática um princípio fundamental para o belicismo histórico até ficar obsoleto com a introdução da pólvora. Se Arquimedes gritou “eureka”, o pequeno acabou a chorar com a sua mãe a estancar-lhe o sangue que da testa começou a brotar. Durante anos, esta progenitora pensou que alguém apedrejara o seu filho e que este por medo o ocultara, porém, o petiz não costumava mentir e sempre lhe reconheceu que havia sido vítima do fracasso da sua própria inteligência. É óbvio que já identificou o idiota do relato e a minha mãe já aceitou a idiotice do seu filho. Não sei se foi o efeito da pedrada a mim mesmo, mas o certo é que me afastei das leis da física e fiquei fascinado pelo mundo da estupidez. Admito mesmo que, nos últimos anos, tenho investido em bibliografia (recomendo José Antonio Marina) e tenho feito trabalho de campo, onde me dedico a observar-me e os meus semelhantes, concluindo algo que pouco dista de uma máxima pessoal: A maior estupidez humana é alguém identificá-la e pensar estar isento do estatuto de estúpido.
Também me parece que há épocas mais propícias à degradação do intelecto (a história universal está repleta de exemplos) e a atual não prima por brilhantismo, o que não invalida que não seja hilariante. Estou a lembrar-me de alguns desafios acefálicos do TikTok e de declarações de dirigentes políticos, como do líder espanhol, Pedro Sánchez, ao propor não usar gravata para combater o aquecimento global. Contudo, quando deixamos de nos rir e evitamos o cinismo, devemos ter em conta que, à semelhança da física, é possível que, tal como enuncia Carlo Cipolla num pequeno ensaio, existam várias “leis fundamentais da estupidez humana”. Se tiver paciência, um pouco como a minha mãe teve para me aturar, aproveite para conhecer este autor e os seus argumentos que dividem a condição humana em quatro grandes grupos: os inteligentes, os bandidos, os crédulos e os estúpidos, sendo que as agrupações não são estanques e podem conhecer a osmose. Isto é, um bandido pode ser inteligente, um inteligente pode ser crédulo, um crédulo pode ser estúpido e um estúpido pode ser um bandido e por aí em diante. Porém, o grande problema do fracasso da inteligência, como o autor bem o reconhece, está no facto de a imensa maioria dos estúpidos (com exceção daqueles que sabem não estar isentos desta condição) desconhecerem que são imbecis ou não terem a capacidade de o reconhecer. Veja-se o caso de Donald Trump, a observação directa demonstra como este contribui decisivamente para dar maior força, incidência e eficácia à acção devastadora da estupidez.
Na vida privada, as consequências dos nossos fiascos intelectuais podem afectar os nossos seres queridos, mas, em última instância, o maior prejuízo é individual e, depois do “mal feito”, ainda existe a eventualidade de uma aprendizagem. No que concerne ao nível colectivo, devemos ter em conta que em qualquer momento, lugar e situação, lidar com indivíduos primordialmente estúpidos e/ou associar-se com este perfil de gente tende a revelar-se um erro que se paga muito caro.
De certeza que o meu caríssimo leitor não quererá associar-se a um tipo que atira pedras a si mesmo, mas foi o próprio Einstein quem nos alertou para a infinitude da idiotice (mantendo-se céptico em relação a um universo ilimitado) e Robert Musil para uma consequente brutalidade que “é a práxis da estupidez”. Eu apenas acho que devemos continuar a investigar a nossa parvoíce, a identificá-la, controlá-la e, se possível, torná-la construtiva, visto que subestimá-la alimenta uma das mais poderosas e obscuras forças a impedir que se atinja todo o nosso potencial como seres humanos, com ou sem gravata.
"Estupidez: o fracasso da inteligência" - Crónica de Luis Leal in “Mais Alentejo”, nº 163, p.92 |
quarta-feira, maio 17, 2023
"Las ocho montañas"
terça-feira, maio 16, 2023
Tasos Livaditis - Regreso de la farmacia
REGRESO DE LA FARMACIA
Sucedió sin que nunca supiera cómo – mi madre tenía
dolor de cabeza, recuerdo, y me mandaron a la farmacia;
a la vuelta, es verdad, me entretuve un poco, me burlé
de un viejo, espanté dos pájaros de una pedrada,
y en lo que viraba de nuevo la calle
ni casa ni juventud tenía ya.
Tasos Livaditis
(1922 - 1988)
(Traducción de Manuel González Rincón en Círculo de poesía)
domingo, maio 14, 2023
2-EVR 00-65
sexta-feira, maio 05, 2023
"El alma de un ciclista" de Nuno Tavares
segunda-feira, maio 01, 2023
Até sempre Constantino, quando nos virmos, espero que te lembres de mim...
Soube através do amigo Ulisses da perda de um mestre e de um ser humano que deixou marca em muitas gerações, incluído a nossa, formada no final dos anos 90 na Industrial. Tenho gratas memórias do Constantino Almeida, dos três anos que nos ensinou mais do que filosofia, e de, junto com os meus colegas, estarmos noite fora no Jardim Diana a recitar poesia... Mas, principalmente, entesouro as suas palavras quando se despediu de mim no final do secundário: “Luis, que todos os sóis e luas iluminem o teu caminho”. Hoje um desses corpos celestes extinguiu-se... apenas desejo que descanse ciente que iluminou o caminho de muita gente. Até sempre Constantino, quando nos virmos, espero que te lembres de mim...
Me enteré por mi amigo Ulisses de la pérdida de un maestro y un ser humano que marcó a muchas generaciones, incluida la nuestra, formada a finales de los 90 en la Industrial. Guardo gratos recuerdos de Constantino Almeida, de los tres años que nos enseñó más que filosofía, y de, junto a mis compañeros, pasar la noche en el Jardín Diana recitando poesía... Pero, sobre todo, atesoro sus palabras cuando se despidió de mí al terminar la secundaria: “Luis, que todos los soles y las lunas alumbren tu camino”. Hoy, uno de esos cuerpos celestes se extinguió... Solo deseo que descanse sabiendo que ha iluminado el camino de mucha gente. Hasta siempre Constantino, cuando nos veamos, espero que te acuerdes de mí…
(Foto do seu mural/de su muro de Facebook)