sábado, fevereiro 03, 2007

O futuro de ontem é hoje



Relendo este poema, pergunto-me se Ruy Belo subscreveria hoje estas suas palavras dos idos de 70 ou por aí. Como seria o poema que de certeza escreveria? Qual o desenho que fariam essas "profundas crianças"?

Na memória ficará sempre esse "aonde o puro pássaro é possível", e essas crianças a dançarem "à sombra dos plátanos".



O portugal futuro

O portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e lhe chamem elas o que lhe chamarem
portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro



1 comentário:

Luis Leal disse...

Não conhecia... profundo e simples. Como gosto. Às vezes esqueço-me de como gosto de poesia... tudo porque me tenho "afundado" nos meandros da prosa...
Muchas gracias compañero!