Já por aqui escrevi uma vez que o meu filho arranjava o mundo, colava os seus pedaços, com fita-cola. Com os anos, já vai usando fita isoladora e fita americana, mas passou o legado ao irmão mais novo que hoje nos gastou um rolo inteiro em brinquedos, recortes, desenhos...
O dia finda e a fita-cola não o arranjou. Não uniu essa ponta solta da folha, não anexou nenhuma nota, cartão de visita, nem sequer um autocolante escasso de cola.
O dia finda com eles na cama e comigo a pensar que não os protegerei deste mundo imune à unificadora fita-cola. Talvez na memória lhe fique o material de escritório da infância arrumado, com um quadro de cortiça de momentos e pessoas memoráveis. Quiçá entre papéis, horários, desenhos, posteres e «post-its», um bocadinho de fita-cola segure, com firmeza, a fotografia de uma amiga do bairro, como a da Sara Safara, de quem hoje me chegou uma triste notícia.
Olho para a sua foto e vejo que os restos desta minha fita-cola, barata e pouco resistente, longe de consertar mundos, nos vai mantendo pendurados nesse placard precário que é a Nossa Sr.a da Saúde e foi a nossa juventude.
(Até qualquer dia amiga Sara. Viverás sempre ao pé do Europa.)
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