sábado, fevereiro 09, 2013

Mais Drummond

 


Fotografia de Júlia Moraes, uma brasileira, para as palavras de outro brasileiro, Carlos Drummond de Andrade, do seu livro O amor natural, publicado em 1992, cinco anos depois da morte do poeta.


MULHER ANDANDO NUA PELA CASA

Mulher andando nua pela casa
envolve a gente de tamanha paz.
Não é nudez datada, provocante.
É um andar vestida de nudez,
inocência de irmã e copo d'água.

O corpo nem sequer é percebido
pelo ritmo que o leva.
Transitam curvas em estado de pureza,
dando este nome à vida: castidade.

Pêlos que fascinavam não perturbam.
Seios, nádegas (tácito armistício)
repousam de guerra. Também eu repouso.




OH MINHA SENHORA Ó MINHA SENHORA

Oh minha senhora ó minha senhora oh não se incomode senhora minha não faça isso eu lhe peço eu lhe suplico por Deus nosso redentor minha senhora não dê importância a um simples mortal vagabundo como eu que nem mereço a glória de quanto mais de... não não não minha senhora não me desabotoe a braguilha não precisa também de despir o que é isso é verdadeiramente fora de normas e eu não estou absolutamente preparado para semelhante emoção ou comoção sei lá minha senhora nem sei mais o que digo eu disse alguma coisa? sinto-me sem palavras sem fôlegos sem saliva para molhar a língua e ensaiar um discurso coeren- te na linha do desejo sinto-me desamparado do Divino Espírito Santo minha senhora eu eu eu ó minha senh...esses seios são seus ou é uma aparição e esses pêlos essas nád...tanta nudez me deixa naufragado me mata me pulveriza louvado bendito seja Deus é o fim do mundo desabando no meu fim eu eu...




1 comentário:

Luis Leal disse...

Grande Drumond!!!! Quem consegue despir-nos com palavras, leva-nos para a cama de certeza...
Um bom remédio para a dor de cabeça é o amor. Um bom remédio para o amor é a poesia...