segunda-feira, março 14, 2011

A 110 km/h

Nas últimas semanas temos assistido a um pouco de tudo por esse mundo fora. Uma Europa “à rasca” (termo tão português em todas as acepções da palavra), um Norte de África em revolução e um Extremo Oriente varrido por um Tsunami…
                Todos estes acontecimentos parecem justificar a escalada vertiginosa dos preços dos combustíveis que nos fazem crer que é um dado adquirido para quem vive este presente real, que às vezes assume contornos dignos do bom surrealismo. E foi a esse mesmo argumento, à maneira de dado adquirido, que o governo espanhol de José Luis Rodriguez Zapatero se agarrou para introduzir, desde o dia 7 de Março do corrente mês, o limite máximo de 110 quilómetros nas auto-estradas espanholas.
De acordo com dados oficiais do executivo “de aqui ao lado”, desacelerar dos 120km/h para os actuais 110Km/h permitirá ao reino de Espanha poupar 1560 milhões de euros por ano nas importações de petróleo e, consequentemente, reduzir uma dependência energética que permite arrecadar uns quantos milhões de euros em impostos directos e indirectos. Note-se que com esta medida as contra-ordenações podem passar a ser argumentos de protecção da economia e da natureza! A “Guardia Civil” passará a controlar o tráfico não apenas com um fundo de prevenção e dissuasão, mas também ambientalista!
                Falar de dependência energética, quer se queira ou não, é banal e apenas serve para demonstrar que a Europa (e o mundo) pouco aprendeu desde a crise do Petróleo de 1973, apesar do vocabulário das energias alternativas e renováveis já ser uma constante no nosso léxico e respectivos dicionários.
                Parece-me que esta medida é meramente um “penso rápido” mediático de tal maneira incongruente que nem vale a pena recorrer aos argumentos de que primeiro se deveria fazer cumprir os limites de 120km/h ou reduzir os actuais 100Km/h das estradas nacionais para, quem sabe, 90km/h.
                Nem imagino o número de quilómetros que terá o conjunto de infra-estruturas tipo auto-estrada (com e sem portagens) nas quais ter-se-á que proceder à mudança de sinalização do limite máximo. E tendo em conta que Espanha é quase cinco vezes maior que Portugal provavelmente será um número interessante.
Como serão substituídos os sinais? Por inteiro? Ou de maneira prática, recorrendo a um autocolante? Se for em autocolante, e já que provavelmente também será em regime de “outsourcing”, era interessante ver o trabalho adjudicado à Panini que já tem provas dadas em décadas dedicadas ao cromos! 
                Joaquin Sabina, um célebre “cantautor” e vulto incontornável da cultura pop espanhola, tem uma música cujo título é “Pisa el Acelerador” e quando penso neste tema musical e neste tema tão actual, imagino o artista ao vivo, em plena actuação, a cantar a canção na negativa “No pises el acelerador” para poupar petróleo! Seria um hino económico-ambientalista dedicado à poupança energética à base de crude!

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