De acordo com alguma imprensa do nosso país, o Presidente do Governo de Espanha, José Luís Zapatero, que governa um país cinco vezes maior do que Portugal, aufere menos vinte mil euros do que o seu congénere José Sócrates (já com os 10% de corte previsto pelo OE de 2011).
O que estará na origem desta diferença de soldos? Serão as ajudas de custo e representação? Há quem defenda que sim. Terá algo que ver com habilitações académicas? Não sei. Zapatero estudou na Universidade de León, Sócrates na extinta Universidade Independente. E o que justifica estes vinte mil euros? Perguntar-se-ão como eu.
Tenho um grande amigo, homem sábio, que me explicou o porquê e contra factos não há argumentos!
Tudo reside no direito à sesta! Zapatero pode dar uma “cabeçada” na almofada durante a tarde, enquanto que o pobre Sócrates lá tem de “espertar” à força da cafeína das bicas do bar de S. Bento.
Sinceramente, preferiria a sesta a uns míseros euros. É como um recarregar de pilhas para uma tarde que se pode enveredar por caminhos sinuosos de debates e aprovações de orçamentos.
Em Espanha, esta “excepção tradicional”, aparece, pela primeira vez, no século XIII, em 1220, num documento redigido já em castelhano. “Siesta” é a adaptação da sexta hora romana que correspondia ao meio-dia, típica hora quente, de quebra de energia na qual resulta oportuno mergulhar um pouco no sono.
No entanto, esta ideia de sesta associada ao calor, não é apanágio exclusivo dos “nuestros hermanos”, existindo, quase como uma instituição, em muitos países hispano-americanos, Itália, Grécia e, apesar de José Sócrates não usufruir desse direito, também em Portugal, em especial no nosso Alentejo.
Longe de mim associar sesta a preguiça. Muito menos preguiça a políticos, mas foi no âmbito da política que “esta instituição”, o “partido do João Pestana” chamar-lhe-ia, teve grandes detractores e favorecedores. Remeto-vos para o ano de 1966, quando o Governo do Chile decretou, de maneira oficial e peremptória, a supressão da relaxante sesta, apelidando este de fenómeno anti-social que choca com a ideia de produtividade.
Por outro lado, há quem defenda que é mais importante o trabalho de qualidade do que em quantidade, algo que os defensores da sesta argumentam com paixão. Há, mesmo, um autor alemão que justifica a sesta recorrendo à natureza, talvez a natureza mais privilegiada, pois está no topo dos predadores e não há nada acima dele na cadeia alimentar, o leão. Segundo V.B. Dröscher, o rei da selva é o que mais dorme: vinte horas diárias! Para este animal não há preocupações de género, já que, nas restantes quatro, faz o que lhe apetece, uma vez que são as usas fêmeas as que cuidam de buscar alimento para todos.
Não vou mentir, para mim a sesta, longe de ser anti-social, pouco produtiva ou sinónimo de preguiçosos, é uma necessidade! Até Winston Churchill o atestou, durante toda a vida, com a sua reconfortante e reparadora “cabeçadita” no travesseiro, para grande espanto dos circunspectos ingleses!
Não sei se Zapatero tem uma divisão especial para o efeito na Moncloa, muito menos se o direito à sesta vem descriminado no seu recibo de vencimento, mas nestes tempos de crise parece-me que tem abdicado deste tão tradicional descanso. Por sua vez, José Sócrates, com um semblante cada vez mais pesado, à base de café, merece o direito à sesta para poder trabalhar menos, mas melhor. Note-se que também se pode combater o défice a dormir, poupam-se 20.000€!
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