segunda-feira, setembro 24, 2007

Ambiguidade das situações

Quando era criança e me portava mal, era punido de forma não cometer o mesmo erro.
Ficava sem ver os desenhos animados ou mesmo sem poder jogar à bola com os amigos. O tempo do castigo era relativo, dependia do meu comportamento.
Cresci. Na minha adolescência a consciência do que estava, ou não, errado era já sabido, por isso, sempre que me comportava de forma menos correcta lá vinha o castigo! Não tinha mesada ou não podia sair (lá se ia o namoro ou os copos com os amigos) ou mesmos outras penalizações que fossem adequadas à “falta” cometida.
Enquanto fui estudante, a minha obrigação era passar de ano. Quando o fazia recebia um feedback positivo, os parabéns e um “boa, é para continuares assim, mas algumas notas podem ser melhores”. Se reprovasse, não recebia um feedback negativo, apenas ficava sem algumas regalias por ter faltado às minhas obrigações.
Acho que foi uma óptima educação a que recebi. Justa.
As repreensões ou castigos eram desagradáveis, talvez traumáticas (como se usa hoje em dia). E se o não fossem? Teria aprendido alguma ciosa? Sei que não fui castigado muitas vezes.
Não escrevo para saberem da minha vida, mas para tentar estabelecer um paralelismo.

Quando alguém comete um crime é detido. Se o delito for pequeno (como quando era criança) a penalização é proporcional, os reclusos apenas são detidos pouco tempo e só não podem ver televisão ou jogar à bola com os amigos; muito embora as prisões portuguesas tenham campo de jogos e salas de televisão (e mesmo algumas celas possuem um receptor de imagem e micro-ondas).
Sempre que o delito é grave, a pena de prisão é de um termo mais alongado e os reclusos, desgraçados não podem beber uns copos ou namorar (mesmo que tenham visitas conjugais ou saídas precárias).
No caso de crimes absolutamente horríveis os criminosos são encarcerados 25 anos e não podem obter regalias.
Mas como é dito por alguns a “mãe pátria” encarrega-se dos seus, e como mãe que é, ama os seus e é benevolente (reduz o castigo, dá uns carinhos pelo meio e pede para o pai - povo - não saber, e no final compensa o castigo com uma nota ou um brinquedo); ainda que se trate de um violador, assassino em série ou ambas em simultâneo.
Todos nós contribuímos para a regeneração destes seres que cometeram erros, assim como todos nós cometemos, e financiamos a sua reinserção social (também a estadia em regime de pensão completa) e a sua formação laboral de forma a criarmos mecânicos, carpinteiros, …
Apostar na prevenção será melhor que na correcção???
Será melhor gastar recursos a prevenir o mal ou a remedia-lo?
Devemos retirar a droga das prisões ou oferecer seringas?
Não quero ser moralista ou desumano.
Comigo a prevenção resultou! Estudei, tenho uma profissão e sou pago para a desempenhar. E mais! Quem me pagou os estudos, foram as mesmas pessoas que hoje pagam seringas para as prisões portuguesas. Os meus pais. Eu sou filho. E os outros?
Para mim os pontos de vista podem ser mesmo ambiguos!

1 comentário:

Luis Leal disse...

Que prazer é ver que o Grande G. Mendes voltou a trilhar os "senderos"!!! Uma alegria mesmo (por vários motivos, como sabes!).
É um tema efectivamente âmbiguo, que nos faz pensar e duvidar de muitos príncipios e mesmo conficções humanas. Eu quero acreditar na reabilitação, na justiça do sistema, no humanismo, pelo menos é essa a mensagem que tento passar como ser humano e profissional. Tento também agir da forma mais justa possível, uma vez que creio que só assim posso ser um elemento que promova esse valor relativo que é a justiça (pelo menos para nós ocidentais, "tugas", "nuestros hermanos" ou europeus.
Enfim, todos nós somos o que vivemos, as oportunidades que tivemos e o código de valores que nos foi inculcado...
Um grande abraço cheio desse sentimento que é a saudade!