Saímos, pela primeira vez em meses, para pernoitar fora de casa. Fazemo-lo para recuperar um pouco do ar livre ao que sempre estivemos habituados antes desta nova era em que a máscara, literalmente, conquistou o nosso rosto. Eu trago-a no bolso e tento pô-la com a mesma frequência que punha outras no passado, isto é, apenas quando é estritamente necessário.
Evitar a multidão ajuda. Ser-se capaz de se ser plural em solidão, também. Por isso, subimos até à «Ermida de San Blas» e, numa espécie varanda raiana, contemplámos como as fronteiras não necessitam ser apagadas se o olhar não as desenhar.
Muito se tem falado e escrito sobre esta nova era. Muitos referem-se a ela com termos que tendem a irritar-me de tão descaradamente oportunistas se declararem. Evito dizê-los para não fazerem parte do meu vocabulário, nem da minha expressividade idiomática. Faço-o para impedir que saiam de mim para o mundo exterior que, para além da doença e das alterações climáticas (já esquecidas, vá lá saber-se porquê!), está a contagiar-se pela acefalia de expressões como «distanciamento social», quando é físico, ou «nova normalidade», esse paradoxo já enquistado em tudo quanto é meio.
Enfim, eis-me aqui a anotar o dia, depois de haver criticado, em conversa com um amigo, a quantidade de «diários destes dias». Não fui particularmente bonzinho e, no meio da minha hipocrisia «diarística» bem à frente de qualquer olhos leitores, classifiquei essas entradas (quase todas acompanhadas de selfie), de vazias dada a falta de «distanciamento» entre o «eu» e o «momento».
O meu presente é de perplexidade. Felizmente, já posso sair à rua, deslocar-me dentro da província e escrever à sombra desta varanda de uma casa rural de Albuquerque.
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