quarta-feira, julho 25, 2018

Do Xarrama ao Guadiana

Quando se nasce próximo da margem de um rio como o Xarrama, cuja escassez água apenas humedeceu os torrões das raízes da minha infância, talvez seja normal continuar à procura de leitos com maior caudal. Fi-lo com o Sever, com o Lis, por vezes, e à distância, com o Tejo (para ser ainda mais honesto, com o «Tajo»), até assentar com mais tempo nas margens do Guadiana.
Este ano, o seu curso leva mais água do que em anos anteriores e o açude tem mais leito a ocupar o horizonte. Contudo, é impossível esconder-me que eu não desaguo aqui, que jamais serei um afluente de um rio desta envergadura. Mas trata-me bem, é amável para comigo e aceita-me a descendência. Os amigos nunca desembocam uns nos outros, correm paralelos, pulem pedras, estacam cursos em diques, sendo capazes de rebentar barragens para encontrarem o conforto de uma amizade sulcada na plenitude de um mar. Eu, vegetação anárquica à beira dum Xarrama, para além da Senhora da Saúde, no bairro de Santa Luzia, encontro o meu amigo Guadiana tanto aqui, na calma de casa, como num oceano de ondas atlânticas.

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