quinta-feira, outubro 29, 2009

12º Ano Ibérico


Sempre me bati para que os portugueses não tenham o típico discurso do país pobre e subdesenvolvido que não pode contribuir com nada mais, a não ser futebol, fado e Fátima, para o mundo e, muito menos, que possa influenciar a sua vizinha aqui na península. Efectivamente, Portugal é um país médio (a vários níveis e dependendo do ponto de comparação) que tem a mania colectiva que é pequeno. Porém, a pequenez não é nada mais que uma atitude.

Pouco se sabe acerca do sistema educativo espanhol em Portugal. Muitos pensam que é muito mais avançado que o português, que os profissionais estão melhor preparados e que quem trabalha no sistema possui “uma galinha de ovos de ouro” que trocou há menos de uma década as pesetas pelo euro. Enfim, esta é a opinião de muitos e, por cá, muitas vezes opinião é sinónimo de exactidão científica.

Vamos lá tentar “esmiuçar” (como está na moda!) um pouco do sistema educativo espanhol:

1º- É tutelado pelo Ministério da Educação Espanhol, mas administrado nas regiões autónomas pelas “consejerías de educación”. Logo, o sistema está descentralizado.

2º- Para ingressar na profissão docente não há as típicas listas como em Portugal, existe sim um concurso de oposição, com várias fases e com um tribunal que permite, em teoria, o ingresso dos melhores profissionais no sistema.

3º- Em inicio de carreira um profissional em Espanha aufere um ordenado superior, mas no final da carreira são os portugueses que se encontram no topo da tabela.

4º- O ensino obrigatório são 10 anos e, de momento, até aos 16 anos, podendo-se aprovar um aluno por imperativo legal, esquecendo o expediente académico.

5º- Em Espanha, não existe a especialização docente dos cursos via ensino como existe nas universidades portuguesas. Para tentar “opositar” ou fazer parte da lista de “interinos” (para preencher as vagas existentes nos sistema educativo), basta fazer o “CAP”, uma espécie de Certificado de Aptidão Pedagógica (mas sem curso de formação de formadores) que se pode obter com uma assinatura sem nunca ter pisado o chão de uma sala de aula.

As elações que daqui podemos tirar são variadas mas eu retenho apenas uma. Os sistemas não são perfeitos e há vantagens e desvantagens de um lado e outro da fronteira. E, para quem trabalha na educação, não há relvas mais verdes no quintal de ninguém.

Mas desengane-se quem pensa que Portugal não exporta tendências educativas (para além de profissionais muito bem preparados cientifica e pedagogicamente, algo que nunca nos lembramos)!

Hoje, o ministro da educação espanhol, Ángel Gabilondo, referiu numa entrevista que se deve começar a pensar ampliar a educação obrigatória até aos 18 anos. Para consolidar a sua sugestão, recorreu ao exemplo do seu vizinho Portugal.

Pessoalmente, sou totalmente contra a ampliação da escolaridade obrigatória. O que está por detrás são unicamente cifras, números, percentagens, que tem por base relatórios PISA ou da OCDE. Aumentar os anos de estudo não é sinónimo de maior democratização do ensino, muito menos de igualdade de oportunidades, embora aparente que assim o é.

O facilitismo e a ausência de mérito no ensino em Portugal e em Espanha são evidentes, sendo muitíssimos os problemas que daí advêm. Se queremos facilitar um direito estatal, de cidadania, temos de responsabilizar, e tendo em conta que esse não é o caminho seguido, simplesmente oponho-me. Oponho-me a que a instituição escola seja cada vez mais um armazém de seres humanos “obrigados por lei”, onde o querer aprender está há muito olvidado. Será que o querer aprender, o ensino não obrigatório, é um inconveniente para um governo? Não queria entrar nessas teorias da conspiração “holliwoodescas”, mas a sociedade sempre tendeu mais para a criação de guetos do que para premiar o mérito de quem quer buscar conhecimento.

Com isto não quero ser um arauto da desgraça e espero que todas estas novas reformas sejam bastante positivas nos dois países, mas não deixo de me perguntar: como conseguiremos ensinar e educar para a adversidade, quando tudo, aparentemente, é rápido, fácil e grátis?

quarta-feira, outubro 28, 2009

"Teño un amor na montaña"

Ecos da Galiza nos acordes dos "Milladoiro" acompanham-me neste momento em que me apetecia partilhar com alguém. Na realidade, "teño o meo amor no outro lado da montaña"... Acho que o meu galego não me atraiçoou muito.
Bom serão...

terça-feira, outubro 27, 2009

Fronteiras de Alta Velocidade

O novo governo encabeçado por José Sócrates já dá que falar no outro lado da fronteira. E qual é o tema? Não sei se adivinharão? Não queria acabar com o mistério, mas tem de ser. “O TGV”! Para variar…

Pelos vistos, este é um tema recorrente nas nossas relações transfronteiriças (e na política nacional) que começa a fartar muita gente que não se revê apenas neste tema alçado como bandeira primordial para aproximar os dois países.

No meu caso, e devo dizer que reconheço vantagens para o Alentejo com o troço do TGV, acho que não devíamos pensar apenas na rede de alta velocidade em Portugal (apesar de notar que isso vai contra muitos dos interesses estabelecidos desde há muitos anos) e recordar os anteriores ramais que estiveram na base de um fortíssimo desenvolvimento do interior, desde o final do século XIX até à segunda metade do século XX.

Também opino que não devemos tornar o TGV o “cavalo de batalha” para justificar a nossa situação periférica na Europa. Quiçá o Atlântico também merece a nossa atenção. Com isto tudo, mesmo sendo eu um “iberista” (não me revejo nos argumentos astutos de Saramago, mais para vender livros na sua condição estudada de “escritor incompreendido” pelos seus compatriotas), como costumo dizer: “mais do que português, sou ibérico, como o porco!”. Esta minha comparação vai para além de independências, de repúblicas, monarquias, ou federalismos e assenta no argumento da bolota, da azinheira e dos sobreiros que tornam tão gostoso o belo do presuntinho… natural, sem interesses nem politiquices, como se quer.

E o que é que a alta velocidade tem a ver com os “cerdos” ibéricos? Não sei, apenas sei que o porco tem mais importância na economia real “da raia” que tem actualmente o TGV. No entanto, José Sócrates já se comprometeu a desenvolver a rede de alta velocidade e atribuiu a António Mendonça a pasta que era tutelada por Mário Lino. Segundo consta, trata-se de um economista de prestígio, independente e um acérrimo defensor do TGV, e não tivesse ele assinado, em Julho passado, um manifesto de apoio aos grandes investimentos públicos como motor para o desenvolvimento económico e panaceia contra a crise. Trata-se, enfim, de um gémeo siamês ideológico de Manuela Ferreira Leite.

Enquanto esperamos avanços (ou retrocessos) deste assunto, vejamos como o jornal “El Periódico Extremadura” (ver imagem), já pensa que os troços, Salamanca-Aveiro e Évora-Faro-Huelva, poderão ser uma mais-valia para a região.

Por aqui, segundo o mesmo órgão de comunicação, já se agilizam os estudos de impacto ambiental. E como nós sabemos que presa é sinónimo de perfeição, só espero que haja um apeadeiro para os “cerditos ibéricos” no meio de tanta velocidade vertiginosa…

sábado, outubro 24, 2009

Chinguetti - Mauritânia

Este pedaco de Saara foi o último sendero que percorri. Tem um nascer e um pôr do sol feitos de luz e silêncio. É bonito demais para nao ser partilhado com amigos em jeito de desafio. Cá vos aguardo.

mauritania desert

ma,mauritania desert

mauritania desert

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terça-feira, outubro 20, 2009

Eixos Patrimoniais

A rádio é, desde há algum tempo, a minha mais fiel companheira de viagem e, mais do que um hábito, tornou-se um vício que vai mais para além da melomania e que tem na informação e nas tertúlias um argumento de peso para esta minha adição. E a “rádio fórmula” espanhola privilegia bastante os espaços de tertúlia de qualidade, ao invés da rádio lusa que se apresenta, quanto a mim, muitíssimo mais desenvolvida em termos de divulgação musical. Mas como diz um amigo, isso “são pontos de vista e nada mais”.

Mas foi na rádio que eu encontrei, ou melhor dito, ouvi algo que me impressionou pela positiva e que como eborense de nascimento e “extremenho de adopção” me deixou a pensar.

Na semana passada, não sei precisar o dia em questão, uma plataforma de cidadãos da Extremadura espanhola manifestou-se a favor da inclusão de rotas de voos “low-cost” no aeroporto pacense (dada a proximidade) de Talavera la Real. Um dos argumentos que suportam a actuação desta associação de cidadãos, e que fora enunciado na reportagem radiofónica que escutei com atenção, baseia-se no “eixo patrimonial” que esta região apresenta, com dois patrimónios da UNESCO “extremenhos”, Mérida (capital da região) e Cáceres (capital da província do norte), recorrendo a outro património do “Alentejo português, a cidade de Évora”, citando, “ipsis verbis”, o oportuno interveniente.

Que já há algum tempo nos utilizamos como argumentos mútuos (alentejanos e estremenhos) e que somos mercados dependentes e cúmplices culturais, já todos o sabíamos, mas o que me deixou admirado (gosto desta palavra, recorda-me pessoas mais velhas, não sei porquê…) foi o recurso à nossa “Ebora Liberalitas Julia” para trazer para aqui próximo os autocarros do ar das “RyanAir”, “Vuelings”, ou “Easy Jets”. Sem dúvida que, para quem aqui nasceu e aqui faz a sua vida é prestigiante e, sem esquecer que a nossa cidade também tem uma vocação aérea com aeródromos e escolas de pilotagem, que ultimamente têm aparecido nas aberturas dos telejornais, e futuras, talvez já messiânicas, fábricas de aviões e componentes de um plano tecnológico de assinaturas.

Enfim, e já que esta crónica é escrita em rescaldo de autárquicas e ainda é possível constatar nos meios de comunicação regional os efeitos da pugna entre as duas principais organizações partidárias, só esperamos que caso haja do outro lado da fronteira condições para as aterragens de baixo preço que a bela Évora, “que olha os horizontes do alto” (já o dissera Torga), não olhe demasiado alto, que caia mais na realidade e veja que quem a visita necessita de coisas tão básicas que dão vitalidade económica e cultural à cidade que encontra o seu sustento principal nas pedras inertes dos seus monumentos e não nos “olhos negros e hematomas” políticos de gente que ainda não entendeu que não há vencedores, apenas uma perdedora. E vocês sabem bem a quem me refiro.

sábado, outubro 10, 2009

O'Neill e o pai


"Fossem os ossos, as sopas ou a falta de descanso, é um facto que Alexandre já saíra de casa quando se mete nas (atrasadas) aventuras surrealistas portuguesas. Uma manhã tem uma das habituais (e sempre iguais) trocas de palavras com o pai, o emproado empregado bancário José António Pereira d'Eça Infante de Lacerda O'Neill de Bulhões:
 
— Alexandre, leva o chapéu de chuva.
— Não é preciso, pai. Não chove.
— Chove. Leva o chapéu de chuva.
— Não é preciso, Pai.
— Já te disse para levares o guarda-chuva.
— Não levo o guarda-chuva e nunca mais cá apareço...
 
Esteve 16 anos sem ver o pai e passou a dividir um atelier numas águas-furtadas de um prédio antigo, na Avenida da Liberdade, com Cesariny e António Domingues. Aí se fizeram, de acordo com o amigo/visitante Cardoso Pires, múltiplas colagens colectivas, algumas das quais foram apresentadas nas primeiras exposições lisboetas dos surrealistas."
Isso é carácter, sim senhor.